sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

NOVOS DESAFIOS PARA CONSERVAÇÃO DO MUSEU DO MARAJÓ.

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O tempo não para! O velho galpão da falida fábrica OLEICA, recuperado em mutirão, nos anos 80, para abrigar o museu do padre Gallo em mudança de Santa Cruz do Arari, de mala e cuia, depois de 35 anos dá sinais de que não aguentará mais uma invernada. Cachoeira já tem o trauma de ter deixado o chalé de Dalcídio Jurandir cair ao chão...

O Glorioso São Sebastião não permita esta gente assistir a pior decadência depois da morte do padre Giovanni Gallo (Turim, Itália; 27/04/1927 - Belém do Pará, 07/03/2003); a completar 16 anos de falecimento no próximo ano! Já a estrutura do telhado recebeu conserto uma vez. Porém, agora parece ser inadiável a reforma do prédio principal do conjunto (exposição Giovanni Gallo, reserva técnica arquelógica, albergue, oficina, casa do Gallo e Fazendola), este reclama projeto mais arrojado e, portanto, mais caro. O museu não poderá arcar o custo com seus próprios recursos.

Em Cachoeira do Arari até os pobres moradores do bairro ribeirinho do Choque, vizinho ao museu, sabem que a associação comunitária tem feito das tripas coração a fim de manter as portas do museu abertas ao público. O famoso museu, atrativo turístico número um da cidade; funciona à base de amigos e voluntários apesar de extrema boa vontade da comunidade não tem renda. Desde sua fundação o museu registra crise após crise... Todavia, teimoso como seu criador, resiste e vai sobrevivendo aos invernos na falta de recursos financeiros e de profissionais.

Então, a diretoria recentemente eleita terá que enfrentar novos desafios. Bombeiros teriam sido chamados para avaliar riscos, começando pela insuficiência de extintores de incêndio e o estado geral do prédio da empresa falida construído nos anos 70 com incentivos fiscais da SUDAM. Com a venda da antiga sede do museu em Santa Cruz do Arari ao governo estadual, padre Gallo pôde saldar a dívida deixada pela OLEICA e receber a fábrica para dar lugar ao museu. O que se diz hoje é que o tempo de duração do antigo galpão se acabou (vem aí mais um inverno daqueles retratados no clássico "Chove nos campos de Cachoeira").


O NOSSO MUSEU DO MARAJÓ

Nós todos somos responsáveis pela conservação da obra do padre Giovanni Gallo em Marajó. Isto é, o resgate da memória da Criaturada grande de Dalcídio Jurandir! A cultura do Povo Marajoara, que foi a primeira intenção do padre, em 1973, com a invenção avant la lettre do primeiro ecomuseu brasileiro, O Nosso Museu de Santa Cruz do Arari, precursor do Nosso Museu do Marajó (1981). 








Como bem disse o poeta Carlos Drummond de Andrade, chove nos campos de Cachoeira e Dalcídio Jurandir já morreu... Digo eu agora, chove também sobre a campa do padre Gallo, chove indiferentemente, como a chuva do esquecimento sobre todos mortos do mundo: que permanecerão vivos entre os vivos pelo feito da memória. Se é verdade que a verdadeira morte é o esquecimento, nós queremos ser lembrados pelas futuras gerações como aqueles e aquelas que não deixaram esquecer a história extraordinária do Museu do Marajó. 

Humildemente, suscito ideias estúrdias para que os antigos marajós de mais de mil anos de existência sejam conhecidos do Brasil e do mundo: meu préstimo é deveras insignificante, mas poderá acordar o sol de uma primeira manhã nos campos do Marajó para esta gente que o mundo esqueceu, ver renascer a primeira ECOCIVILIZAÇÃO da Amazônia, na lição fecunda da Amazônia Marajoara, de Denise Schaan e Agenor Sarraf.

Repito, 'ecocivilização' palavra esta que os referidos autores não escreveram na obra, mas eu copio de Ignacy Sachs, economista polonês, naturalizado francês nascido em 1927, mesmo ano em que Giovanni Gallo nasceu; também referido como 'ecossocioeconomista', por sua concepção de desenvolvimento como uma combinação de crescimento econômico, aumento igualitário do bem-estar social e preservação ambiental. Quer dizer, consultando o passado e aprendendo com ele, é o futuro que me interessa!

Sachs hoje com 91 anos de idade, dez a mais que eu; visitou nos anos 90 o então famoso Programa Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia (POEMA), da Universidade Federal do Pará em cooperação internacional. Ele saiu decepcionado criticando o programa que comparou a "aspirina para tratar câncer". Uma crítica que, no fundo, perdura e se generaliza quando se trata de inclusão social com desenvolvimentos sustentável dirigindo-se ao cerne do sistema mundial como ainda vemos nos dias de hoje, com respeito ao Acordo de Paris de 2015 e à Agenda 2030 da ONU dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Os Marajós não se vem por ai... Nem mesmo a Criaturada se identifica nos romances de Dalcídio ou na obra de Giovanni Gallo, pelo fato de que metade da população de mais de 500 mil habitantes é analfabeta e Cachoeira é apenas um dentre 16 municípios. A rede escolar da sede municipal, que poderia ser direcionada para estudo regular do museu, depois da morte do padre somente por iniciativa individual de uns poucos professores tem pesquisa de alunos no museu. O desafio é achar Cachoeira no mapa histórico do "maior arquipélago fluviomarinho do Planeta"... Referência aos mais municípios da comunidade marajoara. É preciso situar a Criaturada nesta peculiar região amazônica... 

A Amazônia é mais que a Floresta Amazônica, que integra os países amazônicos (Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana francesa). A Amazônia brasileira é composta pelos estados do Acre, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá, Pará, Tocantins e partes do Maranhão e Mato Grosso: o conceito dado pelo Barão do Marajó (José Coelho da Gama e Abreu) na obra As Regiões Amazônicas... No estado do Pará, Marajó, Salgado e Bragantina fazem parte da Amazônia Atlântica e o ensino geográfico deve mostrar este fato aos alunos. Claro, educando os professores continuamente, sendo os primeiros a defender o Museu do Marajó em rede de ecomuseus e museus comunitários das microrregiões.

O Marajó é mais que uma ilha grande na boca do maior rio do mundo... O Marajó é um mundo! O Museu do Marajó precisa se integrar ao Marajó profundo para cumprir sua missão de acordo com o sonho de Giovanni Gallo.


Que nós podemos fazer?

Desunidos nada nós poderemos fazer, se não apenas assistir o museu do padre Giovanni Gallo desabar como o chalé de Dalcídio Jurandir tombou ao chão sob o peso de infinitos invernos e negligências. Os supostos herdeiros do Gallo, se quisessem, poderiam talvez colocar a venda o cobiçado terreno para alguma empresa. O que eu não acredita que queiram de fato, mas seus verdadeiros herdeiros depois de passados os anos irão resistiriam à tentação do negócio?.. Sem dúvida, para dourar a pílula, possíveis compradores do terreno remanescente da OLEICA e lobistas profissionais poderiam dizer, como de costume, que o hipotético empreendimento iria "acabar com a pobreza da gente marajoara"...

Mas esta, então, seria a derradeira derrota de Dalcídio, Gallo e de todos nós herdeiros do sonho impossível da renascença marajoara. Melhor não olhar para trás e nunca mais por os pés na ilha onde nasceu a primeira ecocivilização da Amazônia.

Meu palpite não passa disto que de fato é, um simples palpite. Diria eu primeiramente, escrevam ao Brasil e ao mundo e digam o que pretendem. Mas, não usem vagas palavras e devaneios. Digam objetivamente, concretamente, às autoridades e à sociedade em geral aquilo que a Criaturada precisa e que O NOSSO MUSEU DO MARAJÓ faria, caso tivesse os recursos que o padre nunca teve.

Queixem-se ao Papa, mandem cartas ao Bill Gattes por exemplo, para tratamento de água na zona rural: ninguém sabe que vivemos cercados de água por todos os lados e também sob nuvens carregadas de chuva - a metáfora do Chove nos campos de Cachoeira e de Marajó, a ditadura da água está pronta, esperando interlocutor de prestígio nacional e internacional -, e se apesar de tudo não morremos de sede durante o verão. morremos lentamente por doenças crônicas veiculadas por água sem o devido tratamento. Por último, as águas do rio Arari estão a receber defensivos e fertilizantes de plantation de arroz. 

Se vocês acreditam que o padre dos pescadores fez um museu de "cacos de índio" só pra inglês ver; vocês não leram os livros que ele escreveu ou se leram entenderam poucas coisas. Vejam lá! Esta será talvez a ultima vez que me meto neste assunto. Se eu fosse dizer em que eu mais acredito, daria prioridade: 

1) Protocolo-quadro entre a Associação O Nosso Museu do Marajó e a Prefeitura Municipal de Cachoeira, possibilitando a esta a dotar o MUSEU DO MARAJÓ de orçamento financeiro corrente e representação jurídica com interveniente perante a União, Estado do Pará e organismos internacionais para trato de assunto de interesse do museu; 

2) Mediante o instrumento supracitado, promover concurso para elaboração de projeto contemplando hipótese de repatriamento de cerâmica arqueológica que se acha em museus estrangeiros ou remoção de peças de cerâmica marajoara de museus nacionais para um novo e adaptado Museu do Marajó no futuro; 

3) Reconstrução do chalé de Dalcídio Jurandir no conjunto de equipamentos museológicos do Museu do Marajó para fins de turismo literário, conforme projeto de 2010, que acha no Departamento do Patrimônio Cultural, da Secretaria de Estado de Cultura do Pará (SECULT-PA); 

4) Em convênio com a Associação Brasileira de Ecomuseus e Museus Comunitários (ABREMC), confiar a esta interesses do Museu do Marajó junto ao Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), notadamente criação de extensão ecomuseal do MdM destinada a envolver o município de Cachoeira do Arari em sua totalidade e os mais municípios marajoaras, sobretudo Soure, Salvaterra, Ponta de Pedras e Santa Cruz do Arari na rota gastronômica do queijo do Marajó.

Obrigado a quem leu com paciência estas mal traçadas linhas e, mais ainda, a quem tiver a gentileza de criticar e emendar alguma coisa.








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