domingo, 20 de janeiro de 2019

Um turismo com a cara marajoara: o sagrado e profano nos campos de Cachoeira

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Todos anos, no dia 20 de Janeiro, o povo marajoara festeja o Glorioso São Sebastião em diversas cidades da Amazônia Marajoara, inclusive Belém do Pará nas comunidades oriundas das Ilhas. Todavia, de todos lugares a festividade de maior expressão popular acontece em Cachoeira do Arari onde a tradição se manifesta como preamar do sagrado e profano numa procissão que vem de muitos tempos e lugares através do grande rio-mar e do Oceano até se tornar singularidade da mistura fina desta civilização amazônida de mais de 1600 anos de idade. 

A Festividade sebastiana de Cachoeira do Arari, graças ao trabalho de fôlego da Irmandade dos Devotos do Glorioso São Sebastião (IDGSS); foi reconhecida como patrimônio cultural imaterial nacional pelo IPHAN e também pelo Estado do Pará. Síntese de diversas expressões religiosas nativas na tradição da pajelança caboca; católico romana e de matriz africana no sincretismo cultural do maior arquipélago fluviomarinho da Terra; São Sebastião é cultuado popularmente como santo de igreja e orixá guerreiro Oxossi, protetor das matas e da caça, fundindo assim crenças e ritos, como se lê no romanceiro de Dalcídio Jurandir e como Giovanni escreveu na obra "Marajó, a ditadura da água". 

Este simples registro é só para dizer, mais uma vez, que a vocação econômica do Marajó é o turismo. Mas, não um turismo qualquer excelente lá onde ele acontece; porém um turismo com a cara e a alma marajoara. Claro que isto já existe e está debaixo do nosso nariz, embora a gente esteja cego de tanto ver. Conforme a lição deixada pelo padre Antônio Vieira, no Sermão aos Peixes, em São Luís do Maranhão, em 1654, quando o padre grande dos índios estava a caminho de Lisboa a fim de pedir ao rei Dom João IV a lei de 1655 para abolição dos cativeiros. Toda uma longa história, que chega até Dalcídio, como por exemplo, no romance Marajó, com raízes no romanço medieval ibérico transplantado ao mundo-Marajó com seus senhorios e escravos; Giovanni Gallo e outros defensores mais recentes da Criaturada. 

Um turismo com a cara marajoara, que vende o queijo do Marajó, canhapira, frito de vaqueiro, muçuã, carne de capivara, jacaré, marreca - todas essa mucuagens clandestinas e devastadoras do meio ambiente -; que graças a um turismo inteligente devem abandonar a ilegalidade, para assumir exemplo de manejo na Amazônia.

Dar concretude ao disposto na Constituição do Estado do Pará (área de proteção ambiental do arquipélago do Marajó, parágrafo 2º, VI, Artigo 13). Base para candidatura da Reserva da Biosfera Marajó-Amazônia. Atualizar o PLANO MARAJÓ inserido doravante na Agenda Marajó 2030 dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), celebrado pelo Brasil junto à Organização das Nações Unidas (ONU). 

Um turismo estratégico, deste modo, com a justa aspiração de tornar Marajó em algo comparável a Costa Rica na Amazônia paraense. Um turismo cultural amigo da Educação Ambiental, que não seja apenas um dia de festa; mas o dia a dia das escolas em preparação da hospitalidade, com que o turista seja conquistado a retornar e falar bem da cidade marajoara acolhedora e feliz. Uma cidade educadora centrada em seu museu comunitário, que se irradia às redondezas e aos municípios vizinhos através de rede de ecomuseus em extensão. Sonho do padre dos pescadores do Arari ao inventar com "cacos de índio", por acaso, o primeiro ecomuseu brasileiro avant la lettre: para a comunidade e com a comunidade... O visionário jesuíta escolheu primeiro Santa Cruz do Arari e finalmente Cachoeira para tirar o homem marajoara da margem da História, não quis ele simplesmente criar um museu do Marajó na capital do estado, nem na cidade turística mais famosa da ilha (Soure)... Mas, precipuamente, despertar a gente marajoara para o renascimento da Cultura Marajoara ancestral no berço onde ela nasceu, cerca do ano 400 da era cristã. É disto que se trata. E para isto, a Festividade de São Sebastião de Cachoeira do Arari veio a ser o melhor atrativo do Museu do Marajó na terra adotiva de Dalcídio Jurandir. 

Um turismo literário onde a vedete, sem dúvida, será o "índio sutil" assim chamado por Jorge Amado; porém que esse turismo abra espaço a outros autores marajoaras, tais como José Viana, Miranda Neto, Vicente Chermont de Miranda e tantos e tantas mais hoje no ostracismo e mais modernos.

Viva então, o Glorioso São Sebastião! Viva Cachoeira do Arari! Viva o grande Marajó! 

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