Navio vapor da Companhia de Navegação e Transportes do Amazonas (1852), do Barão de Mauá. Singrando o rio Madeira durante a "política chinesa" do Império do Brasil (1822-1889) a fim de fechar o rio Amazonas à cobiça estrangeira. Todavia, endividado perante a Inglaterra para sustentar a guerra no Paraguai (1864 -1870), o Império brasileiro viu-se obrigado a ceder às pressões dos Estados Unidos, Inglaterra e França e abrir o Amazonas em 1867, antecedendo o "boom" da Borracha que acabou na crise global de 1929. Levando inclusive ao cultivo da Hevea brasiliesis para a colônia inglesa do Ceilão (Sri Lanka), no Sudeste Asiático.
"... neste dia se acabou de conquistar o Estado do Maranhão, porque com os nheengaíbas por inimigos, seria o Pará de qualquer nação estrangeira que se confederasse com eles; e com os nheengaíbas por vassalos e por amigos, fica o Pará seguro, e impenetrável a todo o poder estranho."
Padre Antonio Vieira, Carta para El-Rei Nosso Senhor, 11/02/1660.
capela de São Francisco de Borja,
fazenda Malato, antiga São Francisco Xavier,
primeira sesmaria dos Jesuítas na ilha do Marajó.
A gente não pode querer converter acionistas das multinacionais de commodities, por bem ou por mal, em candidatos a beatos. Todavia, uma empresa com sede na Holanda, como a LDC, que investe na Amazônia e compra a primeira fazenda dos Jesuítas na grande ilha do Marajó; deve informar este fato relevante a seus acionistas e clientes para que eles saibam que poderão colaborar na realização dos ODS da Agenda 2030 Marajó. Mas, se nem mesmos os potenciais beneficiários nada souberem sobres estas coisas? E os senhores representantes do povo e gestores públicos saberão por acaso?
Eu já nem sei mais se vale a pena falar de novo sobre a história dos Jesuítas na ilha do Marajó. Para quê? Para dizer que o Papa Francisco além de argentino é o primeiro jesuíta no trono do Pescador? Mas, Jesus Cristo, São Pedro, São Paulo e os mais discípulos cristãos primitivos eram judeus... E se os donos da Louis Dreyfus Company (LDC), de origem judaica francesa; quisessem um bom motivo para marketing socioambiental sustentável na Amazônia? Que eles fariam da notícia histórica da amizade entre o rabino português da comunidade de Amsterdã (Holanda) Menassé ben Israel (aliás Manuel Soeiro), nascido na ilha da Madeira (Portugal) e o famoso padre António Vieira, missionário na Amazônia e autor da célebre carta secreta ao bispo do Japão, denominada "As Esperanças de Portugal", escrita em viagem a Cametá?
O curioso é que Vieira caiu em desgraça ao defender o retorno dos judeus expulsos de Portugal e por apoiar como outros jesuítas a tese de Menassé ben Israel, na obra "As esperanças de Israel", que dizia ser os índios americanos descendentes das tribos perdidas do Cativeiro da Babilônia. Uma bela encrenca que custou ao "payaçu" dos índios condenação por "heresia judaizante" proferida pelo tribunal da Inquisição.
Ora, se os descendentes dos Nheengaíbas do século XVII que são os cabocos marajoaras do século XXI, em vez de analfabetos, soubessem história; em vez de beijar as mãos de quem lhes oferece um prato de lentilhas e migalhas de pão que o diabo amassou; iriam de fato reclamar direitos que nunca tiveram. Por isto, saber ler e escrever pode ser perigoso numa parte sensível do "celeiro do mundo" como o delta-estuário do maior rio do mundo. Mas, infelizmente, são raros cabocos que aprendem a verdadeira história do Marajó.
Não quero ser pessimista a respeito da compra da histórica fazenda Malato, em Ponta de Pedras, em face de Vila do Conde, pela empresa LDC, para construir porto de transbordo de grãos vindos em balsas de Mato Grosso para exportação a China, segundo difusas notícias que circulam na rede.
Até agora, temos mais especulações que informações fidedignas. Embrulhados no mito da primeira noite do mundo, nós da Criaturada não sabemos direito a história do Malato e muito menos da LDC. Oxalá os projetistas do empreendimento da multinacional holandesa no Marajó tenham grandeza de perceber que não estão botando as mãos num espaço amazônico vazio. Na verdade, com o histórico que a Louis Dreyfys Company (LDC) tem, aqui no Marajó ela terá oportunidade incomparável para abrilhantar sua imagem de responsabilidade social e ecológica compatível com a fama mundial da Holanda.
Com medo de que deste casamento entre a velha multinacional holandesa e o Marajó da cultura indígena milenar; não se acabe tendo, exclusivamente, um trocadilho infame dizendo que LDC quer dizer Lucro Dos Compradores. Ou, pior, Logro Dos Coitadinhos... A fazenda Malato tem longa história que vai se enraizar na guerra civil e genocídio que se chama Cabanagem (1835-1840) e, mais longe, no longínquo passado da comunidade ribeirinha local do Araraiana ("povo arara", em Aruak), do Urinduba, Bacabal com seu quilombo e adjacências até o Paricatuba no romance "Marajó" - o primeiro romance sociológico brasileiro, segundo Vicente Salles - de Dalcídio Jurandir e São Miguel com seu provável passado oriundo de casais dos Açores, um patrimônio histórico e natural cuja memória a gente não lembra mais do que a história oral contada por alguns de nossos avós.
A capela de São Francisco, por exemplo, com seu passado memorial daria base a belo ecomuseu ou museu comunitário fora de série integrado à escola de ensino integral no sistema municipal e estadual de educação. Os felizes compradores da fazenda Malato farão bom negócio, se além dos sócios brasileiros e estrangeiros do empreendimento se aconselharem com consultores da Mudança Climática junto ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD. O PNUD já atua na cadeia produtiva do açaí no município de Afuá. E a LDC já é parceira do PNUMA, programa da ONU para o meio ambiente e negócios sustentáveis, que poderia perfeitamente ser interlocutor da Criaturada (populações tradicionais) articulando-a à Unicef e UNESCO no intercâmbio do Marajó como um todo em interface com o sistema da ONU e do governo federal do Brasil.
Nós não podemos ter medo de falar, gentilmente é claro; mas com firmeza e sem complexo de inferioridade, com os grandes patrões "brancos" da globalização. Nós somos, em carne e osso, a população de mais de meio milhão de habitantes do maior arquipélago fluviomarinho do planeta. Somos nós a humanidade da Área de Proteção Ambiental do Arquipélago do Marajó (APA-Marajó), não só a terra nua, as águas, árvores, animais e seres encantados que nela existem... Tudo isto que nossa elite bocó latifundiária sempre pôs por terra, achando que uma APA ou fosse lá o que fosse em sentido socioambiental iria "engessar" o progresso. Tanto não engessa nem engessou, que o "Progresso" S/A está chegando a galope e trazendo banzeiro pelas beiras.
Aliás é preciso refrescar a memória dos inimigos do Meio Ambiente de que o Mato Grosso faz parte do Pantanal. E o Marajó é o Pantanal paraense, cuja APA merece ser declarada reserva da biosfera pelo MaB / UNESCO tal qual a Reserva da Biosfera do Pantanal!
Os cabocos não conhecem a tal de LDC, em compensação a LDC não conhece os tais cabocos: talvez a multinacional agora dona do Malato tenha contratado consultor certo para escolha hidrogeográfica do porto requerido, em águas profundas e abrigadas do delta-estuário do Amazonas. Mas não tanto no que diz a respeito à verdadeira história dos confrades jesuítas do Papa Francisco na construção territorial e cultural do Marajó. A joia da coroa do Grão-Pará (Amazônia colonial portuguesa). Com certeza, esta antiga coroa lusa está sob atenção do português Antônio Guterres, que conhece bem a China das negociações para Portugal devolver a colônia portuguesa de Cantão, e vem de ser eleito Secretário-Geral da ONU; grande interessado na Agenda 2030, com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), sobretudo com referência a África, que não nos é estranha de nenhuma maneira.
Com ou sem LDC a servir de ponte para a expertise batava vir a se interessar pelos "Países Baixos" do trópico úmido sul-americano, que é a nossa Amazônia Marajoara; é importante criar a expertise amazônida, quanto antes, mediante reconfiguração da cooperação entre universidades e entidades nacionais de pesquisa. Com exemplo na revitalização de rios e canais naturais de navegação da Amazônia. Eu penso nas bacias do Arari, Anajás e Arumã que, antigamente, fizeram a Veneza marajoara e guardaram em segredo a civilização pré-colombiana até bem mais que os fins do Século das Luzes.
Acima, na gravura do século XVIII, Vieira embarca à força para sair do Maranhão. O jesuíta se interessava por assuntos espinhosos, o que lhe rendeu problemas na região. (Fundação Biblioteca Nacional)
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