Os 110 anos de nascimento de Dalcídio Jurandir caiu por acaso na Semana Cabana (de 7 a 13 de janeiro), em meio da programação oficial do novo Governo do Estado dando os primeiros passos: nunca dantes na história deste pais que se chama Pará, a gente tinha visto igual; noves fora o Sesquicentenário da Cabanagem (1985) com inauguração do monumento projetado pelo arquiteto de Brasília e da sede da ONU, Oscar Niemeyer. Na verdade, como observou com razão o arquiteto Flavio Nassar, decorridos 34 anos da inauguração do monumento, a expansão urbana matou pela segunda vez Batista Campos, Francisco Vinagre e Eduardo Angelim tirados de seus repousos eternos para as profanações do Entroncamento.
Segundo o professor Nassar, presidente do Fórum Landi, o projeto original de Niemeyer deveria ser reedificado em sítio mais propício, com garantia de não vir a ser desfigurado como sucedeu no Entroncamento. Aventou o professor o Portal da Amazônia para dar guarida a esta segunda construção do projeto original, feita remoção dos restos mortais simbólicos com devido cuidado e honras de estado, tais tais acendimento de pira mortuária permanente e iluminação sob guarda contínua.
Portanto, o distinto público carece saber que a Criaturada grande de Dalcídio tem sangue cabano lhe correndo nas veias, que nem rios e igarapés correm pelo solo sagrado do Índio Sutil. Então, não posso perder mais esta oportunidade de cobrar das respectivas autoridades, em nome da Criaturada, também a reconstrução do chalé do romance Chove nos campos de Cachoeira a par da reforma do Museu do Marajó, projeto muito importante para viabilizar o turismo literário de inclusão socioambiental na Rota Turística da Cultura Marajoara.
Quando jovem vivendo eu na ilha do Marajó minha avó Sophia (na verdade tia que adotou seu irmão órfão, Rodolpho Antônio, que foi meu pai) deu-me a ler o romance Marajó dizendo ela ter sido escrito pelo meu tio Dalcídio. Primeiro deslumbramento de um jovem caboco ainda semi-alfabetizado. Por causa daquela incipiente leitura, há coisa mais ou menos de sessenta anos, eu quis ardentemente escrever romance como aquele. Pelejei muitíssimo, gastei resmas de papel e rios de tinta, fiz calo nos dedos até poder comprar a primeira máquina de escrever que conservo ainda. Compreendi por fim que aquilo que eu queria fazer a fim de testemunhar a Criaturada, já estava feito. Todavia, graças ao labor beneditino tornei-me apto a entender o mundo das Ilhas, Marajó, Baixo Amazonas e Belém do Grão-Pará. Para não perder a viagem escrevi três ensaios e tornei-se blogueiro muito insistente: tudo isto para dar notícia ao mundo da existência desta gente.
Porém, quando eu falo da Criaturada me dá dó que esta gente, em maior parte, não sabe ler e escrever. Como um caboquinho ou uma zinha sabendo malmente rabiscar o nome e ler bilhete, 'havera' (sic) de decifrar o letrume complicado do romance dalcídiano? Não contavam com a astúcia do caboco! Eis que apelo aos sumanos trovadores e cordelistas a ousar a tradução poética do acadêmico ciclo Extremo Norte. Coração valente, alma forte!
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