Sumano Presidente Lula,
Como sabe, aqui no Marajó - o maior arquipélago fluviomarinho do planeta, situado à foz do maior rio do mundo -, a gente trata carinhosamente de Sumano ou Sumana às pessoas que nós queremos bem e reconhecemos por irmãos e irmãs. Coisa sutil do índio ancestral do qual todos cabocos, pretos ou brancos descendemos espiritualmente e que trata a todo mundo como parente.
É dizer, respeitosamente, Senhor Meu Irmão.
A primeira carta que nós enviamos a Vossa Excelência chamou-se Carta do Lago Arari e chegou às vossas mãos no Palácio do Planalto por intermédio do, então, Deputado Federal do Pará Paulo Rocha, abaixo-assinado no histórico dia 7 de Setembro de 2003, ato solene realizado da Câmara Municipal de Santa Cruz do Arari, durante Exposição do Museu do Marajó. Naquela ocasião fazia seis meses da morte do fundador deste que é oficiosamente considerado, de fato, o primeiro ecomuseu brasileiro (fase de 1973 a 1983) no município de Santa Cruz, transformado em museu comunitário no município de Cachoeira do Arari, desde 1984.
No ano de 1973, o padre Giovanni Gallo (Turim, 1927 - Belém do Pará, 2003) provocado pela pobreza e o analfabetismo do rico lugar onde nasceu a célebre Cultura Marajoara cerca do ano 400 da era cristã (ler a obra Cultura Marajoara, de Denise Pahl Schaan), aceitou o desafio de inventar um museu popular a partir de "cacos de índio" (fragmentos de cerâmica pré-colombiana) recolhidos ao deus dará pelos sítios arqueológicos arrombados e saqueados para contrabando. Esta história está escrita na introdução de Motivos Ornamentais da Cerâmica Marajoara, de Giovanni Gallo: 3ª edição, Museu do Marajó, Cachoeira do Arari, 2005.
A resposta não tardou através do IPHAN mediante recurso imediato em equipamentos para funcionamento do Museu do Marajó e levantamento inicial para o programa Inventário Nacional de Referências Culturais - MARAJÓ, que inclusive foi base para registro da Festividade de São Sebastião de Cachoeira do Arari no Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro.
Nossa segunda carta está implícita na apresentação em nome do Grupo em Defesa do Marajó (GDM) ao documento eclesial preliminar encaminhado pelos Bispos católicos do Marajó, em 2006, à Presidência da República. Cujo documento entregue aos cuidados do Ministro Gilberto Carvalho Vossa Excelência despachou para providências da Ministra-Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff: esta estabeleceu então o Grupo Executivo Interministerial de acompanhamento de ações no Arquipélago do Marajó (GEI-Marajó), primeiro passo para o Marajó efetivamente ter se tornado de direito e de fato um território federativo da República Brasileira.
Do grupo interministerial de ações emergenciais de enfrentamento da malária e implantação de infra-estruturas de urgência saiu o Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó (PLANO MARAJÓ). Lançado por Vossa Excelência na antiga terra de índios Nheengaíbas integrada ao Grão-Pará em 17 de Agosto de 1659, por acordo de paz entre o Padre Antônio Vieira e a confederação de sete caciques rebeldes que se achavam em guerra com os portugueses e seus aliados tupinambás há mais de 40 anos desde a tomada do Maranhão aos franceses.
Nunca dantes na história deste País um Presidente da República havia visitado Marajó para anunciar um plano de desenvolvimento territorial. Então, sumanos e sumanas unidos, também puderam comemorar Lula cá com a criaturada grande de Dalcídio Jurandir (Ponta de Pedras, 1909 - Rio de Janeiro, 1979), Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, de 1972.
O Presidente Lula em Breves, 06/12/2007, entrega do primeiro Título de Autorização de Uso (TAU) de terras de marinha do Projeto Nossa Várzea na ilha do Marajó, à senhora Maria Favacho, moradora da comunidade de Alto Anajás, assistido pela Governadora do Pará, Ana Júlia Carepa.
Graças ao PLANO MARAJÓ, em 2008, o programa Territórios da Cidadania - MARAJÓ foi acrescentado ao conjunto de políticas públicas federativas, na cidade de Soure. Cada palmo deste chão tem muita história de resistência e luta. Então, a gente deliberou no colegiado agradecer publicamente a Vossa Excelência com a remessa do livro-reportagem Marajó, a ditadura da água , de Giovanni Gallo; cheio de autógrafos das pessoas presentes ao seminário. Aquele ato pode ser considerado então nossa terceira carta ao sumano Lula Presidente guerreiro do Povo Brasileiro.
Agora vai esta nossa quarta mensagem a Vossa Excelência. Para dizer, no Marajó nós somos milhares de Lulas cheios de esperança de que o sonho há de vencer com a resistência de todos os Brasis, como a brava gente marajoara que não se entrega nunca. Nos anos de 1937 e 1939 o nosso maior representante de todos os tempos, o escritor Dalcídio Jurandir, como hoje o senhor, foi prisioneiro político do Fascismo: livre, ele começou a escrever uma longa obra literária que é o mais fiel depoimento da Criaturada grande (populações tradicionais amazônica).
Assim também, vossa injusta prisão política de Curitiba há de ser breve tempo de reflexão e tomada de consciência para a liberdade do Povo Brasileiro.
Saúde e felicidades para o senhor e toda sua família.
Saudações Marajoaras!