Último ensaio da trilogia IBERIANA - composto pela Novíssima Viagem Filosófica (1999), Amazônia Latina e a Terra Sem Mal (2002) e Breve História da Amazônia Marajoara (2020) -, conjunto ensaístico da viagem filosófica tardia de um caboco saído do mato no Fim do Mundo, na ilha do Marajó, a fim de arranjar emprego na cidade grande e saber do descobrimento do mundo através do mar das suposições canônicas das disparatadas historiografias da era colonial.
A extravagante ideia iberiana nasceu por acaso em Brasília, anos 80, pós-Ditadura de 1964. Ruínas do sonho de Juscelino e, quiçá, de Dom Bosco suscitaram no humilde migrante marajoara uma inusitada reflexão decolonial:
até no Planalto Central chegaram as caravelas de Cabral? A aventura começa no coração dos navios dizia o cego a seu filho (Milton Nascimento, Trastevere):
"A cidade é moderna
Dizia o cego a seu filho
Os olhos cheios de terra
O bonde fora dos trilhos
A aventura começa no coração dos navios
Pensava o filho calado
Pensava o filho ouvindo
Que a cidade é moderna
Pensava o filho sorrindo
E era surdo e era mudo
Mas que falava e ouvia".
O rapaz amazônida deu-se conta da mistura das suas origens ameríndias, afroamazônicas e ibéricas em meio a enormes transformação do velho mundo sob o Sol dos trópicos. Agora o tempo de Brasília, apesar da pororoca neocolonial, refazia Brasis... Então, o que fora ibérico no passado caminhava a passos de gigante sul-americano despertado e se tornara iberiano. Para não dizer caboco.
A Breve História vai fundo às raízes do tempo iberiano. Marajó é um mundo. Alma ancestral da Tapuya tetama (terra Tapuia), transformada em Amazônia abraçou o Sebastianismo, o mito tupi-guarani da Terra sem males, recebeu orixás e vóduns que se fraternizaram aos caruanas. E assim, a antiga Cultura Marajoara de mais de 1500 anos de idade, se renova numa ecocivilização amazônica desafiando o tempo.
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