A defesa dos Direitos Humanos das comunidades tradicionais retratadas na obra literária do romancista da Amazônia, Dalcídio Jurandir (Ponta de Pedras, 10/01/1909 - Rio de Janeiro, 16/06/1979) e das atuais populações indígenas, afrodescendentes e ribeirinhas cabocas.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2017
A História serve pra quê?
"E é admirável a propriedade desta diferença, porque em toda aquela terra, em que os rios são infinitos, e os maiores, e mais caudalosos do mundo, quase todos os campos estão alagados e cobertos de água doce, não se vendo em muitas jornadas, mais que bosques, palmares e arvoredos altíssimos, todos com as raízes e troncos metidos na água; sendo raríssimos os lugares por espaço de cento, duzentas e mais léguas, em que se possa tomar porto, navegando-se sempre por entre árvores espessíssimas de uma e outra parte, por ruas, travessas e praças de água, que a natureza deixou descobertas e desempedidas do arvoredo. E posto que estes alagadiços sejam ordinários em toda aquela costa, vê-se este destroço e roubo, que os rios fizeram à terra, muito mais particularmente naquele vastíssimo Arquipélago do rio chamado Orelhana e agora das Amazonas..."
(História do Futuro, Padre Antonio Vieira, Lisboa 1718, Belém: SECULT, 1998, p. 301)
Primeiramente, o "vastíssimo Arquipélago" de que, há 350 anos, o payaçu dos índios falou nas páginas barrocas da profética História do Futuro, é de fato o maior arquipélago fluviomarinho do planeta (chamado na historiografia colonial ilha dos Nheengaíbas, ilha dos Aruans, Ilha Grande de Joanes, ilha do Marajó, em tempo pré-colombiano dito Analau Yohynkaku em língua aruã) do fim da história neocolonial da Amazônia.
O arquipélago do Marajó situado no delta-estuário do rio Amazonas é um mundo com potencial de Países Baixos dos trópicos: foi aí que nasceu a ecocivilização amazônica. E vocês sabem que, comparada a outras mais velhas, uma jovem civilização do Trópico Úmido de pouco mais de mil anos é uma criança que ainda tem muito para crescer. Para que isto aconteça, urge a gente marajoara se descolonizar.
A Amazônia Marajoara, formada de uma parte insular e parte continental bem definidas, tem mais ou menos duas mil ilhas, grandes e pequenas, mais a rica microrregião continental de Portel, totalizando 104 mil quilômetros quadrados de superfície. Este antigo espaço territorial abriga hoje mais de 500 "aldeias" (comunidades locais), 16 municípios com suas respectivas cidades; onde algo como 600 mil marajoaras se acham no mundo e revelam potencial geopolítico de futuro estado amazônico brasileiro. Ou até de país independente, se assim as condições históricas e políticas regionais ensejarem no porvir; à semelhança de São Tomé e Príncipe, Timor Leste ou Cabo Verde este país constituído por dez ilhas somando cerca de 4.000 mil quilômetros quadrados e tendo menos de 500 mil habitantes, membro da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
A história da ilha da Madeira e região autônoma dos Açores, em Portugal, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe tem contributo fundamental na colonização do Maranhão e Grão-Pará: além de escravos e colonos com seus hábitos, costumes e sangue que se mesclaram à população mestiça paraense em geral e marajoara em particular, foi o gado vacum e o cavalo cabo-verdiano que inauguraram as fazenda da ilha do Marajó.
Seria bom para a "humanidade filha da animalidade" (Edgar Morin) que a História sirva para construir a paz. "A Geografia serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra" (Yves Lacoste). A geografia da grande nação indígena Tupinambá, por exemplo, fez a guerra antropofágica em demanda da mítica Yby marãey (Terra sem mal) desde Piratininga (São Paulo) até as nascentes do Paraná-Uaçu (Amazonas), passando pela Paraíba e a Tapuya tetama (terra Tapuia, Pará).
A religião dos Tupinambás era a vingança (segundo Florestan Fernandes). Para este povo original brasileiro, disse o antropólogo francês Pierre Clastres, "se a guerra não existisse era preciso inventar"... Nossa herança bárbara entre outras bárbaras heranças nossas e do resto do mundo. Quem nunca tiver inventado uma estória para dar começo a uma guerra sem pé nem cabeça, que atire a primeira flecha.
Dito isto, uma nuvem de flechas taparia a luz do sol sobre a Terra de infinitos males. E o fim da História iria além da invenção da Bomba Atômica. A ironia da história Tupinambá - nosso famoso Bom Selvagem conquistador do rio das Amazonas e que levou ao velho mundo a sugestão da Revolução Francesa de 1789, segundo os filósofos Montaigne e Rousseau - é que os profetas caraíbas queriam, acima de tudo, o direito à Preguiça com sombra e água fresca para poder dormir e sonhar.
Sonhar com a utopia selvagem daquele lugar que habita a alma do brasileiro: Onde não há fome, trabalho escravo, doenças, velhice e morte... Pensando bem, pode-se dizer que os profetas da Terra sem mal sonharam com a Agenda 2030 da ONU avant la lettre... Mas, a contradição, como tudo na vida, está em que para conquistar o paraíso carecia fazer a guerra. Aí a conquista virava um inferno...
Dom Sebastião foi a guerra no Marrocos e morreu, ressuscitou na pele de Dom João IV, pelas trovas poderosas do poeta sapateiro Bandarra. Com a morte de Dom João IV, o prodígio do poeta de Trancoso foi invocado, em vão, pelo Padre Antônio Vieira que tentou ressuscitar o rei de Portugal mediante a utopia evangelizadora e ecumênica do Quinto Império do mundo.
Porém, sem teologias complicadas, proclamas e trombetas a morte de Dom Sebastião deu nascimento em paz no mar de Pirabas ao singelo mito do Rei Sabá no berço natural da religião afro-amazônica dos pescadores do Salgado. Anchieta com a graça do divino Espírito Santo já havia convertido, nas bandas do Sul, a bárbara antropofagia em sagrada eucaristia do Coração de Jesus.
Se isto não é milagre canônico, é quase. Considerando as circunstâncias de tempo e lugar. Pois deste modo arriscadíssimo e improvável sob todos pontos de vista Deus naturalizou-se brasileiro... "Fizemos Cristo nascer na Bahia ou em Belém do Pará" (Oswald de Andrade, Manifesto Antropofágico).
domingo, 19 de fevereiro de 2017
Nheengaíbas do Século XXI
Navio vapor da Companhia de Navegação e Transportes do Amazonas (1852), do Barão de Mauá. Singrando o rio Madeira durante a "política chinesa" do Império do Brasil (1822-1889) a fim de fechar o rio Amazonas à cobiça estrangeira. Todavia, endividado perante a Inglaterra para sustentar a guerra no Paraguai (1864 -1870), o Império brasileiro viu-se obrigado a ceder às pressões dos Estados Unidos, Inglaterra e França e abrir o Amazonas em 1867, antecedendo o "boom" da Borracha que acabou na crise global de 1929. Levando inclusive ao cultivo da Hevea brasiliesis para a colônia inglesa do Ceilão (Sri Lanka), no Sudeste Asiático.
"... neste dia se acabou de conquistar o Estado do Maranhão, porque com os nheengaíbas por inimigos, seria o Pará de qualquer nação estrangeira que se confederasse com eles; e com os nheengaíbas por vassalos e por amigos, fica o Pará seguro, e impenetrável a todo o poder estranho."
Padre Antonio Vieira, Carta para El-Rei Nosso Senhor, 11/02/1660.
capela de São Francisco de Borja,
fazenda Malato, antiga São Francisco Xavier,
primeira sesmaria dos Jesuítas na ilha do Marajó.
A gente não pode querer converter acionistas das multinacionais de commodities, por bem ou por mal, em candidatos a beatos. Todavia, uma empresa com sede na Holanda, como a LDC, que investe na Amazônia e compra a primeira fazenda dos Jesuítas na grande ilha do Marajó; deve informar este fato relevante a seus acionistas e clientes para que eles saibam que poderão colaborar na realização dos ODS da Agenda 2030 Marajó. Mas, se nem mesmos os potenciais beneficiários nada souberem sobres estas coisas? E os senhores representantes do povo e gestores públicos saberão por acaso?
Eu já nem sei mais se vale a pena falar de novo sobre a história dos Jesuítas na ilha do Marajó. Para quê? Para dizer que o Papa Francisco além de argentino é o primeiro jesuíta no trono do Pescador? Mas, Jesus Cristo, São Pedro, São Paulo e os mais discípulos cristãos primitivos eram judeus... E se os donos da Louis Dreyfus Company (LDC), de origem judaica francesa; quisessem um bom motivo para marketing socioambiental sustentável na Amazônia? Que eles fariam da notícia histórica da amizade entre o rabino português da comunidade de Amsterdã (Holanda) Menassé ben Israel (aliás Manuel Soeiro), nascido na ilha da Madeira (Portugal) e o famoso padre António Vieira, missionário na Amazônia e autor da célebre carta secreta ao bispo do Japão, denominada "As Esperanças de Portugal", escrita em viagem a Cametá?
O curioso é que Vieira caiu em desgraça ao defender o retorno dos judeus expulsos de Portugal e por apoiar como outros jesuítas a tese de Menassé ben Israel, na obra "As esperanças de Israel", que dizia ser os índios americanos descendentes das tribos perdidas do Cativeiro da Babilônia. Uma bela encrenca que custou ao "payaçu" dos índios condenação por "heresia judaizante" proferida pelo tribunal da Inquisição.
Ora, se os descendentes dos Nheengaíbas do século XVII que são os cabocos marajoaras do século XXI, em vez de analfabetos, soubessem história; em vez de beijar as mãos de quem lhes oferece um prato de lentilhas e migalhas de pão que o diabo amassou; iriam de fato reclamar direitos que nunca tiveram. Por isto, saber ler e escrever pode ser perigoso numa parte sensível do "celeiro do mundo" como o delta-estuário do maior rio do mundo. Mas, infelizmente, são raros cabocos que aprendem a verdadeira história do Marajó.
Não quero ser pessimista a respeito da compra da histórica fazenda Malato, em Ponta de Pedras, em face de Vila do Conde, pela empresa LDC, para construir porto de transbordo de grãos vindos em balsas de Mato Grosso para exportação a China, segundo difusas notícias que circulam na rede.
Até agora, temos mais especulações que informações fidedignas. Embrulhados no mito da primeira noite do mundo, nós da Criaturada não sabemos direito a história do Malato e muito menos da LDC. Oxalá os projetistas do empreendimento da multinacional holandesa no Marajó tenham grandeza de perceber que não estão botando as mãos num espaço amazônico vazio. Na verdade, com o histórico que a Louis Dreyfys Company (LDC) tem, aqui no Marajó ela terá oportunidade incomparável para abrilhantar sua imagem de responsabilidade social e ecológica compatível com a fama mundial da Holanda.
Com medo de que deste casamento entre a velha multinacional holandesa e o Marajó da cultura indígena milenar; não se acabe tendo, exclusivamente, um trocadilho infame dizendo que LDC quer dizer Lucro Dos Compradores. Ou, pior, Logro Dos Coitadinhos... A fazenda Malato tem longa história que vai se enraizar na guerra civil e genocídio que se chama Cabanagem (1835-1840) e, mais longe, no longínquo passado da comunidade ribeirinha local do Araraiana ("povo arara", em Aruak), do Urinduba, Bacabal com seu quilombo e adjacências até o Paricatuba no romance "Marajó" - o primeiro romance sociológico brasileiro, segundo Vicente Salles - de Dalcídio Jurandir e São Miguel com seu provável passado oriundo de casais dos Açores, um patrimônio histórico e natural cuja memória a gente não lembra mais do que a história oral contada por alguns de nossos avós.
A capela de São Francisco, por exemplo, com seu passado memorial daria base a belo ecomuseu ou museu comunitário fora de série integrado à escola de ensino integral no sistema municipal e estadual de educação. Os felizes compradores da fazenda Malato farão bom negócio, se além dos sócios brasileiros e estrangeiros do empreendimento se aconselharem com consultores da Mudança Climática junto ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD. O PNUD já atua na cadeia produtiva do açaí no município de Afuá. E a LDC já é parceira do PNUMA, programa da ONU para o meio ambiente e negócios sustentáveis, que poderia perfeitamente ser interlocutor da Criaturada (populações tradicionais) articulando-a à Unicef e UNESCO no intercâmbio do Marajó como um todo em interface com o sistema da ONU e do governo federal do Brasil.
Nós não podemos ter medo de falar, gentilmente é claro; mas com firmeza e sem complexo de inferioridade, com os grandes patrões "brancos" da globalização. Nós somos, em carne e osso, a população de mais de meio milhão de habitantes do maior arquipélago fluviomarinho do planeta. Somos nós a humanidade da Área de Proteção Ambiental do Arquipélago do Marajó (APA-Marajó), não só a terra nua, as águas, árvores, animais e seres encantados que nela existem... Tudo isto que nossa elite bocó latifundiária sempre pôs por terra, achando que uma APA ou fosse lá o que fosse em sentido socioambiental iria "engessar" o progresso. Tanto não engessa nem engessou, que o "Progresso" S/A está chegando a galope e trazendo banzeiro pelas beiras.
Aliás é preciso refrescar a memória dos inimigos do Meio Ambiente de que o Mato Grosso faz parte do Pantanal. E o Marajó é o Pantanal paraense, cuja APA merece ser declarada reserva da biosfera pelo MaB / UNESCO tal qual a Reserva da Biosfera do Pantanal!
Os cabocos não conhecem a tal de LDC, em compensação a LDC não conhece os tais cabocos: talvez a multinacional agora dona do Malato tenha contratado consultor certo para escolha hidrogeográfica do porto requerido, em águas profundas e abrigadas do delta-estuário do Amazonas. Mas não tanto no que diz a respeito à verdadeira história dos confrades jesuítas do Papa Francisco na construção territorial e cultural do Marajó. A joia da coroa do Grão-Pará (Amazônia colonial portuguesa). Com certeza, esta antiga coroa lusa está sob atenção do português Antônio Guterres, que conhece bem a China das negociações para Portugal devolver a colônia portuguesa de Cantão, e vem de ser eleito Secretário-Geral da ONU; grande interessado na Agenda 2030, com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), sobretudo com referência a África, que não nos é estranha de nenhuma maneira.
Com ou sem LDC a servir de ponte para a expertise batava vir a se interessar pelos "Países Baixos" do trópico úmido sul-americano, que é a nossa Amazônia Marajoara; é importante criar a expertise amazônida, quanto antes, mediante reconfiguração da cooperação entre universidades e entidades nacionais de pesquisa. Com exemplo na revitalização de rios e canais naturais de navegação da Amazônia. Eu penso nas bacias do Arari, Anajás e Arumã que, antigamente, fizeram a Veneza marajoara e guardaram em segredo a civilização pré-colombiana até bem mais que os fins do Século das Luzes.
Acima, na gravura do século XVIII, Vieira embarca à força para sair do Maranhão. O jesuíta se interessava por assuntos espinhosos, o que lhe rendeu problemas na região. (Fundação Biblioteca Nacional)
domingo, 12 de fevereiro de 2017
lembranças do GDM em busca de bom futuro para a Criaturada grande de Dalcídio.
TODOS JUNTOS NA MESMA CANOA
Já dizia o líder do Grupo em Defesa do Marajó (GDM), Theodomiro Teixeira de Azevedo, "o que não vem pelo amor, vem pela dor"... Desde a anistia de 1840 sobre os mortos e as ruínas da Cabanagem (1835-1840) - a violentíssima guerra civil na Amazônia-, que o Império do Brasil (1821-1889) e depois a República teve tempo mais que suficiente para corrigir as remotas causas da insurreição dos excluídos. Karl Marx (1818-1883) constatou que a história acontece como tragédia e se repete como farsa.
No passado distante a Câmara de Belém, em 1656, pediu a "guerra justa" (cativeiro e extinção) contra os Nheengaíbas [índios do Marajó] acusados de pirataria contra canoas de "drogas do sertão" (extração florestal) e "tropas de resgate" (eufemismo para caça aos índios para servir de escravo dito "negro da terra"). Autorizada para o governador do Maranhão e Grão Pará, André Vidal de Negreiros (1606-1680) executar, foi adiada pela enérgica ação do superior das Missões, padre Antônio Vieira, contra a guerra "impossível de vencer".
A guerra foi definitivamente afastada pela paz de Mapuá de 1659 entre os Nheengaíbas, portugueses e "índios cristãos" (tupinambás) aliados a estes, sobre as fantásticas tratativas e celebração inverossímil destas pazes Vieira escreveu a carta de 29 de novembro de 1659, à regente dona Luísa de Gusmão. Menos fantasioso e duradouro da referida pacificação dos rebeldes ficou sendo a fundação das aldeias missionárias de Aricará (Melgaço) e Arucará (Portel) para onde Vieira levou nheengaíbas de Mapuá.
Privados da mina de negros da terra que queriam conquistar, os colonos do Pará expulsaram com violência os padres, em 1661. E a coroa esquecida dos esforços jesuítas para pacificar aquela ilha rebelde esbulhou os direitos dos índios, conforme a lei de 1655 de abolição do cativeiro dos índios. Que foi doada ao secretário de estado Antônio de Sousa de Macedo, em 1665, para ser a capitania hereditária da Ilha Grande de Joanes (1665-1757). No mesmo tempo, os desiludidos Nheengaíbas sem mais nenhum defensor, Vieira lutava sozinho para se defender no tribunal da Inquisição onde foi condenado por heresia judaizante.
Claro está, que os índios do Marajó entraram na história da Amazônia como marisco entre o mar e o rochedo. Mas, os nheengaíbas de outrora acusados de pirataria e lesados pela doação da capitania de Joanes, não baixaram a guarda impedindo de fato o inicio da colonização da ilha do Marajó durante 64 após a fundação de Belém do Para. No ano de 1723, o cacique dos Aruã e Mexiana chamado Guamá levava ainda perigo às ilhargas da Cidade dos portugueses, acampando por largo tempo no rio que tem seu nome (ver Armando Levy Cardoso, na obra Toponímia Brasílica, sobre o topônimo Guamá).
A universidade brasileira ainda não fez a competente leitura do papel histórico dos povos indígenas na invenção da Amazônia. Sem arcos e remos tupinambás, sobretudo, sem o mito da Yby marãey (terra sem mal); não se poderia ter conquistado o grandíssimo rio das Amazonas. Entretanto, a pergunta que não quer calar: qual a razão dos caciques Nheengaíbas (na verdade as diversas etnias Nuaruaques da babel de línguas "dificultosas") ter feito adesão à pobre e belicosa colônia de Portugal entregue aos cariuás (malvados), apoiada pelo inimigo hereditário dos índios das ilhas; em prejuízo da velha amizade e do frutuoso comércio com os panaquiris (holandeses)?
A provável resposta se acha nas ilhas do Caribe, onde o Pará tem seu velho porto (histórico) de mar. Na antropologia Aruak e na história oral das migrações através da ilha de Trinidad para a Terra Firme (continente) em busca do Arapari (pais do Cruzeiro do Sul). Nos ritos mágicos e religiosos afro-amazônicos.
Comungando sentimentos profundos da Criaturada grande de Dalcídio, o alternativo GDM realizou o décimo e último Encontro em Defesa do Marajó, entre os dias 28 -30/04/1995, em Belém e Ponta de Pedras, onde foi assinada a Carta do Marajó-Açu contendo a súmula de reivindicações populares em saúde, educação, cultura e meio ambiente passando daquela data em diante a ser guia da militância marajoara durante os vinte anos de vida comunitária do GDM.
Quatro anos mais tarde, os Bispos Católicos do Marajó, Dom Angelo Rivatto S.J. e Dom Frei José Luís Azcona OSA publicaram o documento eclesial de alarme sobre a pobreza extrema do povo marajoara, cuja apresentação em nome do GDM, este caboco que vos fala teve a honra de subscrever.
Chegou-se a 2003, com Lula lá e a esperança que venceu o medo. A 7 de setembro de 2003, o Museu do Marajó realizou exposição do retorno simbólico do padre Giovanni Gallo (Turim-Itália, 1927 - Belém-Brasil, 2003) a Santa Cruz do Arari. Pelo GDM proferi palestra na Câmara Municipal sobre a Cultura Marajoara e ao encerramento os presentes assinaram a Carta do Lago Arari dirigida ao Presidente da República pedindo providências para conservação do patrimônio histórico e cultural do Marajó.
No mesmo ano, o GDM em conjunto com outras entidades civis dentre as quais a Diocese de Ponta de Pedras, Associação dos Municípios do Arquipélago do Marajó (AMAM) e outras mais, assinou a Carta de Muaná, de 08/10/2003 na I Conferência Regional de Meio Ambiente reivindicando implantação da APA-Marajó (Art. 13, VI, parágrafo segundo, da Constituição do Estado do Pará) seguida de estudos e procedimentos a fim de candidatá-la ao título de Reserva da Biosfera na rede brasileira do programa da UNESCO O Homem e a Biosfera.
Nessa marcha, em 2006, os Bispos do Marajó Dom Alessio Saccardo e Dom Frei José Luís Azcona, interpretando os sentimentos gerais dos marajoaras levaram ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, pedido de estudos de emergência para controle da malária, assistência social e obras de infraestrutura. Enquanto se deveria elaborar plano de desenvolvimento regional de curto e médio prazos: criou-se assim sob supervisão da Ministra-Chefe da Casa Civil da Presidência, Dilma Rousseff, o Grupo Executivo de Acompanhamento de Ações no Arquipélago do Marajó (GEI-Marajó).
Em 2007, depois de várias reuniões preparatórias e cinco audiências públicas em diferentes municípios do Marajó, o Presidente Lula e a Governadora Ana Júlia foram a Breves para o lançamento oficial do tão esperado Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó (PLANO MARAJÓ). No ato solene, Lula entregou a uma moradora do Alto Anajás o primeiro Título de Autorização de Uso (TAU) de terras de marinha na antiga ilha dos Nheengaíbas. Ato tão singelo, quanto significativo que àquelas horas nem as autoridades nem o público perceberia a importância, a menos que anteriormente a Educação Nacional houvesse se empoderado de educadores da estirpe de Paulo Freire.
Mais um ano, o programa federativo Territórios da Cidadania - Marajó, através do CODETER, em 2008, fechou um ciclo histórico que se não pode perder na memória do povo marajoara. Infelizmente, o medo parece voltar atemorizando as esperanças da gente.
BOSQUEJO HISTÓRICO
Mas, a resistência e a Defesa do Marajó apesar dos pesares continua de pé. Quando de fato começou a defesa do Marajó? Isto é, a resistência da brava gente marajoara contra a invasão das Ilhas e a inelutável perda territorial, da própria identidade e da memória histórica. Até os bichos tem direito natural a se defender, quanto mais seres humanos lesados em seus direitos fundamentais à vida e propriedade diante de ataques desferidos por outros seres humanos... Na lição do historiador José Honório Rodrigues (Teoria da História do Brasil) "Deus e a História não são para os mortos"....
Diz ele que aos olhos do Eterno todos seres estão vivos (a meu modo de ver, eu acredito nisto se o Cosmo inteiro como a biosfera é dotado do que o filósofo da complexidade Edgar Morin chama de noosfera ou inteligência cósmica, energia misteriosa que os crentes chamam de Espírito Santo).
A História propriamente dita - uma ciência evolutiva -, é pertencente às sucessivas gerações humanas, no fluxo continuo do interminável Presente, através da espiral evolutiva do espaço/tempo. Você pode não perceber ou não ter consciência na curta duração de uma vida individual: mas, de fato, o tempo não para... A não ser para quem morreu: e mesmo assim, o que o morto fez em vida continua a existir como a luz fóssil duma estrela extinta há milhões de anos a percorrer o espaço físico sem fim.
Há "apenas" 5.000 anos, populações nômades palmilhavam as margens dos rios nas terras baixas da América do Sul. A ecologia das ilhas do Marajó, entre chuvas intensas e secas severas do delta-estuário do gigantesco Amazonas e embates furiosos com ventos e marés do oceano Atlântico, foi o atrativo maior para migração de animais predadores, aves aquáticas e gente do paleolítico em busca de piracemas. Daí nasceria a ecocivilização amazônica...
Por esse determinismo, informa a arqueóloga Denise Schaan, Cultura Marajoara, São Paulo: SENAC, 2010; o homem marajoara apegado à pesca de gapuia, por necessidade sob ditadura da água por natureza, acabou formando-se "engenheiro do Arari" (digo eu, plagiando o sumano arariuara Rosemiro Plamplona) na construção de aldeias suspensas, que nós chamamos tesos e os arqueólogos classificam como sítios arqueológicos.
Assim, as diversas historiografias de décadas passadas formam como um álbum de família, que se renova de geração a geração em diferentes épocas históricas... A iconografia marajoara, por exemplo, faz parte do "álbum" nas fases arqueológicas mais antigas (cerca do ano 400 d.C. até próximo de 1600) e evidencia um tipo de linguagem ideográfica. Alguns acham que as urnas funerárias marajoaras, ricamente ornamentadas, onde matriarcas e caciques jaziam antes dos tesos ser arrombados e profanados por "civilizados", são como a pintura corporal de identidade dessas pessoas.
Havia guerra entre os diversos povos indígenas e etnias da região. Há evidência que os muitos grupos de língua e cultura Aruak do Amapá e ilhas do Pará travaram batalhas sangrentas contra invasores da grande nação Tupinambá, antes da chegada de europeus. Com a disputa colonial entre espanhóis e portugueses dentro da União Ibérica (1580-1640), de um lado; e holandeses, ingleses e franceses de outro; o conflito dos aruaques (chamados, pejorativamente, nheengaíbas) e tupinambás se intensificou debaixo da guerra colonial entre Católicos ibéricos e Hereges (protestantes franceses, ingleses e holandeses).
Os antropófagos e vingativos Tupinambás, antes inimigos mortais dos Peró (portugueses) e amigos dos Mair (franceses) até o Maranhão, mudaram de partido quando perceberam que os Nheengaíbas eram invencíveis na guerra de guerrilhas defensivas com suas zarabatanas e dardos envenenados de curare, com suas canoas ligeiras com velas de jupati. Convocados a ser aliar ao inimigo de outrora contra Hereges e amigos destes, os famigerados Nheengaíbas.
Provavelmente, a maior ambição dos conquistadores Tupinambás era uma espécie de paraíso selvagem, a chamada Terra sem males (lugar mítico onde não havia fome, trabalho escravo, doenças, velhice e morte), somente superado pela ilusão dos europeus em conquistar o país do El-Dorado. Os coloniais não podiam vencer a babel indígena sem catequizar e domesticar os selvagens, logo a missão era indispensável e os "índios cristãos" foram lançados contra Hereges e índios pagãos.
Por exemplo, o índio malvado Aruã dos séculos XVII e XVIII, se acabou manso e pacificamente no século XIX. Quando o criador do Museu Paraense Emílio Goeldi, Domingos Soares Ferreira Penna (Mariana-MG 1816 - Belém-PA 1888), em Chaves, entrevistou o velho Anselmo José, último aruã e que mal se lembrava de poucas palavras da sua língua materna. Foi este derradeiro índio "nheengaíba" quem disse a Ferreira Penna que a ilha grande, para aquela gente, se chamava Analau Yohynkacu em língua aruã.
Os índios do Marajó acusados de pirataria e ameaçados com a pena de cativeiro e extinção, com a "guerra justa" requerida pela Câmara de Belém ao rei, em 1656, foram defendidos pelo Padre grande Antônio Vieira (Lisboa-Portugal, 1608 - Salvador-Bahia, 1697): começa aí o primeiro passo na longa estrada da DEFESA DO MARAJÓ, em 361 anos até hoje, projetando-se ao futuro além do horizonte da AGENDA 2030.
Os "nheengaibas" de ontem são os cabocos de hoje, saídos do mato à força de corda e baraço pelas "tropas de resgate" para amansar da peia nas aldeias das missões e, depois da língua-geral Nheengatu; aprender a falar português a peso de palmatória e se "civilizar" na marra sob ditado do famigerado Diretório dos Índios (1757-1798). Então, esses novos nheengaíbas entraram no terceiro milênio novamente acusados de ladrões de gado e piratas de rio, tal qual seus lesados antepassados.
Esta gente que o mundo esqueceu, depois do Padre Vieira, teve como defensor o romancista da Amazônia, Dalcídio Jurandir (Ponta de Pedras-PA, 1909 - Rio de Janeiro-RJ, 1979), aquele missionário da Amazônia através de cartas e sermões; e este último através da literatura a partir dos romances Chove nos campos de Cachoeira e Marajó, escritos em 1939 na vila de Salvaterra, distrito de Soure.
Trinta anos depois da lavratura do "Chove" e "Marajó", o carisma do payaçu dos índios reapareceu através da teologia libertária do bispo dom Angelo Rivatto S.J., na Prelazia de Ponta de Pedras (1967), que organizou o seminário Antônio Vieira e fundou a agrovila Antônio Vieira, por acaso, na antiga terra indígena dos Guaianazes [Guaianá] (Lugar de Vilar, 1758, segundo Alexandre Rodrigues Ferreira, em Notícia Histórica da Ilha Grande de Joanes ou Marajó, Lisboa, 1783), numa cooperativa rural de cerca de 14 comunidades.
No ciclo da Prelazia e depois Diocese de Ponta de Pedras, comparece em grande destaque o famoso padre Giovanni Gallo S.J. inventor do extraordinário O Nosso Museu do Marajó (Santa Cruz do Arari, 1972), autor das obras Marajó, a ditadura da água, Motivos Ornamentais da Cerâmica Marajoara e O homem que implodiu. Este último uma autobiografia dilacerante em conflito aberto contra o bispo diocesano e o chefe político local. Com certeza, o padre dos pescadores do lago, atirou no que viu e acertou no que não viu: sem saber, ele acabou criando o primeiro ecomuseu e museu comunitário da Amazônia.
Enfim, transferido para Cachoeira do Arari, em 1981, o Museu do Marajó chegou a ser ao que é ou foi, não exatamente pela curiosidade do bezerro de duas cabeças, nem mesmo a vitoriosa campanha de venda de piranhas como souvenir. para levantar fundos para obras comunitárias. Mas, sim por "coisas que não prestam", os desprezíveis "cacos de índio" (fragmentos de peças arqueológicas deixadas ao relendo dos tesos saqueados para contrabando de cerâmica pré-colombiana), que a provocação do caboco Vadiquinho, por acaso, pelas mãos do vigário em seu labirinto para inventar a pastoral da paróquia fez mudar a história da resistência da gente marajoara.
Camilo Martins Viana, decano dos ambientalistas da Amazônia.
GRUPO EM DEFESA DO MARAJÓ
Em 2012, através do Facebook, a dois anos para o GDM dar por terminada sua atividade, nós tentávamos nos comunicar à distância com a UFPA através da Pró-Reitoria de Extensão no campus Marajó (núcleos de Breves e Soure), a respeito da oportunidade para contribuir à história do desenvolvimento territorial do arquipélago do Marajó, em sua parceria com o CODETEM e AMAM estimulando TCC's de alunos sobre o movimento de educação ambiental coordenado pelos professores Marcondes Magalhães e Camilo Viana, entre os anos de 1985 a 1995.
Foi nesse período que, no encerramento do ano letivo, aconteciam os chamados "Encontros em Defesa do Marajó" continuados de forma permanente durante vinte anos pelos voluntários do "Grupo em Defesa do Marajó - GDM", observando temática da Carta do Marajó-Açu, de Ponta de Pedras, de 30/04/1995. Assim, a UFPA poderia demonstrar perante a sociedade seu papel histórico indutor da integração dos municípios da mesorregião do Marajó, assumindo protagonismo do Protocolo de Cooperação entre estabelecimentos de ensino superior e pesquisa do Pará.
Não basta festejar vestibular e colação de grau se o povo analfabeto ficar isolado da produção acadêmica, entre chuvas e esquecimento, na vastidão de 500 e tantas comunidades-ilhas do maior arquipélago fluviomarinho do planeta Terra. É aí na Extensão que a porca torce o rabo nas ilhas do Marajó... Muitas vezes o caboco e sua família recebe de bom grado o pesquisador e passa a servir de graça como guia, informante, divide o açaí, o peixe frito e o camarão assado. Quando acaba, adeus dona Maria, seu Manuel e nenhuma linha do trabalho na comunidade que vai servir de dissertação de mestrado e tese de doutorado.
A universidade deve se convencer que numa região insular onde a informalidade reina, Descartes acaba falando só com seu próprio umbigo. Enquanto o acadêmico perde a viagem e a comunidade resta abestada como burro olhando para o palácio. Se antes de sintonizar o verbo para o povão entender o recado, a Universidade pensa logo na verba isto é sinal de que a vaca sagrada da santa Educação foi pro brejo. No caso, a temida jebre - zona dos Mondongos (pântanos, que merecem sítio Ramsar a par da APA que não ata nem desata e da Reserva da Biosfera mandada às calendas gregas, para não engessar o "progresso" do agronegócio dos arrozeiros de Cachoeira e já depressa o porto graneleiro de Ponta de Pedras) e da Contracosta - onde, depois de três séculos, ladrões de gado, piratas e outros excluídos e marginais da História vão se refugiar no convívio de fantasmas de velhos quilombos e mocambos. Onde outrora índios bravios, desertores e escravos fugidos iam esperar o tempo colonial passar. E já se sabe como acabou a história da Adesão de 15 de Agosto...
Não basta festejar vestibular e colação de grau se o povo analfabeto ficar isolado da produção acadêmica, entre chuvas e esquecimento, na vastidão de 500 e tantas comunidades-ilhas do maior arquipélago fluviomarinho do planeta Terra. É aí na Extensão que a porca torce o rabo nas ilhas do Marajó... Muitas vezes o caboco e sua família recebe de bom grado o pesquisador e passa a servir de graça como guia, informante, divide o açaí, o peixe frito e o camarão assado. Quando acaba, adeus dona Maria, seu Manuel e nenhuma linha do trabalho na comunidade que vai servir de dissertação de mestrado e tese de doutorado.
A universidade deve se convencer que numa região insular onde a informalidade reina, Descartes acaba falando só com seu próprio umbigo. Enquanto o acadêmico perde a viagem e a comunidade resta abestada como burro olhando para o palácio. Se antes de sintonizar o verbo para o povão entender o recado, a Universidade pensa logo na verba isto é sinal de que a vaca sagrada da santa Educação foi pro brejo. No caso, a temida jebre - zona dos Mondongos (pântanos, que merecem sítio Ramsar a par da APA que não ata nem desata e da Reserva da Biosfera mandada às calendas gregas, para não engessar o "progresso" do agronegócio dos arrozeiros de Cachoeira e já depressa o porto graneleiro de Ponta de Pedras) e da Contracosta - onde, depois de três séculos, ladrões de gado, piratas e outros excluídos e marginais da História vão se refugiar no convívio de fantasmas de velhos quilombos e mocambos. Onde outrora índios bravios, desertores e escravos fugidos iam esperar o tempo colonial passar. E já se sabe como acabou a história da Adesão de 15 de Agosto...
Todavia, para falar da atuação da UFPA em defesa do bom e velho Marajó carece lembrar de Camilo Vianna e Ana Rosa Bittencourt em atividades do CRUTAC / UFPA em Ponta de Pedras nos idos dos anos 60 do século passado. Hoje existe na cidade natal de Dalcídio Jurandir, além da escola-sede com nome do romancista da Amazônia, também uma escola da rede pública estadual com o nome da pranteada professora da UFPA.
Na hipótese de TCC acima sugerido, talvez sem surpresa iríamos constar o fato de que quase ninguém sabe quem foi e o que Ana Rosa Bittencourt fez no município para ter seu nome "lembrado" numa escola de ensino público. Então talvez a gente local descobriria o que significa nesta história a sigla CRUTAC. Lembraria ainda do professor Camilo e suas quixotadas memoráveis em favor do meio ambiente e da brava gente brasileira. Camilo era, de verdade, a cara do CRUTAC para nós que nem sabíamos a história do CRUTAC e como e porque ele chegou ao Marajó...
A nova geração não sabe o que significa CRUTAC, porém eu posso dizer que ele foi pai da SOPREN e avô do GDM. Tal qual o capitão-mor do Rio Grande do Norte veio ao Grão-Pará fundar a cidade de Belém, também daquele estado nordestino o CRUTAC veio dar vida nova à anêmica Extensão da UFPA, trazendo ao povo paraense a experiência da cidade de Santa Cruz (RN). CRUTAC – Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária é um programa pioneiro de extensão universitária, criado e implantado por Onofre Lopes, primeiro reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, em 1966.
Com esta semente nordestina plantada no solo pedregoso marajoara, onde migrantes expulsos pelas secas fizeram brotar a nossa agricultura familiar em Mangabeira; a Extensão Universitária fez sentido naquela terra dando frutos tais, como a cooperativa cabocla kibutziana da "Nella" (hoje ninguém sabe ninguém viu...), o badalado POEMA (programa em cooperação internacional Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia), deu chance a contestadores da opção preferencial da EMBRAPA pelos ricos, à experiência exitosa da Agricultura Familiar Sustentável em Jaguarajó. E ainda deu ao município o case de insucesso do projeto de execução descentralizada PED-GUAIANÁ financiado pelo Banco Mundial a fundo perdido, que perdeu a chance, mas não elogios técnicos e processo da Polícia Federal por malversação de recursos públicos.
Na hipótese de TCC acima sugerido, talvez sem surpresa iríamos constar o fato de que quase ninguém sabe quem foi e o que Ana Rosa Bittencourt fez no município para ter seu nome "lembrado" numa escola de ensino público. Então talvez a gente local descobriria o que significa nesta história a sigla CRUTAC. Lembraria ainda do professor Camilo e suas quixotadas memoráveis em favor do meio ambiente e da brava gente brasileira. Camilo era, de verdade, a cara do CRUTAC para nós que nem sabíamos a história do CRUTAC e como e porque ele chegou ao Marajó...
A nova geração não sabe o que significa CRUTAC, porém eu posso dizer que ele foi pai da SOPREN e avô do GDM. Tal qual o capitão-mor do Rio Grande do Norte veio ao Grão-Pará fundar a cidade de Belém, também daquele estado nordestino o CRUTAC veio dar vida nova à anêmica Extensão da UFPA, trazendo ao povo paraense a experiência da cidade de Santa Cruz (RN). CRUTAC – Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária é um programa pioneiro de extensão universitária, criado e implantado por Onofre Lopes, primeiro reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, em 1966.
Com esta semente nordestina plantada no solo pedregoso marajoara, onde migrantes expulsos pelas secas fizeram brotar a nossa agricultura familiar em Mangabeira; a Extensão Universitária fez sentido naquela terra dando frutos tais, como a cooperativa cabocla kibutziana da "Nella" (hoje ninguém sabe ninguém viu...), o badalado POEMA (programa em cooperação internacional Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia), deu chance a contestadores da opção preferencial da EMBRAPA pelos ricos, à experiência exitosa da Agricultura Familiar Sustentável em Jaguarajó. E ainda deu ao município o case de insucesso do projeto de execução descentralizada PED-GUAIANÁ financiado pelo Banco Mundial a fundo perdido, que perdeu a chance, mas não elogios técnicos e processo da Polícia Federal por malversação de recursos públicos.
Já falei demais e ainda não disse como foi que o GDM se despediu da história marajoara, na esperança do Movimento Marajó Forte, em especial a campanha para criação da UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARAJÓ. O MMF veio no bojo do NÃO à divisão do Pará no plebiscito sobre projetos dos estados do Carajás e Tapajós. Ultimamente, circulam vozes em torno do Bispo Emérito da Prelazia do Marajó, dom José Luís; em favor da criação de um certo Território Federal do Marajó e eu que, enquanto jovem repórter, escrevi artigo em apoio à ideia, depois de cinquenta anos de danças e contradanças em defesa da pobre gente marajoara; hoje diria NÃO.
Já se a pergunta for a respeito da criação do Estado do Marajó eu digo SIM. E sim com a criação da Universidade Federal do Marajó e tudo, à condição de que afinal de contas, antes de 2030, seja o Povo Marajoara quem mais comande sua própria história.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017
Afuá: toponímia e negritude na Amazônia Marajoara
a
Rio Marajozinho: maré cheia banha a orla da cidade de Afuá (ilha do Marajó - Pará).
A "Grande Enciclopédia da Amazônia", organizada por Carlos Rocque, Amazônia Editora: Belém-Pará, 1967; ao tratar do verbete Afuá informa, laconicamente: "Afuá é topônimo indígena; porém até hoje não lhe foi determinada a origem". Na falta de fonte o folclore inventa alguma explicação e o povo apela a trocadilho de supostas classes A, B, C e D ao encontro do cacófato pornô. Alguma vez, ouviu-se dizer que o nome Afuá podia ser uma onomatopeia causada pelo bufido dos botos ao vir à tona respirar. Pura fantasia, entretanto.
Sobre como a cultura africana chegou ao Marajó, certa vez um compadre deu-me explicação mágica da Pororoca, dizendo ele que as três vagas da "cabeça" d'água são três pretinhos encantados que cavalgam as ondas. Ora donde o compadre tirou essa? Seria por acaso uma velha tradição marajoara? Como surgiu esta coisa? A conversa deu-se, pelos anos 50, na barraca do compadre e a comadre, ele um cafuzo esperto meio pajé e ela uma preta retinta de simpatia à flor da pele, moradores do igarapé Bacurituba, no Rio Canal.
Passados anos, por acaso, li o relato da travessia do Atlântico pelo rei mandinga Abubakari II, supostamente cerca de duzentos anos antes de Cristóvão Colombo chegar às Bahamas (1492). O historiador africano Mali Gaossou Diawara e outros vem nos últimos anos buscando evidências da vericidade desse relato medieval achado originalmente no Museu do Cairo (Egito).
A saga de Abubakari II chegou ao conhecimento da posteridade, graças a seu sucessor no trono, Mansa Musa famoso pela peregrinação a Meca com uma caravana de mais de seis mil pessoas, mais de cem camelos carregados de ouro. Contam que a estada de Mansa Musa no Egito teria causado inflação pela enorme quantidade de ouro que ele prodigalizou na cidade do Cairo entre a ida e a volta de Meca. Foi quando o imperador mandinga contou a aventura de seu antecessor Abubakari, entretanto tratada como tabu em seu próprio país.
O monarca do Mali abdicou ao trono em 1311 e partiu para o Oceano desconhecido com uma flotilha de 2.000 barcos a remo e vela, movido por forte obsessão em conhecer a outra margem caso existisse. Ele queria saber se o Atlântico era tão grande quanto o rio Niger. Mas, esta decisão teria causado à corte enorme contrariedade e sentimento de abandono, que seus conselheiros ressentidos pela abdicação do rei proibiram aos griôs (zeladores da história oral) contar sobre a viagem de Abubakari. Do resultado da expedição não se soube mais. Entretanto, segundo Diawara passado tanto tempo os griôs começam a quebrar o silêncio facilitando as pesquisas.
Aonde foi parar Abubakari II e sua flotilha não se sabe, tudo são suposições. E às vezes suposições são pontes que levam ao encontro de descobertas. Diawara supõe que Abubakari desembarcou em Pernambuco e formou uma colônia no Nordeste brasileiro. Outros pretendem que a corrente equatorial e o vento leste empurraram a frota mandinga para o Norte do continente americano, terminando a aventura nas ilhas do Caribe. Verdade ou não, Colombo teria avistado curiosos índios-negros armados de lanças com ponta de cobre. A América Central ainda tem ídolos de pedra de inconfundíveis traços africanos.
Mas, afinal, onde entra a Pororoca nesta história? Consta do relato original de Mansa Musa no Caíro, que Abubakari após estudar os meios de navegação, suprimento de água potável e alimentos usados pelos pescadores em alto mar, decidiu mandar um destacamento precursor de 200 caiaques. A este determinou através de comandantes, navegar rumo à margem oposta até onde o suprimento de água e alimentação desse para retornar ao ponto de partida. No rio Gâmbia, Guiné, supostamente.
Ao cabo de certo tempo, retornaram apenas dois remadores dizendo eles ter atravessado o mar e chegado a um grande rio de água doce. Quando, subitamente, levantaram-se grandes ondas arrastando os caiaques com fragor. Somente os dois últimos que vinham atrás escaparam e com grandes dificuldades conseguiram retornar junto ao imperador. Foi então que este resolveu vir ele mesmo à frente de 2000 barcos equipados. Teriam, por acaso, alguns remadores de Abubakari escapado da fúria da Pororoca e dado inicio à lenda? Ou seria impossível que, acidentalmente, pescadores da costa africana fossem arrastados mar afora para a correnteza equatorial até as costas do Brasil? O poderoso vento leste talvez trouxesse no passado longínquo nautas africanos ao acaso. Quem sabe?
Já o grande pesquisador Vicente Salles (1931-2013), autor renomado de O Negro no Pará, aborda o topônimo em apreço em Vocabulário crioulo: contribuição do negro ao falar regional amazônico - Belém: IAP, Programa Raízes, 2003; ensinando "AFUÁ, s.m. Rio, ilha, cidade e mun. localizados na parte ocidental da ilha do Marajó # ETIM. Provável afro-negrismo. F. Pena: "Com este nome que não é indígena nem português, existe uma nova povoação, 35 milhas a O. de Chaves na ponta de uma ilha da margem direita e oriental do Afurá, que desemboca no Amazonas... (1973, II, 51). Duas vozes afros no texto de F. Pena, afuá e afurá, sendo este ou rio ou igarapé, que desemboca no Amazonas, na verdade um paraná. Afurá, ver em seguida.
AFURÁ, s. m. Cozinha afro-baiana: bebida feita de fubá de arroz; o angu desmanchado no leite de coco e gengibre. Registrado. em 1938, pela M.F.P. em Belém (O. Alvarenga, 1950, 25). Usada e servida a todos os participantes em certas cerimônias do batuque paraense (Leacock, 1972, 375) # ETIM. do ior. furá, bebida refrigerante feita de milho ou arroz, misturado com mel (J. Raymundo, 1936: 145); ... ".
A pergunta que se impõe: Como e quando o vocábulo teria chegado àquelas paragens da ilha do Marajó? Não há dúvida sobre existência de antigos mocambos e quilombos na vasta área insular das Guianas, incluindo Amapá, Baixo Amazonas e ilhas do Marajó. O historiador Arthur Cezar Ferreira Reis, na bem documentada obra Limites e Demarcações na Amazônia Brasileira, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1947, ao comentar a expulsão dos holandeses, transcreveu trecho do relato de Luís Aranha ao monarca Felipe IV de Espanha durante a União Ibérica (1580-1640), obra citada 1º Tomo, pág. 40, que se refere à adesão de um murubixaba Tupinambá no rio Tocantis para ir com seus guerreiros aos combates que se seguiram, a partir do rio Xingu, contra feitorias estrangeiras ali desde fins do século XVI tendo comércio com nativos aruaques, inimigos hereditários dos tupis invasores da região das Ilhas:
"e no descurso dele [fala provavelmente do cacique tupinambá do Baixo Tocantins contatado por frei Cristóvão de São José] fis pazes e domei a obediencia de vmg.te mt.º número de gentio. E o persuadi a que me acompanhasse Com suas canoas e arrmas e Com elle Rendi e tomei duas fortalezas aos olandezes que naquele gran Rio tinhão situadas, hûa chamada mataru [Porto de Moz atual] e outra de nassau [Veiros]. Cativandoos a todos e senhoreandome da artelharia arrmas moniçoens E escravos de angola (grifo meu)...
Foram esses mercadores holandeses que, aproximadamente, desde 1590, pelo Baixo Amazonas em boa vizinhança com nativos da região desde a Guiana trouxeram os primeiros negros escravizados para a Amazônia. Logo que o tráfico de escravos se expandiu entre reinos da costa ocidental da África e mercadores europeus, a luta de resistência dos povos escravizados se instalou com a formação de quilombos. Tal como os Jagas, guerreiros das selvas do Congo; e os Bijagós da Guiné-Bissau, temidos por caçadores de escravos em África e que, quando capturados, quase sempre se rebelavam e na senzala lideravam fugas de escravos para lugares distantes e escondidos chamados mocambos.
Com a colonização portuguesa, a ilha do Marajó tornou-se um grande quilombo, que apesar do forte de Gurupá (1623) e da capitania hereditária da Ilha Grande de Joanes (1665), só em 1680 permitiu construção do primeiro curral de gado diante do perigo dos índios bravios (Aruãs e Anajás), desertores e escravos refugiados nos centros da ilha. O rio Anajás Grande interligado com o rio Arari, até metade do século XVIII, foi caminho secreto de índios bandoleiros, desertores e quilombolas.
Nas Antilhas, "negros da terra" (escravos indígenas), como os Tainos por exemplo; formaram quilombos e mocambos nas montanhas, num vasto movimento rebelde chamado cimarron pelos hispânicos. A chegada de escravos negros africanos no Caribe encontrou na marronagem ameríndia a continuação na América do quilombismo negro-africano. Sabemos como nas Guianas escravagistas holandeses, ingleses e franceses procuravam aliarem-se a índios livres para manter o cativeiro africano. E, mesmo assim, formaram-se grandes quilombos que sobrevivem até hoje no interior da floresta. Embora não existam registros, difícil não cogitar a respeito da eventualidade de fugas de escravos para formar distantes mocambos, já contando com a proteção de índios parceiros. Tal como se passou no Caribe com o surgimento de índios-pretos (black-indians), que entre nós se chamaram cafuzos.
A fonte a que Vicente Salles se refere, "F. Pena"; trata do naturalista Domingos Soares Ferreira Penna (1818-1888), pioneiro dos estudos amazônicos, nasceu em Mariana (Minas Gerais), em 6 de junho de 1818. Radicou-se em Belém do Pará, como naturalista viajante do Museu Nacional. Na oportunidade da passagem do naturalista suíço Louis Agassiz na Amazônia, Ferreira Penna fundou a Sociedade Filomática, em 1871, que foi embrião do Museu Paraense (atual Museu Paraense Emílio Goeldi), do qual foi o primeiro diretor.
Rio Marajozinho: maré cheia banha a orla da cidade de Afuá (ilha do Marajó - Pará).
A "Grande Enciclopédia da Amazônia", organizada por Carlos Rocque, Amazônia Editora: Belém-Pará, 1967; ao tratar do verbete Afuá informa, laconicamente: "Afuá é topônimo indígena; porém até hoje não lhe foi determinada a origem". Na falta de fonte o folclore inventa alguma explicação e o povo apela a trocadilho de supostas classes A, B, C e D ao encontro do cacófato pornô. Alguma vez, ouviu-se dizer que o nome Afuá podia ser uma onomatopeia causada pelo bufido dos botos ao vir à tona respirar. Pura fantasia, entretanto.
Sobre como a cultura africana chegou ao Marajó, certa vez um compadre deu-me explicação mágica da Pororoca, dizendo ele que as três vagas da "cabeça" d'água são três pretinhos encantados que cavalgam as ondas. Ora donde o compadre tirou essa? Seria por acaso uma velha tradição marajoara? Como surgiu esta coisa? A conversa deu-se, pelos anos 50, na barraca do compadre e a comadre, ele um cafuzo esperto meio pajé e ela uma preta retinta de simpatia à flor da pele, moradores do igarapé Bacurituba, no Rio Canal.
Passados anos, por acaso, li o relato da travessia do Atlântico pelo rei mandinga Abubakari II, supostamente cerca de duzentos anos antes de Cristóvão Colombo chegar às Bahamas (1492). O historiador africano Mali Gaossou Diawara e outros vem nos últimos anos buscando evidências da vericidade desse relato medieval achado originalmente no Museu do Cairo (Egito).
Griôs do Mali
A saga de Abubakari II chegou ao conhecimento da posteridade, graças a seu sucessor no trono, Mansa Musa famoso pela peregrinação a Meca com uma caravana de mais de seis mil pessoas, mais de cem camelos carregados de ouro. Contam que a estada de Mansa Musa no Egito teria causado inflação pela enorme quantidade de ouro que ele prodigalizou na cidade do Cairo entre a ida e a volta de Meca. Foi quando o imperador mandinga contou a aventura de seu antecessor Abubakari, entretanto tratada como tabu em seu próprio país.
O monarca do Mali abdicou ao trono em 1311 e partiu para o Oceano desconhecido com uma flotilha de 2.000 barcos a remo e vela, movido por forte obsessão em conhecer a outra margem caso existisse. Ele queria saber se o Atlântico era tão grande quanto o rio Niger. Mas, esta decisão teria causado à corte enorme contrariedade e sentimento de abandono, que seus conselheiros ressentidos pela abdicação do rei proibiram aos griôs (zeladores da história oral) contar sobre a viagem de Abubakari. Do resultado da expedição não se soube mais. Entretanto, segundo Diawara passado tanto tempo os griôs começam a quebrar o silêncio facilitando as pesquisas.
Aonde foi parar Abubakari II e sua flotilha não se sabe, tudo são suposições. E às vezes suposições são pontes que levam ao encontro de descobertas. Diawara supõe que Abubakari desembarcou em Pernambuco e formou uma colônia no Nordeste brasileiro. Outros pretendem que a corrente equatorial e o vento leste empurraram a frota mandinga para o Norte do continente americano, terminando a aventura nas ilhas do Caribe. Verdade ou não, Colombo teria avistado curiosos índios-negros armados de lanças com ponta de cobre. A América Central ainda tem ídolos de pedra de inconfundíveis traços africanos.
Mas, afinal, onde entra a Pororoca nesta história? Consta do relato original de Mansa Musa no Caíro, que Abubakari após estudar os meios de navegação, suprimento de água potável e alimentos usados pelos pescadores em alto mar, decidiu mandar um destacamento precursor de 200 caiaques. A este determinou através de comandantes, navegar rumo à margem oposta até onde o suprimento de água e alimentação desse para retornar ao ponto de partida. No rio Gâmbia, Guiné, supostamente.
Ao cabo de certo tempo, retornaram apenas dois remadores dizendo eles ter atravessado o mar e chegado a um grande rio de água doce. Quando, subitamente, levantaram-se grandes ondas arrastando os caiaques com fragor. Somente os dois últimos que vinham atrás escaparam e com grandes dificuldades conseguiram retornar junto ao imperador. Foi então que este resolveu vir ele mesmo à frente de 2000 barcos equipados. Teriam, por acaso, alguns remadores de Abubakari escapado da fúria da Pororoca e dado inicio à lenda? Ou seria impossível que, acidentalmente, pescadores da costa africana fossem arrastados mar afora para a correnteza equatorial até as costas do Brasil? O poderoso vento leste talvez trouxesse no passado longínquo nautas africanos ao acaso. Quem sabe?
Já o grande pesquisador Vicente Salles (1931-2013), autor renomado de O Negro no Pará, aborda o topônimo em apreço em Vocabulário crioulo: contribuição do negro ao falar regional amazônico - Belém: IAP, Programa Raízes, 2003; ensinando "AFUÁ, s.m. Rio, ilha, cidade e mun. localizados na parte ocidental da ilha do Marajó # ETIM. Provável afro-negrismo. F. Pena: "Com este nome que não é indígena nem português, existe uma nova povoação, 35 milhas a O. de Chaves na ponta de uma ilha da margem direita e oriental do Afurá, que desemboca no Amazonas... (1973, II, 51). Duas vozes afros no texto de F. Pena, afuá e afurá, sendo este ou rio ou igarapé, que desemboca no Amazonas, na verdade um paraná. Afurá, ver em seguida.
AFURÁ, s. m. Cozinha afro-baiana: bebida feita de fubá de arroz; o angu desmanchado no leite de coco e gengibre. Registrado. em 1938, pela M.F.P. em Belém (O. Alvarenga, 1950, 25). Usada e servida a todos os participantes em certas cerimônias do batuque paraense (Leacock, 1972, 375) # ETIM. do ior. furá, bebida refrigerante feita de milho ou arroz, misturado com mel (J. Raymundo, 1936: 145); ... ".
A pergunta que se impõe: Como e quando o vocábulo teria chegado àquelas paragens da ilha do Marajó? Não há dúvida sobre existência de antigos mocambos e quilombos na vasta área insular das Guianas, incluindo Amapá, Baixo Amazonas e ilhas do Marajó. O historiador Arthur Cezar Ferreira Reis, na bem documentada obra Limites e Demarcações na Amazônia Brasileira, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1947, ao comentar a expulsão dos holandeses, transcreveu trecho do relato de Luís Aranha ao monarca Felipe IV de Espanha durante a União Ibérica (1580-1640), obra citada 1º Tomo, pág. 40, que se refere à adesão de um murubixaba Tupinambá no rio Tocantis para ir com seus guerreiros aos combates que se seguiram, a partir do rio Xingu, contra feitorias estrangeiras ali desde fins do século XVI tendo comércio com nativos aruaques, inimigos hereditários dos tupis invasores da região das Ilhas:
"e no descurso dele [fala provavelmente do cacique tupinambá do Baixo Tocantins contatado por frei Cristóvão de São José] fis pazes e domei a obediencia de vmg.te mt.º número de gentio. E o persuadi a que me acompanhasse Com suas canoas e arrmas e Com elle Rendi e tomei duas fortalezas aos olandezes que naquele gran Rio tinhão situadas, hûa chamada mataru [Porto de Moz atual] e outra de nassau [Veiros]. Cativandoos a todos e senhoreandome da artelharia arrmas moniçoens E escravos de angola (grifo meu)...
Foram esses mercadores holandeses que, aproximadamente, desde 1590, pelo Baixo Amazonas em boa vizinhança com nativos da região desde a Guiana trouxeram os primeiros negros escravizados para a Amazônia. Logo que o tráfico de escravos se expandiu entre reinos da costa ocidental da África e mercadores europeus, a luta de resistência dos povos escravizados se instalou com a formação de quilombos. Tal como os Jagas, guerreiros das selvas do Congo; e os Bijagós da Guiné-Bissau, temidos por caçadores de escravos em África e que, quando capturados, quase sempre se rebelavam e na senzala lideravam fugas de escravos para lugares distantes e escondidos chamados mocambos.
Com a colonização portuguesa, a ilha do Marajó tornou-se um grande quilombo, que apesar do forte de Gurupá (1623) e da capitania hereditária da Ilha Grande de Joanes (1665), só em 1680 permitiu construção do primeiro curral de gado diante do perigo dos índios bravios (Aruãs e Anajás), desertores e escravos refugiados nos centros da ilha. O rio Anajás Grande interligado com o rio Arari, até metade do século XVIII, foi caminho secreto de índios bandoleiros, desertores e quilombolas.
Nas Antilhas, "negros da terra" (escravos indígenas), como os Tainos por exemplo; formaram quilombos e mocambos nas montanhas, num vasto movimento rebelde chamado cimarron pelos hispânicos. A chegada de escravos negros africanos no Caribe encontrou na marronagem ameríndia a continuação na América do quilombismo negro-africano. Sabemos como nas Guianas escravagistas holandeses, ingleses e franceses procuravam aliarem-se a índios livres para manter o cativeiro africano. E, mesmo assim, formaram-se grandes quilombos que sobrevivem até hoje no interior da floresta. Embora não existam registros, difícil não cogitar a respeito da eventualidade de fugas de escravos para formar distantes mocambos, já contando com a proteção de índios parceiros. Tal como se passou no Caribe com o surgimento de índios-pretos (black-indians), que entre nós se chamaram cafuzos.
A fonte a que Vicente Salles se refere, "F. Pena"; trata do naturalista Domingos Soares Ferreira Penna (1818-1888), pioneiro dos estudos amazônicos, nasceu em Mariana (Minas Gerais), em 6 de junho de 1818. Radicou-se em Belém do Pará, como naturalista viajante do Museu Nacional. Na oportunidade da passagem do naturalista suíço Louis Agassiz na Amazônia, Ferreira Penna fundou a Sociedade Filomática, em 1871, que foi embrião do Museu Paraense (atual Museu Paraense Emílio Goeldi), do qual foi o primeiro diretor.
Em 1870, Ferreira Penna descobriu a Formação Pirabas, uma das mais importantes áreas fósseis do Terciário no Brasil. O Museu Nacional registrou, em 1876 e 1877, duas importantes contribuições de Ferreira Penna sobre os sambaquis da costa oriental do Pará nas regiões “sombrias e pantanosas”, que ele escavou fazendo anotações sobre a arqueologia. Em 1882, colaborou com Ladislau Netto, diretor do Museu Nacional, na organização da Exposição Antropológica Nacional, o maior evento científico do Império do Brasil; levando-o em excursões científicas ao teso arqueológico do Pacoval, na ilha do Marajó e algumas aldeias indígenas no interior da província.
O teso do Pacoval segundo José Coelho da Gama e Abreu, Barão do Marajó, AS REGIÕES AMAZÔNICAS - Estudos chorographicos dos Estados do Gram Pará e Amazonas, [Lisboa, 1895] Belém: SECULT, 2ª ed.,1992, pp. 316/317; foi escavado para pesquisas arqueológicas, "a primeira pelo sr. Bernard, sob direccão do sr. Fred. Hartt em 1870; a segunda pelo sr. Derby em 1871, a terceira pelo sr. Ferreira Penna um ano depois; e as duas últimas, uma pelo sr. Ladislau Netto, cujos bellos resultados figuram na exposição anthropologica que se realisou no Rio de Janeiro e ultimamente em Chicago, e outra pela commissão encarregada no Pará de obter productos para a exposição de Chicago ...", realizada em 1893.
Ferreira Penna deixou publicadas as seguintes obras: A ilha de Marajó (1876); Apontamentos sobre os cerâmios do Pará (1877) e Índios de Marajó (1885); o fundador do Museu Paraense faleceu em Belém, em 6 de janeiro de 1888.
O teso do Pacoval segundo José Coelho da Gama e Abreu, Barão do Marajó, AS REGIÕES AMAZÔNICAS - Estudos chorographicos dos Estados do Gram Pará e Amazonas, [Lisboa, 1895] Belém: SECULT, 2ª ed.,1992, pp. 316/317; foi escavado para pesquisas arqueológicas, "a primeira pelo sr. Bernard, sob direccão do sr. Fred. Hartt em 1870; a segunda pelo sr. Derby em 1871, a terceira pelo sr. Ferreira Penna um ano depois; e as duas últimas, uma pelo sr. Ladislau Netto, cujos bellos resultados figuram na exposição anthropologica que se realisou no Rio de Janeiro e ultimamente em Chicago, e outra pela commissão encarregada no Pará de obter productos para a exposição de Chicago ...", realizada em 1893.
Ferreira Penna deixou publicadas as seguintes obras: A ilha de Marajó (1876); Apontamentos sobre os cerâmios do Pará (1877) e Índios de Marajó (1885); o fundador do Museu Paraense faleceu em Belém, em 6 de janeiro de 1888.
Afuá pode ser uma antiga referência da presença africana na Amazônia Marajoara? Quem quiser se aventurar aos caminhos da história das regiões amazônicas, carentes de fontes e periclitantes em suas diversas historiografias; não pode desdenhar de quaisquer hipóteses de pesquisa ou as muitas suposições que saltam à mente do viajante que se depara com o "espaço vazio" ou esvaziado pelos conquistadores do Rio Babel (Amazonas).
"Maldita hidra!", bradavam chefes de polícia do século XIX, incapazes de exterminar os quilombos que surgiam às margens das cidades e dos campos em todo o país. O historiador Flávio Gomes resgata essa e outras histórias da resistência escrava, tendo como cenário as comunidades de fugitivos dos séculos XVII e XIX no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e principalmente Grão-Pará e Maranhão.
Ao contrário do que se imagina, não eram apenas negros que povoavam quilombos. Esses agrupamentos contavam muitas vezes com indígenas e brancos entre seus moradores. A necessidade de sobrevivência obrigava os quilombolas a travar contato com a sociedade escravista por meio de comerciantes e até mesmo senhores. O livro desvenda o "pântano" das relações sociais e econômicas entre quilombos e sociedade escravista, ao mesmo tempo em que serve de metáfora para completar a Hidra, ser mitológico que tinha capacidade de regenerar suas cabeças ao serem cortadas. Assim como os quilombos, diante das tentativas de extinção pelas forças repressoras caíam e novamente se erguiam dos escombros, deixando até hoje reminiscências de sua luta e atividade." (Flávio dos Santos Gomes, A Hidra e os Pântanos: mocambos, quilombos e comunidades de fugitivos no Brasil (Séculos XVII-XIX), São Paulo: ed. UNESP, 2005.
sábado, 4 de fevereiro de 2017
PERIGOSO AGENTE DO COMUNISMO SUMANO INTERIORANO.
#EuVouPraQuatipuru
À guisa de manifesto
Porém, esse Menino Jesus filho do Homem (Homo sapiens), salvador da humanidade filha da animalidade, nascido 400 anos depois do senhor Lao-Tsé que nasceu velho; através do arquétipo grego Cristo, encarna talvez Krishna; o oitavo avatar de Vishnu no hinduísmo. "Fizemos Cristo nascer na Bahia ou em Belém do Pará" (Manifesto Antropofágico (1928), Oswald de Andrade).
Depois da Heresia dos Índios segundo Ronaldo Vainfas, chegamos agora rumo ao messiânico ano global de 2030 à heresia dos cabocos segundo este apóstolo da Criaturada grande de Dalcídio, que vos fala.
Após a última versão da Internacional socialista a primeira edição ajuricabana da Interiorana comunista local... De pé e arriba, ó vítimas da Fome! Atingidos das barragens e do agronegócio pela leseira amazônica do trabalho escravo, das doenças da pobreza, da velhice sem dó e da morte inglória. A utopia da Terra sem males nos reanima a marchar no caminho da justiça e da paz pela grande espiral evolutiva da saga dos Tupinambás.
Aqui uma mistura doida que nem açaí e peixe frito tirando gosto com cachaça. Um exercício maluco beleza zenBubuia (zen é zen - antiga arte oriental de meditação e bubuia é manha de caboco sonso que deixa a maré da vida o levar flutuando ao acaso no infinito rio de Heráclito). O sumano (senhor meu mano) mora na amazônica filosofia? Ecocultura na universidade pés descalços da maré no mangue.
Gosto de misturar Marx, Paulo Freire, Dom Quixote, Freud e o pajé Tio Lili lá de Icoaraci no mesmo balaio, agitar tudo muito bem até virar farinha do mesmo saco. Coar em peneira fina de arumã para, depois, reservar a massa fina com carinho e consumir com moderação em tempos de precisão (necessidade).
Pra mim, o Príncipe da Paz - Senhor Jesus Cristo - é, foi e será sempre o primeiro comunista revolucionário da Terra sem males. Moisés formidável campeador, Libertador de escravos do império deste mundo. Maomé o verdadeiro Profeta de Alá, o Misericordioso. O Buda Sakyamuni além do buda Nitiren Daishonin é ser cósmico iluminado que ilumina a gente errante na terra e elimina a Dor da criaturada sofredora...
Na sutra de Lótus habita o mesmo princípio vivo encantador do Coração de Jesus e do caruana (espírito telúrico) que mora no cerne da Victoria amazonica (vitória-régia) pela arte do poeta da Floresta Thiago de Mello e do Sermão da Selva do poeta da madrugada Max Carphentier.
Por este eterno caminho das águas vivas, de rios e mares nunca dantes, convidei sumanos a ousarmos o Ajuricabano (reunião de filhos de Ajuricaba e combatentes cabanos): bater curimbó mato adentro até acordar o galo anunciando o fim da estória da Primeira Noite do mundo a levantar a cabocada das cabanas na beira do Rio Babel (Amazonas)...
Aprendiz de pajé reprovado por falta de fé, eu acabei ateu graças a Deus, fado de índio catecúmeno. Masporém, acredito em quebranto, mau olhado; magia da cobra grande Boiúna, Curupira, Matinta pirera e outros bichos encantados... Confusão mental por culpa da destruição das índias ocidentais avoengas dos cabocos na ditadura iluminista do Diretório dos Índios, civilizador colonial dos tapuias extraídos do mato a dente de cachorro e pau de fogo para o cativeiro nas oficinas catequistas de Murtigura (Vila do Conde, Barcarena-Pará, Amazônia-Brasil). Celeiro de mão de obra do lumpemproletariado amazônico, forja histórica da Cabanagem.
Creio na complexidade da filosofia de um certo xamã planetário chamado Edgar Morin. Aliás, simpatizo com o tal de Tao. Penso que o velho senhor Lao-Tsé, junto com xamãs da primeira migração asiática, chegou a América a pé antes de seu proverbial búfalo atravessar a fronteira da Índia, antes mesmo de nascer na distante China o dito cujo velho pajé. Portanto, considerando que de amargo nesta vida basta o peso da existência, o tal de Tao recomenda buscar o Caminho da felicidade com coragem no coração e no rosto sorriso franco: o mundo é uma criança pequena de apenas um milhão de anos de idade.
"Não é verdade que a história do Homem terminou: ela vem só de começar!" - proclama o pai da Negritude, poeta Aimé Cesaire (Cesário amado).
O praticante da vida deve contar piada inteligente pra abrir a mente da gente pobre de espírito. Agir como quem distribui um tesouro inesgotável a fim de despertar a riqueza da alegria na alma do pedinte. Eu considero o tal de Tao a sabedoria oriental mais próxima da alta e tradicional Pajelança amazônica.
Digo isto porque, para mim, a materialidade dialética eclética da ecocivilização amazônica revoga a predação do "celeiro do mundo". Eis que a estória da casa da mãe Joana está, felizmente, chegando ao fim. Considero as regiões amazônicas como uma ponte natural no meio do caminho entre Tradição e Devenir. Encontro das águas nos extremos Oriente e Ocidente do espaço curvo do planeta.
Para este novo Novo Mundo despontar no horizonte urge renovar o velho "centro" do mundo pelo mito revolucionário do Bom Selvagem segundo Montaigne e Rousseau. Mas, cá pra nós, o novo "centro" entre outros vários e diversos centros do mundo, há de ser a grande ilha do Marajó atravessada na boca do grande rio das Amazonas, que o Padre Antônio Vieira falou: lugar original da primeira cultura complexa da Amazônia e cadinho memorial da Arte primeva brasileira.
Urge o mundo todo saber agora que já estamos próximos do ano messiânico de 2030! Há muitos Macondos e Marajós no arquipélago da Terra prontos a se tornarem ilhas de concretude da ideal ilha Utopia.
Então, por que devemos nós ir pra Quatipuru nos refugiar da aterrorizante revelação do fim do mundo? Piada pronta no universo caboco: Contam que, certa vez, numa cidade ribeirinha estava estarrado ao chão um pobre beberão dormindo a sono solto na porta do mercado sujo. Quando entra um pastor empaletozado entre lixo esparramado, crianças passando fome, cachorros vadios e um haver de moscas, com a Bíblia Sagrada metida no sovaco (lá dele...), a bom gritar que o mundo, diz-que, ia se acabar...
O bêbedo despertou do sono etílico no reino das águas ardentes, como que saindo do fundo da garrafa que nem um gênio desnorteado das horas do dia. Admirou-se muito da altura do sol quase a pino. O entra e sai de gente no mercado para ele era grande novidade e, ainda mais, o terror do pastor a anunciar o fim do mundo.
Como ressuscitando dentre os mortos, o homem se levantou do chão imundo cambaleando e retrucou ao pastor: "O mundo vai acabar, é? Eu choro? Por mim é pouco... Amanhã vou pra Quatipuru!".
Pois sim. Quatipuru para o caboco cachaceiro, expulso do paraíso na terra pela exploração do celeiro do mundo, é paresque como o planeta Marte para o pessoal da NASA a preparar o êxodo exclusivo dos eleitos da deusa Ciência quando a Terra já não puder mais sustentar tonta consumição e não tiver mais salvação...
E tu, então, Quatipuru, nossa ilha Utopia caboca; serás nosso refúgio na hora fatal do Apocalypso! Base antropoética do Ajuricabano. Retorno mítico da Criaturada à Terra sem males, jamais encontrada no espaço euclidiano. Porém, doravante pela Arte, a Ciência e a Tecnologia do espaço curvo inspirada pelas musas, hás de ser Quatipuru em curso de achamento na espiral evolutiva, o estado quântico da idade do Espirito Santo.
Ou seja, concretude da utópica sociedade sem classes.
Ora, ora! Estou a brincar, que nem um monge taoista pós-imperial, com o amável leitor que teve a bondade de chegar até este ponto. Todavia, a parábola zenBubuia já deu a perceber que as cidades desvairadas serão salvas delas mesmas por suas periferias de volta ao bom futuro de um mundo rural mais feliz, pela agroecologia familiar e a economia solidária.
Isto é utopia? Sim! Portanto, #EuVouPraQuatipuru atar minha rede branca ao por do sol, amar, dormir e sonhar que o mundo ainda terá amanhã. Disse o bárbaro pajé da heresia dos índios ao inquisidor da visitação do Santo Ofício na Bahia: "Deus criou o homem para dormir e sonhar. Sonhar sempre com a Terra sem males. O índio herege morreu na forca da Inquisição, mas o seu sonho impossível não morreu.
Já decidi pegar meu velho título eleitoral colar ao peito sobre o bolso da velha camisa vermelha desbotada como se fosse uma condecoração de guerra. Sair flanando até encontrar uma criança inocente que pergunte a sua mãe: "que é aquilo que o velho colou sobre o bolso da camisa?... E ouvir a mãe responder: "Macacos me mordam se eu já vi algo semelhante".
Então terei chegado enfim à minha Quatipuru sonhada como a Pasárgada do poeta Bandeira, serei amigo do cacique local e dormirei em paz com a mulher que me escolheu por companheiro da sua vida inteira, que me atura e me acompanha há muitas luas e sóis...
Na mocidade, eu fui um caboquinho sossegado que cresceu viajando sem pressa entre a cidade e as ilhas filhas da Pororoca. O rio da minha vilarana queria me matar afogado em tenra idade, talvez pra me poupar de outros futuros apuros na vida, fui salvo no último minuto por um colega pretinho que nadava e mergulhava feito peixe e me matava de inveja. Resultado, fiquei com medo do rio e aprendi a nadar muito tarde, coisa horrível a um pirralho ribeirinho que amava descobrir terras novas...
Apesar de ter aprendido cedo a ler e a escrever, até tarde fui um desempregado politicamente analfabeto. Então, sem escola secundarista e lazer, por causa de pelada de futebol suburbano caí no conto patriótico de um grêmio de "estudantes" profissionais, caí feito patinho no ninho galinha verde.
Tudo orquestrado: do time de futebol amador, passei ao grêmio estudantil e logo promovido a filiado de um partido popular anticomunista, cuja doutrina nacionalista supostamente cristã pregava medo aos ateus russos, que podiam invadir o nosso Pará católico.
Na minha terra, durante a guerra mundial, a paranoia perseguia o padre alemão vigário da paróquia e preparava a defesa civil contra invasão aérea japonesa. As crianças tinham pesadelos onde a Matinta pirera virava, paresque, camicaze... A Voz do Brasil era fraca e incerta em meio a chuvas e trovões, mas a rádio em ondas longas da Voz da América reboava forte sobre os campos do extremo norte brasileiro.
De repente, caíram-me as escamas dos olhos... Que nem na história do sicário judeu Saulo de Tarso a caminho de Damasco. Para mim, a velha Síria aramaica e cristã primitiva foi no nordeste paraense a cidade de Igarapé Açu, onde fui a bordo de trem Maria Fumaça pelo caminho de ferro de Bragança assistir como repórter uma reunião sobre a reforma agrária. Eu não sabia que a tal reforma mexia comigo e os meus: fui integralista e voltei comunista pelos trilhos da velha estrada de ferro Belém-Bragança...
Em consequência, tive a elevada honra de ser expulso do partido fascista como "perigoso agente do comunismo internacional"... Em realidade, naquele tempo, do "exterior" da minha aldeia do Itaguari eu só conhecia Abaetetuba a oeste e Bragança a leste...
Agora, mais comunista marajoara que nunca, nos últimos quarteis de vida, totalmente desiludido da tal democracia "representativa" burguesa estou inclinado a ser com certeza um perigoso agente do comunismo sumano interiorano.
O comunismo marajoara, como se sabe; existe desde o tempo dos paleo-índios, há 5.000 anos atrás. De maneira que, hoje, se um marreteiro vier especular o preço do açaí na safra e, como quem não quer nada, perguntar a quem pertence o sítio, o açaizal da varja, a canoa e a barraca; o caboco responderá de boa fé, invariavelmente, que tudo aquilo é "nosso"... Porém, se o cara vier com patifaria a querer saber de quem é a caboca faceira que anda pelo terreiro, levará malcriação na lata: "A casa é nossa, masporém a mulher é minha, seu filho da mãe!".
De besta, caboco só tem a cara. Já dizia Alfred Russel Wallace, co-autor da teoria da evolução das espécies com Darwin, "o caboclo marajoara é tremendo".
O comunismo marajoara, como se sabe; existe desde o tempo dos paleo-índios, há 5.000 anos atrás. De maneira que, hoje, se um marreteiro vier especular o preço do açaí na safra e, como quem não quer nada, perguntar a quem pertence o sítio, o açaizal da varja, a canoa e a barraca; o caboco responderá de boa fé, invariavelmente, que tudo aquilo é "nosso"... Porém, se o cara vier com patifaria a querer saber de quem é a caboca faceira que anda pelo terreiro, levará malcriação na lata: "A casa é nossa, masporém a mulher é minha, seu filho da mãe!".
De besta, caboco só tem a cara. Já dizia Alfred Russel Wallace, co-autor da teoria da evolução das espécies com Darwin, "o caboclo marajoara é tremendo".
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017
Nas margens do Marajó-Açu: mariscando pela beira das memórias do Bernardes.
farol Itaguari - construído na década de 1930 na foz do rio "onde o Marajó começa". Foto de capa da primeira edição da obra Nas margens do Marajó-Açu de autoria do notável pontapedrense Bernardino Ferreira dos Santos Filho (1993).
"Naquela estrada sinuosa de terra batida, ladeada de cajueiros, que corta o campo de mangabeiras, os pássaros esvoaçam entre os igapós e os arroios, e pousam nos ramos ao entardecer chilreando no silêncio dos céus. O campo é tão silencioso que escuta o zumbir do silêncio. Nos igarapés escuta-se o cair das águas nos cascalhos, num murmúrio tão suave, que faz adormecer.
Nas cabanas uma lamparina de luz trêmula e uma vela acesa à porta de um pequeno e tosco oratório; lá, o caboclo pescador reza antes de ir à pescaria, fazendo promessas à Nossa Senhora do Bom Tempo, para enfrentar as bravas ondas da Baía do Marajó.
Deitado no banco corrido de madeira, com pés em forquilha, velho Bibiano discutia política municipal: ao longe ouvia-se o som do clarinete do caboclo Gordiano tirando notas musicais por ele mesmo inventadas ao gosto dos mangabeuaras. No campo as mangabas estavam maduras, os cajueiros floriam e nas altas castanheiras bem no espingarito, os ninhos dos japiins balançavam na ventania.
Na barraca feito capelinha, o Espírito Santo em ladainha com tambor e violão.
Em passos rápidos os Tapuios surgiam do mato com aturás às costas, com correias de cipó passadas cruzando o peito, curvados para a frente, carregados de mandioca para o preparo da farinha d'água e beijú, feitos em forno de barro e tacho de cobre, trabalhado por belas caboclas morenas, vestidas apenas com saia, de busto e seios nús, sem que isso despertasse maldade entre os homens nativos bons e ingênuos. Descendo o barranco por caminhos estreitos, a praia orlada de coqueiros que estão sempre tombados contra o vento, onde à noite a lua parece nascer das profundezas das ondas da baía, brilhando nas folhas das bacabeiras. Andei pela solidão, sentei-me nas areias da praia, as ondas molhavam meus pés... juntei pedrinhas entre os escolhos, percorrendo a vista pela imensidão, em minha frente o mar de espuma brilhante de estrelas; para os lados, blocos castanhos de pedras, atrás, lá para as bandas do poente, a minha vila à sombra das mangueiras, Ponta de Pedras". [Bernardinho Ferreira dos Santos Filho, Nas margens do Marajó-Açu, edição do autor: Belém do Pará, 1993, pp. 9 e 10).
Começa assim a lírica aquarela da saudade do Bernardes (apelido fraterno de Bernardino Ferreira dos Santos Filho). Singelo e ingênuo livro de lembranças do nosso Saint-John Perse papa goiaba, a memorável obra não pretende tomar ares acadêmicos de forma nenhuma, mas mesmo assim o modesto e espontâneo Nas margens do Marajó-Açu nos lembra de longe o Menino de Engenho do paraibano José Lins do Rego: um melancólico canto de fogo morto e alambique seco sobre a decadência canavieira do Nordeste.
A nossa velha Ponta de Pedras na ponta da grande ilha do Marajó, sozinha é maior que um país insular da outrora África colonial portuguesa, chamado São Tomé e Príncipe. No passado este país irmão de língua portuguesa na CPLP, foi entreposto de escravos com destino ao Brasil. Os cativos da Guiné, Angola e Moçambique passaram por ali ou por Cabo Verde... Donde vieram os escravos do engenho dos frades de Santana do Arari? E dos mais engenhos como Araquiçaua, Itacoã e Campininha tão entranhados na história de Ponta de Pedras?
Que sabemos nós do tempo das candeias em fuga para velhos mocambos (quilombos) distantes das maldades dos senhores e senhoras de escravos, tais como Gurupá (margem do rio Arari, em Cachoeira do Arari), Tartarugueiro, Bacabal.... onde fugitivos da senzala buscavam abrigo e proteção? "Lá para as bandas do São José, as guaribas cantavam uma novena em coro. O silêncio era quebrado pelo gralhar de uma coruja da noite, que morava nas ruínas da Casa Grande coberta de ervas daninhas.
O velho tio Gentil, contava que numa noite escura, no mais profundo silêncio, já muito tarde, pressentiu que os cães latiam acuando algo, para depois ouvir embaixo do soalho, apenas uns grunidos como se estivessem se escondendo. Um dos cães conseguiu penetrar na varanda da casa, pulando pela janela aberta e foi-se esconder com o rabo entre as pernas, embaixo da rede do velho que, nesse instante, ouviu lá fora na escuridão, no rumo da porta, uma voz cavernosa como se fosse do outro mundo, que dizia quase chorando, implorando: "Me ensine a estrada, me ensine a estrada..."
A voz foi se perdendo na imensidão do campo, e nesse momento, o pavor tomou conta da casa, ninguém mais dormiu, até os galos cantarem e o dia raiar nas campinas." (pag. 47). A voz da escura noite marajoara foi se perdendo no tempo: mormente quando o esclarecido prefeito Fango mandou construir a famosa Uzina de Luz da cidade do Itaguari (Ponta de Pedras). Aquela voz cavernosa que tio Gentil ouviu na fazenda era fantasma escapado de um navio negreiro? Um espirito cabano vagando na grande noite das almas perdidas da Adesão do Pará ao império tupiniquim de Dom Pedro I do Brasil e IV de Portugal? Ou talvez um preto escravo fugindo da tortura do Viramundo, vindo através dos campos de Cachoeira para as bandas de Ponta de Pedras à procura de liberdade em um mocambo qualquer rumo ao Anabiju ou Bacabal, já nos campos do Paricatuba? Lá perto donde uma outra voz, desta vez no romance iberiano de Dalcídio Jurandir chamava pelo filho do senhor de fazenda a fim do herdeiro das sesmarias e rebanhos mil não se perder na mata infestada de fados, feitiços, lendas, duendes: - "Missunga, ó Missunga!"
Além de se tratar do maior arquipélago fluviomarinho do mundo, Marajó é reino encantado. Em seu rico folclore, humilhados da classe mais desvalida vingam-se da maldade dos "brancos" (donos locais do poder) fazendo, como o caso de um certo malvado chamado João Maçaranduba, que havia pacto com o Diabo; ser levado vivo para o Inferno. O poeta Dante não faria melhor... Diz-que, um valente vaqueiro, chamado Santuca, tendo pescado no lago grande quantidade de peixes do mato, precisou arrumar um grande cesto para levar os peixes ao mercado antes de estragar e do sol levantar. Noite alta, céu coberto de nuvens escuras, montado em seu cavalo marajoara alazão com o balaio de peixes na garupa, o vaqueiro trotava atravessando os campos gerais mergulhado em silêncio e trevas.
De repente, eis que Santuca viu sair do nada em meio às sombras um grande vulto à sua frente. Era um cavalo pardacento, parecendo vir das baias do inferno, sobre a sela um cavaleiro sombrio que lhe cortava o caminho. Santuca refreia o trote do animal. A estranha figura salta da sela dizendo, com voz de trovão, "se tu és homem vamos lutar pra ver quem de nós dois pode mais"... Santuca pensou, valei-me São Sebastião! Ele não era homem de fugir a nenhum desafio, nem que viesse da parte do Capeta.
Naquelas horas mortas, sem testemunhas aconteceu nos campos do Marajó a maior peleja metafísica do mundo, noves fora a extraordinária luta de Jacó contra Jeová-Deus dos Exércitos na terra de Canaã... Dá-lhe em riba, dá-lhe embaixo... rasteira rabo de arraia pra lá, cabeçada pra cá... murro, capoeira, tapa, bofetão, marrada... O vaqueiro meteu mãos ao balaio passando a arremessar sobre o Inimigo uma saraivada louca de pongós, jejus, traíras e cachorrinhos-do-padre que ele estava levando para o mercado.
Desta feita, paresque, o vaqueiro Santuca havia topado macho mais atrevido que ele e o coisa ruim achou um homem de fato, que topava qualquer parada e lutava que nem sete demônios. Assim foi a desconforme peleja até que o galo cantou para avisar que o tempo já era pertencente à madrugada. Então, o lutador das sombras falou: "o que te salvou foi o galo cantar!". Santuca retrucou, "e a ti, seu corno, o que te livrou da porrada foi o peixe acabar".
Do fundo da memória do Bernardes os "Tapuios surgiam do mato com aturás às costas, com correias de cipó passadas cruzando o peito, curvados para a frente, carregados de mandioca". Tapuio é o índio manso catequizado, servo da gleba remanescente do Diretório dos Índios (1757-1798) e descendente do índio brabo da "tribo" dos Guaianazes [Guaianá] e diversas outras etnias "nheengaíbas", às quais se referiu, no século XVII, o Padre Antônio Vieira. Segundo o naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, da Universidade de Coimbra, na Notícia Histórica da Ilha Grande de Joanes ou Marajó (1783), os extintos Guaianás tiveram aldeia elevada em Lugar de Vilar (1758) no igarapé de mesmo nome chamado e que morreu pelo assoreamento (próximo ao depois povoado Pau Grande e hoje agrovila Antônio Vieira). O caboco Gordiano povoa as lembranças do Bernardes com o som do clarinete afinado com a brisa que sopra da baía imensa como o mar das imaginações ao cair da tarde... Prova de que os antigos pontapedrenses em geral tinham pendor para música de sopro, que está na origem da tradicional Banda Musical da cidade.
O Bibiano a que se refere era, certamente, Bibiano Rodrigues que deu nome à rua principal da vila da Mangabeira, pai de Brasilino Rodrigues, Luciano e Raimundo "Abaeté" Rodrigues... Este último foi vereador e, certa vez, me contou o caso em que Bibiano arpoou o derradeiro peixe-boi que apareceu na comedia perto da boca do extinto igarapé do Vilar. Bibiano arpoou, mas não aguentou o bicho que era deveras grande e foi levando arpão, linha, pescador, mutá, canoa e tudo mais... Brasilino Rodrigues dizia que por dificuldade de porto para canoas de pesca, então Bibiano levou para Mangabeira a família junto com os últimos moradores do "Vilarinho" (Lugar de Vilar) juntando antigos mangabeuaras e derradeiros descendentes dos Guaianás, à meia légua de distância acima pela beira da baía. A casa de Bibiano na Mangabeira teria sido a primeira coberta de telhas de barro, enquanto as mais ainda eram cobertas de palha com parede de pau a pique revestida de barro. A dificuldade de porto foi causa principal da mudança do primitivo Lugar de Ponta de Pedras (1758) elevado da antiga aldeia das Mangabeiras (1686) e freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Ponta de Pedras (1737) para a margem esquerda do rio Marajó-Açu. Emancipada com Vila de Ponta de Pedras no dia 30 de abril de 1878.
O Engenho Bem-Bom, em Ponta de Pedras, é lugar de memória salvo da corrosão do tempo e da voracidade do espaço em contínua evolução pelo singelo livro do Bernardes: um dedo indicador histórico que nos remete à aventura da colonização portuguesa na Amazônia pelo braço escravo africano e a roça de cana de açúcar trazida da ilha da Madeira para o Brasil e, primitivamente, da Índia como a primeira mangueira que o velho José Ventura Boulhosa plantou na antiga terra do índio Marajó, dada em sesmaria em 1686 aos Jesuítas e desapropriada, em 1757, pelo Marquês de Pombal para doar ao contemplado Domingos Pereira de Moraes, provavelmente patriarca da família de Antônio Pereira de Moraes, que foi sogro do mestre-pedreiro português Cândido Cerdeira, construtor dos principais prédios da municipalidade; e primeiro presidente da Câmara Municipal da nova Vila de Ponta de Pedras (conforme à ata de instalação nova Vila de Ponta de Pedras, em 30/04/1878).
Como, remotamente, veio da Índia também o pé de jambo que o doutor Romeu Santos, irmão político do memorialista Bernardes; mandou plantar no jardim da cidade em face ao Palácio Municipal mandado construir pelo cachoeirense Major Djalma da Costa Machado; como o hindu gado zebu e o búfalo vieram parar nas fazendas marajoaras, depois do gado vacum e equino vindo diretamente de Cabo Verde. O engenho do capitão Bernardino Ferreira dos Santos, imigrante de Oliveira dos Frades, na Beira Alta (Portugal) em Ponta de Pedras (Marajó, Pará, Brasil) não existe mais na geografia ribeirinha do Marajó-Açu. Todavia, existe na memória dos leitores do Bernardes; tal qual na beira do rio Arari, em Cachoeira, o chalé-ilha de Alfredo batido de vento e chuva se acabou pelo descuido dos vivos, mas resiste enquanto houver um leitor de Dalcídio Jurandir.
De certo modo, comparo Bernardes ao prêmio Nobel de Literatura de 1960, Saint-John Perse. Nesse ano em Ponta de Pedras com Arrison Alencar, Suetônio Andrade, Carmosino Malato e outros mais da informal "turma da Poronga" (nome de uma pequena mercearia do Arrison, na boca do Carnapijo e esquina do campo do Marajoense; onde a rapaziada desempregada reunia-se para jogar conversa fora e idealizar o futuro) fundamos o Grêmio Cultural Marajó de vida curta e longas pretensões. Pode ser exagero comparar o nosso Bernardes com laureado francês Saint-John. Mas, primeiramente pelo temperamento cordial e diplomático do filho mais novo do capitão Bernardino Ferreira dos Santos, e o diplomata e escritor nascido no seio de uma família de velhos colonos franceses na ilha de Guadalupe, Antilhas francesas.
Ao contrário da poesia libertária da negritude de Aimé Cesaire, da ilha da Martinica; que acha ressonância em Bruno de Menezes no Pará; Saint-John via a Guadalupe como uma ilha idílica despida de maiores conflitos entre os povos Caribes que lá povoaram primeiramente, colonos e escravos, era ele saudosista do ancien régime. Bernardes que nem o premiado escritor francês descendia de proprietários de terra, era neto dos primeiros Tavares portugueses que emigraram para a ilha do Marajó e introduziram o cultivo da cana de açúcar em Ponta de Pedras, requerendo mão de obra escrava.
brasão da família Tavares em Portugal
As ruínas idílicas dos engenhos emolduram as lembranças do memorialista de Ponta de Pedras. Bernardes revela no começo e fim do livro atração sentimental pela antiga aldeia da Mangabeira, lugar onde a história do município começou. Na paisagem da saudade que ele pinta, finalmente, o progresso parece ressuscitar na auspiciosa gestão de Wolfango Fontes da Silva, Fango; que foi buscar nas famílias nordestinas assoladas pela secas o braço trabalhador - num tempo que não existia verba federal, bolsa família, defeso da pesca, nem aposentadoria rural - que daria novo impulso ao município.
Assinar:
Postagens (Atom)