segunda-feira, 2 de março de 2020

MUSEU-ESCOLA: TECENDO A REDE ECOMUSEOLÓGICA NAS COMUNIDADES.

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No próximo dia 7, o padre Giovanni Gallo (Turim, 27/04/1937 - Belém do Pará, 07/03/2003) faz 17 anos de morto: dos seus 75 anos vividos 50 foram dedicados à criaturada grande de Dalcídio... Curiosamente, durante o Colóquio Dalcídio Jurandir: 60 anos de Chove nos campos de Cachoeira (2002), Gallo solicitou doação de obras do romancista para a biblioteca do Museu do Marajó, acrescentando ele não conhecer ainda a literatura do premiado autor marajoara, ganhador do Prêmio Machado de Assis de 1972, da Academia Brasileira de Letras (ABL), pelo conjunto da obra. 

Na distância do lago Arari, ano seguinte à premiação de Dalcídio, o padre dos pescadores arariuaras por acaso inventou o primeiro ecomuseu brasileiro, sem saber do museólogo francês Hugues de Varine nem ter lido nada do chamado "índio sutil" que lhe poderia inspirar... Para mim foi grande surpresa ouvir aquilo no evento em Cachoeira. Sobretudo, porque como se lê em Giovanni Gallo, Marajó; a ditadura da água, edições O NOSSO MUSEU: 2ª edição, Santa Cruz do Arari, 1981; Dalcídio em correspondência assídua com Maria de Belém Menezes, filha do poeta Bruno de Menezes, acompanhava reportagens do padre italiano na imprensa de Belém e o incentivava a reunir publicações e com a seleção "faça um livro que será retrato da terra e da gente de Jenipapo"... Longe de uma crítica, com este reparo quero frisar que se um missionário estrangeiro chega a uma comunidade isolada onde tudo é novidade para ele e tem dificuldade de acessar o livro do maior escritor da terra assim que, desejando fazer um museu num lugar o mais apropriado para receber visitantes e não ouviu falar da revolução museológica na Europa de onde veio é sinal de que todos mais habitantes desse lugar do fim do mundo teriam extrema dificuldade para conectar conhecimentos além do dia a dia.

Então eu fico imaginando que poderia fazer um personagem criativo e destemido como "o marajoara que veio de longe" romper a mundiação da Cobra grande...  Escreveu o sociólogo Vicente Salles no artigo Chão de Dalcídio, publicado na revista Asas da Palavra, número 4, Belém: UNAMA, 1996; quem pretende se iniciar na Cultura Marajoara o índio sutil de Jorge Amado é incontornável... Chove nos campos de Cachoeira e Dalcídio Jurandir já morreu: o Gallo está enterrado debaixo da árvore Folha-Miúda no arboreto que ele mesmo plantou nas ilhargas do Museu...

A gente marajoara será eternamente grata ao jovem governador Helder Barbalho que, ao longo de meio século - de 1972 ano do Prêmio Machado de Assis para o romancista marajoara a 2022, conclusão prevista do projeto de revitalização do Museu do Marajó - foi o único governador sensível para o potencial turístico, econômico, cultural e social da Cultura Marajoara.



projeto do MUSEU DO MARAJÓ pela SECULT-PA.



Todavia, não basta construir uma estrutura moderna e urbanizar o entorno para cativar visitantes. Tudo isto é necessário e importante, porém a prova real será o futuro turista de Cachoeira do Arari retornar a seus pagos como mais um amigo da gente marajoara... Conforme a máxima: o melhor lugar para o turista é aquele onde há o bem viver dos habitantes do lugar.

Um museu amigo da escola local, cada amigo do Museu um Gallo renascido interessado a ensinar quem vai aprender no museu. Cada aluno, cada aluna da escola um futuro escritor, pesquisador, professor, doutor... Mais que ter na cidade um museu de portas abertas, é preciso o museu sair para o ar livre, atravessar o rio para a outra margem, subir o lago e envolver as comunidades.