ícone de São Sebastião - Irmandade do Glorioso São Sebastião (Cachoeira do Arari - PA).
Santo de igreja e terreiro no catolicismo mestiço brasileiro, São Sebastião é venerado pelos milagres e ao mesmo tempo temido pelos castigos a ele atribuídos. A tradição de santo vingativo veio da Europa, pouco a pouco aculturada no Brasil sertanejo, certamente, pelo costume adquirido da bárbara religião dos tupinambás. Padroeiro da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, o culto popular de santo milagroso fundiu-se à legenda do rei guerreiro Dom Sebastião.
A figura canônica do santo mártir acabou assimilada ao amálgama de religiosidades do complexo cultural do Sebastianismo português no além mar. Notadamente, na segunda colônia que Portugal houve - o Maranhão e Grão-Pará - na América do Sul, sincretizado pelo cúlto dos vóduns em casas de Mina. Nesta linha ancestral transoceânica, chegamos à tradição dos turcos encantados e à encantaria em torno da figura do Rei Sabá, em São João de Pirabas, entre populações tradicionais da pesca artesanal costeira.
As ilhas do Marajó, portanto, entre as regiões amazônicas se tornaram das mais representativas áreas culturais 'sebastianas', com 14 cidades dentre 16 rendendo culto à imagem do santo mártir, destaque para folia e festividade de Cachoeira do Arari registrada pelo IPHAN.
Festividades do Glorioso São Sebastião no Marajó |
Júlia Morim
Consultora Fundaj/Unesco
Anualmente, de 10 a 20 de janeiro, a Ilha do Marajó se envolve com as festividades em honra ao Glorioso São Sebastião, uma das mais importantes manifestações do arquipélago. Mas antes, no mês de julho do ano anterior, tem início a peregrinação dos foliões, que percorrem casas e instituições na ilha e em outros municípios do estado levando a imagem do santo, cantando folias e rezando ladainhas a fim de arrecadar doações para a festa. Essa andança, chamada de “esmolação”, pode durar de uma semana a seis meses.
No dia 10 de janeiro, a festa oficialmente tem início com a “alvorada”, às 5 horas da manhã. Uma missa de abertura é celebrada e o mastro é levantado. As comemorações se estendem de uma semana a dez dias, a depender da localidade. A praça principal da cidade, onde geralmente ocorre a festa, vira um arraial com barracas e com um barracão para dança. É comum acontecer ladainhas à noite. Integram o ciclo de festividade as procissões. Marca o final da festa a derrubada do mastro, a procissão principal, a missa solene e a festa dançante, que se estende até o amanhecer. Movimentando a economia local e atraindo muitos visitantes, a festividade não é igual em todos os municípios, havendo variações nos calendários e nos responsáveis pelas atividades durante o evento.
A devoção a São Sebastião foi trazida para o Marajó por missionários e colonizadores portugueses. Para os marajoaras, o santo é tido como padroeiro dos vaqueiros, seringueiros, pescadores e agricultores. Enfim, é protetor dos trabalhadores da região, cujas atividades estão relacionadas às fazendas, ao cultivo da terra, à pesca e ao extrativismo.
Em 2007, o Museu do Marajó com apoio da Irmandade do Glorioso São Sebastião de Cachoeira do Arari solicitou ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) que as festividades fossem reconhecidas como patrimônio nacional. A partir de então uma pesquisa realizada no arquipélago demonstrou que a festividade ocorre em catorze dos dezesseis municípios do Marajó, sendo a de Cachoeira do Arari a mais antiga. A pesquisa também apontou que
Assim, em 2013, as festividades foram inscritas no Livro das Celebrações do Iphan, tornando-se Patrimônio Cultural do Brasil.
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em Cachoeira do Arari o povo carregando mastro votivo de São Sebastião.
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