segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Amazônia Marajoara: o legado de Denise Shaan como base para uma política de estado.

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Pela rede ficamos sabendo da visita do governador Helder Barbalho à ilha do Marajó vinte dias após ele tomar posse do governo. Não poderia ter data mais significativa para o novo governador ir ao chão de Dalcídio: Dia de São Sebastião e Dia Nacional da Consciência Indígena. Sua Excelência iniciou a viagem em Soure, foi a Salvaterra e encerrou a jornada em Cachoeira do Arari: nesta cidade viu o mau estado de conservação do Museu do Marajó, fechado ao público. Na ocasião, assinou termo de convênio com a Prefeitura Municipal para obras de recuperação necessárias e retornou à capital estadual levando a obra Cultura Marajoara, de Denise Pahl Schaan, como lembrete

É deste livro que eu quero falar. Não se trata de obra científica, nem mesmo do livro Remando Por Campos e Florestas que Denise escreveu com Agenor Sarraf e Jane Felipe Beltrão, destinado à educação escolar. Trata-se de obra de divulgação para público leigo, a história da antropologia marajoara e o papel do Museu do Marajó como museu comunitário de fundamental importância na educação patrimonial da gente marajoara e na formação de uma opinião pública favorável ao conhecimento e preservação da cultura marajoara. 

O Museu do Marajó é fiel depositário de peças de cerâmica arqueológica legalmente de propriedade da União, assim como colecionadores particulares no País a par de museus nacionais como o Museu Paraense Emílio Goeldi e outros. Todavia, a propriedade de cerâmica marajoara por instituições estrangeiras, mencionadas no dito livro; pode ser questionável. E ainda que não seja, o ideal seria o repatriamento das coleções atualmente no exterior de maneira a constituir projeto de cooperação internacional sob a égide da UNESCO.

E aí vemos o paradoxo dessas coleções de cerâmica marajoara em museus estrangeiros face à pobreza humana no rico potencial natural e cultural do maior arquipélago fluviomarinho do planeta, situado no delta-estuário do maior rio do mundo! Bem ou mal, meio milhão de marajoaras vivem na mesorregião maior que o território do Rio de Janeiro, enquanto alguns países insulares independentes possuem menor tamanho e população. Mas, falar de repatriamento simplesmente para trazer o acervo primevo da amazonidade para grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro ou mesmo Belém; seria decepcionante. Sobretudo, diante das imagens do incêndio do Museu Nacional. Lá se foram as primeiras peças extraídas do teso (sítio arqueológico) do Pacoval, em fins do século XIX, por Ladislau Neto e Ferreira Penna, das quais uma parte selecionada foi remetida para a Exposição Universal de Chicago de 1893, comemorativa dos 400 anos da chegada de Colombo. 

480 anos depois de Colombo iniciar a destruição das Índias Ocidentais (cf. Bartolomeu de Las Casas, Brevíssima relação da destruição das Índias Ocidentais) e 472 anos após o espanhol Pinzón arrastar 36 "negros da terra" (escravos indígenas) - os primeiros da América do Sul -, da ilha Marinatambalo (Marajó) para o cativeiro da ilha Hispaniola (Haiti); o "índio sutil" Dalcídio Jurandir recebeu o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras; e o jesuíta Giovanni Gallo fundava o Museu do Marajó no berço da civilização marajoara de 1600 anos de idade; há 314 anos das pazes de Mapuá (Breves) entre portugueses e tupinambás de uma parte, e nheengaíbas (marajoaras) de outra graças as tentativas de paz do padre Antônio Vieira.

Dos restos desta história esquecida, foi inventado o Museu do Marajó a partir de "cacos de índio", provavelmente sobras do contrabando e saques do teso do Pacoval, no Igarapé do Severino; fronteiro à vila de pescadores do Jenipapo (Santa Cruz do Arari). No prefácio à terceira edição (2005) de Motivos Ornamentais da Cerâmica Marajoara, de Giovanni Gallo; Denise Schaan frisa o aspecto da resinificação da cultura marajoara ancestral pelas novas gerações.


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O Brasil, o Pará e a Amazônia Marajoara de acordo com o pacto federativo, devem inserir este patrimônio singular mediante uma política de estado para o desenvolvimento humano. Trata-se sim da Arte primeva brasileira cujo resgate deve ser condição sine qua non para inclusão social da gente marajoara no bojo da Agenda 2030 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

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