ícone de 'São Francisco Marajoara', obra eclética em madeira de mogno de autoria do escultor Ismaelino Ferreira, de Ponta de Pedras, ilha do Marajó, Pará. O trabalho em tela foi encomenda especial do ensaísta José Varella Pereira (José Marajó Varela), tendo por referência a história de São Francisco de Assis adaptada pelos Jesuítas à Cultura Marajoara e sincretizada por africanos escravizados nos engenhos e canaviais na região do Marajó com o orixá do Tempo (memória), Irôko. O ícone do sincretismo popular avulta nesta hora incerta de crise das civilizações.
A bela metáfora em epígrafe foi citada pelo advogado e jornalista Bernardino Ribeiro, ex-prefeito de Ponta de Pedras, amigo que me deu oportunidade de tentar a realização de meu maior sonho como filho da mesma terra de meus avós, onde o "Marajó começa"... Foi lá que tive a honra de assumir a missão impossível de secretário municipal de Meio Ambiente, com a cara e a coragem: tentamos implantar a utópica "Fundação Dalcídio Jurandir - FunDAL" destinada a mexer com a Cultura e o Meio Ambiente... Coisa linda demais para dar certo naquele tempo e lugar (1994). Não importa, sempre fica uma semente... A lembrança do inovador "Projeto de Execução Descentraliza - PED Guaianá", deu chabu, tal qual o Programa Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia - POEMA, na Praia Grande, em cooperação da alemã da Mercedes Benz e UFPA; as Cooperativas da Diocese de Ponta de Pedras em suas quatorze agrovilas, sem esquecer o projeto-piloto da EMBRAPA em agricultura familiar sustentável, em Jaguarajó...
Como todos habitantes do maior arquipélago fluviomarinho da Terra deveriam saber, desde priscas eras viviam nas "ilhas de fora" (marítimas, Caviana, Mexiana, Viçosa, Contracosta do Marajó...) e nas "ilhas de dentro" (fluviais, Marajó em sua maior parte, entrecortada de Furos; Ilha Grande de Gurupá e mais de duas mil ilhas grandes e pequenas...), diversos povos de língua e cultura Aruak desde uns cinco mil anos de idade.
Muito antes dos Jesuítas terem a sua primeira sesmaria no Marajó, onde em 1686, formaram a fazenda São Francisco (Malato depois), havia a aldeia dos "índios Guaianazes" (cf. Notícia Histórica da Ilha Grande de Joanes, ou Marajó (1783), do naturalista de Coimbra Alexandre Rodrigues Ferreira). Já em 1659, o padre Antônio Vieira cita os "Guaianases" como uma das sete nações Nheengaíbas que estabeleceram pazes com os portugueses e tupinambás, em Mapuá (Breves), desde 2005, a Reserva Extrativista de Mapuá... Guaianases (Vieira), ou Guaianazes (Alexandre Ferreira), modernamente deve-se grafar Guaianá... Como foi a tentativa do PED, pena que não se realizou junto com o afundamento da FunDAL.
Hoje diante de uma pandemia terrível, não se sabe como será o amanhã. Mas, quem tem seguras as suas raízes, pode confiar na resiliência da Natureza e ter fé na vida.