domingo, 9 de agosto de 2020

Marajó Forte 2020: pluridiverCidades

MOVIMENTO MARAJÓ FORTE

Marajó, nome forte do caboco valente do Norte saído do mato bruto, jamais vencido na guerra: barreira do mar às ambições estranhas, sentinela das ilhas do Pará e bocas do Amazonas. Guardião do maior arquipélago fluviomarinho do planeta Terra e floresta amazônica de Caxiuanã pelo Anapu e Pacajá adentro da terra firme.

 

Ilhas filhas da pororoca, onde entre chuvas e esquecimento o gigante Brasil vem contemplar  os 1500 anos de Cultura Marajoara, a primeira cultura complexa das Amazônias, arte primeva brasileira... Mais de 500 mil brasileiros herdeiros de bravas nações Nheengaíbas e cabanos insulanos vivendo às margens da História numa vasta região amazônica do tamanho de Portugal, padre Antônio Vieira já dizia há 361 anos.  Paraíso na Tapuya tetama (terra Tapuia) onde o Sol ata rede no Araquiçaua ao fim do dia... Promessa da Terra sem mal - onde não há fome, trabalho escravo, doenças, velhice e morte -, na saga dos Tupinambás.

 

Nós somos os herdeiros da Paz de Mapuá, de 27 de agosto de 1659, entre "nheengaíbas" (nuaruaques), portugueses e tupinambás; com a qual se evitou a "guerra justa" (extinção e cativeiro) impossível de vencer segundo Antônio Vieira em carta ao rei de Portugal, datada de 29/11/1659, publicada em Lisboa em 11/02/1660. Deste incrível acordo histórico na Amazônia colonial portuguesa restam por testemunho as cidades de Melgaço e Portel, elevadas em vila em 1758 no contexto do conflito entre a coroa portuguesa e a Companhia de Jesus, em 1757; fundadas respectivamente como aldeias de Aricará e Arucará, do nome do tuxaua de cada aldeia conforme costume da época; acontecimento no mesmo ano daquela esquecida pax marajoara; para assentamento de nheengaíbas (nações Aruã, Anajá, Mapuá, Guaianá, Camboca, Mamaianá e Pixi-Pixi) vindos da ilha grande dos Yona (Joanes) para a terra-firme (continente), entre rios Anapu e Pacajás. Como é que não se vê isto? Onde a historiografia claudica, a biogeografia conserva as consequências como um tronco de árvore queimada guarda o DNA da devastação da Floresta...

 

Prova de que a história do Marajó é outra por trás dos arquivos mortos e da historiografia colonial, escrita com sangue de índios entre árvores de espanto pelo Baixo Tocantins desde Camutá-Tapera (Cametá) até o riomar Pará. A sobrevivência de descendentes de Aricará e Arucará revela uma provável retomada de território nuaruaque ancestral frente à avassaladora ocupação tupinambá: a fatiga mortal do Bom Selvagem já catequizado e desenganado do mito da Yby Marãey (Terra sem mal), convertido em "índio cristão", protótipo caboco; desde o retorno da viagem de Pedro Teixeira desde Belém do Pará até Quito (Equador), de 1637 a 1639. Em Mapuá (Breves) 44 anos de guerra de conquista amazônica, desde a tomada do Maranhão, ficaram para trás... Urge retomar a construção daquelas pazes, agora pelos próprios marajoaras em seus 16 municípios legais, mais Araticum (Oeiras do Pará) e Icoaraci, vila marajoara do município Capital.

 

Hoje a pluriversidade marajoara carece navegar pelos meandros da história para redescobrir a Terra sem males e o Quinto Império do mundo no cerne da invenção da Amazônia. O movimento Marajó Forte é senha da ressignificação da ecocivilização no Trópico Úmido: restauração das pazes entre Aruaques e Tupis reputada sem interesse acadêmico pela vaidosa intelligentsia neocolonial brasileira, a famosa Carta do padre Antonio Vieira é documento histórico, realçado pelo realismo mágico barroco; que relata o estado das missões do antigo estado-colônia do Maranhão e Grão-Pará (1621-1751), revelador da geopolítica europeia na América portuguesa e da intrincada malha entre etnias amazônicas na região-chave do delta-estuário do rio Amazonas. 

 

Hoje nos encontramos em momento crucial do Pacto Federativo em contexto planetário na Amazônia, donde os habitantes da Amazônia da Marajoara reclamam completa e total cidadania com o fim do neocolonialismo interno na região equatorial. Todavia, o chamado desenvolvimento humano sustentável não virá de fora nem do Norte nem do Sul: esse movimento telúrico nasce naturalmente da biodiversidade da flora e da fauna para se expressar na diversidade cultural do Homem amazônico vário e diverso mediante a pluriverCidade das suas 16 Cidades Educadoras em rede de ecomuseus e museus comunitários, servidas de TELEMEDICINA e Educação à Distância não tão distantes das salas de aula, nem tão presas ao corporativismo reacionário.

 

Marajó é um mundo ainda em gestação no ninho de todas Amazônias! Os filhos de Ajuricaba, Guamá e Guamiaba; descendentes de negros da terra e da Guiné, indesejáveis e deportados da Europa, casais desiludidos das ilhas dos Açores, refugiados das secas do Nordeste a postos!

 

O Movimento Marajó Forte é estuário de diversos anseios nascidos do seio da Criaturada grande de Dalcídio, ilhada e dispersa em cerca de 500 comunidades locais, por duas mil ilhas e terra-firme do baixo Anapu-Pacajás. Um movimento endógeno unificador que tem raízes da interiorização da Universidade Federal do Pará (UFPA) com Camilo Vianna na coordenação do Centro Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária (CRUTAC), primeiro passo da estrada de mil léguas...

 

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