domingo, 18 de dezembro de 2016

BRASiLHAS - viagem de circunavegação do arquipélago nortenordestino para amazonizar a ilha do Brazyl.

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A palavra mágica é resiliência. 
Qualquer sumano caboco pode saber
e gozar da excelência do conhecimento tradicional
na universidade da maré com mestres pajés zenbubuia
a resistência da vida sempre viva 
recuperar infinitamente sua própria existência no mundo.

A um biólogo sabido a ave guará é espécie ciconiforme
família Threskiornithidae parenta do ibis sagrado do Nilo
conhecida também como ibis escarlate,
guará vermelho, guará rubro e guará pitanga
nome científico Eudocimus ruber, cujo significado
é 'ave vermelha gloriosa', do grego 'eu', bom;
e 'dokimos', excelente; e do latim 'ruber', rubro.

A um verdadeiro pajé sakaka da ilha do Marajó
a ave vermelha gloriosa dos ornitólogos
não é só um lindo bicho de penas cor de sangue
comedor de sarará do mangal
o guará é também pássaro encantado, espírito telúrico
que nem o ibis sagrado seu parente mágico do Egito
esta nossa gente sabe que guará é caruana
tem a tal resiliência da mãe natura em suas asas mágicas
que nem o pavãozinho-do-Pará, o peixe feiticeiro aruaná,
jundiá, boto tucuxi, cobra grande e tantos mais caruanas
arquétipicos
Inclusive a jiboia e a onça pintada quando mundiam a embiara,
o macaco guariba que faz meuã pra assombrar caçador
e tantas ervas e plantas mágicas como o tajá Rio Negro,
mucura caá, pião roxo, orisa, cipó mariri 
e folhas de cipó chacrona no chá do santo Daime poderoso. 

Estes são antigos saberes de nossos antepassados
de aquém e além mar
patrimônio sagrado da velha civilização marajoara
aumentado com as águas emendadas de rio e do Mar-Oceano
na tradição dos turcos encantados
a santidade tupi-guarani, rezas açorianas
do divino espírito santo. 



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Ave Cultura Marajoara! Arte primeva brasileira 
largada entre chuvas e esquecimentos ao pisoteio dos búfalos
nos campos do Marajó
1500 anos contemplam a colonialidade adquirida das capitanias hereditárias do alto dos tesos arqueológicos de camoti
arquitetados por engenheiros do Arari pés descalços
antes que mercadores fenícios e irlandeses fossem vender
o sedutor pigmento vermelho a poderosos reis da Europa,
o cobiçado brazyl escondido a sete chaves
no misterioso país de São Brandão.

Já estavam aquém Oiapoque matriarcas donas do segredo
mortal do curare na fronteira da vida e da morte,
afilhadas da mestra Jararaca (Bothrops marajoensis),
caciques e pajés açus reis em suas aldeias suspensas 
sobre campos alagados e lagos encantados, 
enquanto no velho mundo futuros navegadores
dentre pescadores premidos pela monstra fome
sonhavam eles achar e descobrir as ilhas Afortunadas,
Antilha e uma então imaginária ilha do Brazyl
tempos depois achada nos Açores em riba do monte 
Brasil chamado, 
caminho do futuro descobrimento de Pedro Álvares Cabral
no pais tupi das Palmeiras ou Pindorama. 

O rei mandinga Abubakari II, do Mali, foi o primeiro navegador
do Atlântico Sul, 
antes de Colombo pelo caminho do Ocidente chegar em Guaanani 
no ano da desgraça de 1492:
mas antes o povo Aruã migrou do Caribe através de Trinidad
por voltas de 1300 já estava ocupando ilhas do Marajó
empurrando as mais velhas nações ilhanas para a costa fronteira
do Pará. 

O payaçu dos índios, Padre Antonio Vieira, evitou o genocídio
dos Nheengaíbas dando termo a mais de 40 anos de guerra
de conquista do rio das Amazonas, 
todavia ele não conseguiu com sua famosa lábia barroca,
cartas e sermões 
evitar que a coroa roubasse as terras da ilha ancestral dos Marajós 
doadas para criar a capitania hereditária da Ilha Grande de Joanes.

Cem anos passados da primeira Real usurpação dos direitos dos índios nheengaíbas, 
o déspota diz-que esclarecido Marquês de Pombal 
extinguiu a malfadada capitania dos barões de Joanes,
expulsou os Jesuítas, tomou as fazendas destes
para dar aos Contemplados e criar o Diretório dos Índios 
onde os tapuios catequizados em Nheengatu pelos padres aprenderam a falar português a pulso 
saidos do mato para ser 'caboclos'. 
Ou seja, quase portugueses amazônicos civilizados.

E agora José? 
Sem eira nem beira a ver navios à margem da História...
Mais de 400 anos de invenção da Amazônia se passaram:
carece descolonizar o Grão-Pará e amazonizar o Brasil.
Promover renascimento da velha Cultura Marajoara
reinventar a ecocivilização amazônica antes que se acabe.

As impossíveis pazes de Mapuá foram inventadas
para impedir a "guerra justa" impossível de vencer
pelas fracas forças lusas em Feliz Lusitânia e as combalidas
armas tupinambás pau pra toda obra, esgotadas
e já despossuídas da utopia selvagem da Terra sem males:
doutro jeito o grão Pará teria sido uma enorme Guiana
holandeza ou inglesa com certeza.

Quem é que sabe?
O padre Vieira diz que escreveu carta-patente aos Sete Caciques
Nheengaíbas: isto ninguém pode acreditar no terreno da lógica
linguística e gramatical da boa língua portuguesa...
Mesmo que o Payaçu dos índios escrevesse aos falantes
da "língua ruim" (as muitas línguas dificultosas das ilhas)
no melhor Nheengatu da missão
isto não poderia servir pra nadinha: visto que esta gente
era analfabeta e continua sendo até hoje em grande parte.

Masporém, se o caboco zen que vos fala é ingênuo; 
o padre grande não era não: 
se ele diz à rainha mãe de Portugal e a seu filho rei menino desinteressado dos negócios do reino
que ele Padre superior das Missões tutor dos índios por delegação competente de Sua Majestade Fidelíssima, etc. 
escreveu a tal carta-patente em papel com timbre
da Companhia de Jesus
é por que tinha em mente a tempestade amazônica em curso
preparava-se a retornar ao teatro europeu a fim de prosseguir
o manifesto na carta secreta "As Esperanças de Portugal".

O padre grande do Grão-Pará de fato não escreveu aos índios,
nem ao rei, nem ao Papa... Na verdade escreveu para o futuro
a todos e a ninguém: a carta-patente imaginária era esboço
daquilo que ele realmente na solidão do convento botou no papel
à Dona Luísa de Gusmão, na data de 29 de novembro de 1659:
um memorial fantástico onde a realidade e a ficção se abraçam
para, mais tarde, em estado de necessidade no tribunal
da Inquisição servir de memória à História do Futuro
e a interminável obra O Reino de Jesus Cristo consumado na terra ou a Chave dos Profetas.

Mas, então o que de fato o representante do Estado Real de Portugal e da Santa Sé Romana mandou aos Sete Caciques
confederados naquela ilha rebelde que só falava nheengaíba,
praticava pirataria e não queria conversa com "índios cristãos"
nem portugueses aliados destes?

O diabo era o Marajó pedra dura no meio do caminho
da Terra sem mal dos guerreiros tupis,
barreira do mar português aos descobridores do El-Dorado.
Vieira em seu labirinto amazônico queria porque queria
ressuscitar el-rei Dom João IV que nem o poeta sapateiro
Bandarra ressuscitou o esperado Dom Sebastião...

Coisa extraordinária:
Bandarra estava morto e sepultado em Trancoso
quando o povo português entendeu o recado
para o Conde de Bragança se empoderar da pessoa
memorial de Dom Sebastião...

Bandarra é verdadeiro profeta!
Escreveu Vieira a caminho de Cametá subindo o rio Tocantins
candidatando-se a profeta da história futura do rio Babel.

Eis que o verdadeiro recado do Padre grande aos Sete Caciques
imagem do Cão chupando manga
foi dado por dois índios embaixadores sonsos como o diabo
Jurupari que fala e ri pela boca do pajé,
selecionados a dedo entre 'negros da terra' 
cativos do convento de Santo Alexandre
nheengaíbas portanto, prisioneiros de guerra dos "índios cristãos".

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Índio não quer apito.
Isto já se sabe: mas, o que não se sabia
É que esta gente que o mundo esqueceu aprendeu a ler
e escrever para responder postumamente ao padre Vieira,
primeiramente para reiterar o discurso histórico do cacique
Piié dos Mapuá segundo testemunho do superior das Missões.

Segundamente, de modo justo e perfeito o caboco 
quer se empoderar do direito à memória dos índios seus parentes antepassados
reclamar os direitos ancestrais à terra indígena perdida.
Por esta forte razão, filhos de Ajuricaba e dos Nheengaíbas fizeram
marcha avante a todo vapor na revolução iniciada 
por Pacamão no Maranhão e Cabelo de Velha no Pará.
A gente ainda está na luta por vida melhor para todos
sob a pele e bandeira de açaí e peixe frito dos sumanos cabanos.

Índio virou doutor e viaja dando volta ao mundo abancado
junto a compadres pretos de mocambos e quilombos...
As Índias Ocidentais e Orientais querem ser iguais a todo mundo
Áfricas negras reclamando o berço da humanidade
filha da animalidade.
Somos todos um! Embora 7 bilhões de seres humanos
cultural e socialmente diversos.

O Brasil gigante país do Futuro deve se preparar a andar
mais depressa à frente via ecocivilização amazônica:
a revolução zenbubuia convoca a resiliência dos pajés.

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Aqui e agora sou nheengaíba do século XXI.
Que nem os dois índios embaixadores do convento jesuíta
enviados aos caciques do Marajó
Eu vou só a Brasilia por uma rota nunca dantes
levar aos nobres representantes do Povo recado da Criaturada grande do índio sutil,
mais conhecido por Dalcídio Jurandir;
Guiado pelo guará caruana do pajé sacaca me aventuro ao mar Salgado numa canoa pequena de pescador artesanal.

Quero ir com as asas do vento navegar a corrente brasileira costeira do Rio Grande do Norte até o delta do São Francisco entre Alagoas e Sergipe.
Pará dobrar o cabo do Calcanhar hei de vencer a corrente 
das Guianas contrária ao rumo sul desde a tapera dos Maruaná 
no antigo Pesqueiro Real 
e atravessar para Ilha do Sol ou dos Tupinambás, vou pegar banzeiro debaixo de vento geral
chegar logo em São Caetano, na Vigia passar de Curuçá a Marapanim, Maracanã, Salinas, Pirabas e Bragança
Viseu está a me esperar já faz tempo...

Não deixarei de depositar minha fé caboca ao pé do Rei Sabá
e seguir religiosamente meu guará caruana sempre a me mostrar porto seguro e água boa onde o sol costuma adormecer
e a gente do mar chama de Araquiçaua oferecendo repouso, prosa, peixe assado e carimbó.
A grande corrente equatorial marinha e o poderoso vento do leste
nos traçaram a história, carece as aldeias da beira ir plantar sementes do jardim do mangue
onde filhos de pescadores e mariscadores aprendam escutar 
a grande voz do mar e saber a retumbante notícia das ilhas encantadas, naturais, urbanas e suburbanas do Brasilzão.

Onde nos levou a corrente Norte e nos leva agora a corrente Sul?
Passar ao Maranhão pela boca do Gurupi sem demora São Luís
eu com pressa de dar conta do recado hei de querer chegar cedo ao delta do Parnaíba.
Então os verdes mares do Ceará me convidarão a trocar a curicaca
pela jangada praiana.

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Oh desmedida jornada! A Insustentável leveza a imaginação...
Não dobrei ainda o Calcanhar, em Touros, Rio Grande do Norte donde mudará minha sorte nesta viagem até o delta 
do São Francisco: lá vou eu trocar a jangada
por canoa de vela quadrada, subir o Velho Chico e mudar 
a paisagem do mar pela aquarela do rio
me despedir do pássaro caruana para pegar carranca e afugentar
bichos do fundo.

Vou pedir ajuda a pretos velhos da ilha do Pixaim
que tenham dó de mim, lhes direi em segredo que sou iniciado
na saga do rei Abubakari.

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Ai de mim! 
Quase três mil quilômetros me águas a remontar o São Francisco.
Topar terra firme e vaguear veredas do grande sertão 
Contornar por fim a serra da Canastra para chegar 
às Águas Emendadas pelo desvio do Paracatu? Como hei de ir
a Unaí e Planaltina de Goiás? Subindo o rio Urucuia
poderei no caminho refazer trilhas de João Guimarães Rosa
Não posso me demorar demais, a magia está findando:
Preciso de índio velho em lobo-guará pra me guiar.

Antes de retornar do grande sertão ao Extremo Norte
devo cumprir o fado entregando ao povo candango
o surreal memorial que me traz do passado remoto ao futuro 
da brava gente brasileira.
No Cerrado sigo o espírito do índio Goiá em figura de lobo-guará 
ele guia-me ao córrego Vereda Grande cujas águas vão para o norte 
encontrar o rio Maranhão e alimentar o grande caudal do Tocantins. 

Meu diligente guia com seu sensível instinto animal 
olha-me como se me quisesse dizer que devo talvez 
ainda lançar um adeus amável para o extremo sul
nas águas dos córregos Brejinho e Fumal deslizando a caminho
do vasto Paraná rumo ao Prata através dos rios São Bartolomeu, Corumbá, Paranaíba medindo o tempo infinito e as enormes distâncias que se despedem das Águas Emendadas. 



Resultado de imagem para fotos indios no congresso nacional

Dado o recado da extravagante viagem nortenordestina
a fim de amazonizar o coração do Brasil,
chegou a hora de encerrar a excursão feita por ar e mar 
onde meu guia foi a ave guará caruana,
para doravante seguir o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus),
parente próximo do cachorro-vinagre, 
que me há de valer em busca de veios d'água no Cerrado
descendo lentamente o Planalto para o profundo vale amazônico
em direção ao Tocantins e Pará donde eu vim bater aqui.


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Logo vou emprestar uma velha ubá de um velho índio avá-canoeiro
descer a remo o rio dos Tocantins com mil cuidados
me escondendo da luz do dia para viajar sob a pálida luz da lua
que nem fariam aqueles dois embaixadores nheengaíbas
ida e volta dos começos desta desmedida história dos Brasis.

Ao passar em frente a Cametá melhor será antes do galo cantar,
me lembrarei ainda uma vez do padre grande dos índios.
A barragem de Tucuruí não me deterá pois deixarei a ubá na beira
já me arranjarei com um compadre pescador
descendo o rio em batelão com motor rabeta até Limoeiro do Ajuru
na pesca do mapará.

A odisseia será finita quando outra vez eu chegar ao Rio Pará
encontrar a ilha ancestral marajoara a me esperar 
como Penélope esperou a Ulisses na ilha de Ítaca.

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