segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Com a palavra, a Criaturada e suas multivozes na aquanarrativa do Índio Sutil

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Não sou parteiro, mas por acaso assisti o parto de nossas duas feiras anuais, a do Livro e a de Turismo... Em minha fraca porém franca opinião estes dois eventos poderiam ser transformados em bienais alternadas: melhor uma só a cada anos, porém com mais tempo de preparação e divulgação face os escassos recursos disponíveis. Bienal do Livro AmazônicoBienal de Turismo da Amazônia. Assim nossos colegas da SECULT e parceiros da cultura e da SETUR e seus colaboradores, respectivamente, teriam tempo de respirar e oportunidade de promover maior integração entre a Cultura e o Turismo com benefícios mútuos aos dois setores complementares. 

Digo isto apenas pela ocasião que se apresenta para expressar sentimento próprio de outros tempos, no quais me achava por dentro dos acontecimentos. Mas na verdade, quero aproveitar para elogiar encaminhamentos tomados a respeito da indústria editorial do estado e incentivo aos escritores paraenses, dando à Imprensa Oficial maior versatilidade sem perda de sua finalidade institucional. 
Vida longa para Editora Pública e parabéns a toda equipe da IOEPA.

Frisar coincidência do Dia 27 de Agosto, 360 anos da Paz de Mapuá entre o 'payaçu dos índio', padre Antônio Vieira e os 7 Caciques Nheengaíbas; e a RODA DE CONVERSA com os dalcidianos Paulo Nunes, Edilson Pantoja e Fernando Farias; e também o lançamento das novas edições de Chove nos campos de Cachoeira e Chão dos Lobos, pela editora Pará.Grafo. Enfim, expressar gratidão em nome da Criaturada grande de Dalcídio, pela significativa homenagem ao romancista da Amazônia na escolha do nome da Editora Pública do Pará Dalcídio Jurandir.

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Biosfera, que bicho é esse?

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para a Criaturada grande de Dalcídio



Aos 19 anos de idade, em 1956, fiz minha primeira viagem ao lago ancestral da Cultura Marajoara, o lago Arari. Nada, entretanto, de romantismo ou culto aos antepassados... Coisa trivial do escambo antigo que nós, cabocos descendentes de índios, quilombolas e casais dos Açores... É aquilo que nós chamamos marretagem, cá entre nós: vai sal, cachaça, café, açúcar e frutas da terra pra lá e, vem pra cá na troca de baixada canoa cheia de peixe seco, jacaré vivo na peia, carne de capivara salgada...

Naquele tempo, a gente dizia apenas Lago e nada mais; era a despensa grande da gente e já se sabia que o Lago não era um lago qualquer... Fui e voltei numa canoa boa a cabo de remo, três dias e três noites, na companhia de um caboco só que nem eu; nunca dantes eu tinha me atrevido a viajar 'prasquelas' bandas. 

Que maravilha! Já contei esta história 'uns par de vezes'... O "camarado" conhecia bem o caminho do Itaguari até Cachoeira daí pra cima até o Lago, nadinha era só na lembrança de um tipo de portulano memorizado de tantos causos que um tio dele contava, goiaba (marreteiro de Ponta de Pedras) que nem uns tantos quantos canoeiros que abasteciam a vila. Eu não conhecia nada desde a boca do rio Arari a montante. Sabia sim alguma coisa por meus pais contarem. Então, para mim o Arari parecia a caminho do jardim do Éden nas estórias... 

Eu não sabia e nem poderia adivinhar que, daquela inesquecível viagem em diante até hoje, há 60 anos passados, além da malária me pegar de novo pra valer, ficaria eu com uma sina de contador de causos, paresque por fado de algum caruana daqueles que vagam ao romper do dia nas extremas paragens de muita antiguidade. Foi assim que viajei pra fora de mim mesmo e vi o mundo. Não o vasto mundo de Drummond como eu queria ver, masporém aquilo que a minha merecendência deu. Por esta sina eu me tornei defensor dativo da Criaturada grande de Dalcidio e por via deste fado me engajei ao Museu do Marajó donde fui um dos proponentes da Reserva da Biosfera do Marajó: e assim acabei participando por acaso da ressuscitação da Academia do Peixe Frito em preparativos criativos ao Centenário de nascimento de Dalcídio Jurandir. Para, enfim, chegar hoje a ser voluntário do Ecomuseu da Amazônia levado pela minha última utopia, isto tudinho que vou contar mais adiante.

Por enquanto, o tempo ruge para voltar aos começos da conversa e terminar de contar minha breve experiência de marreteiro "goiaba". Voltei, pois, do Lago arriado de tamanhas febres e após o apurado da incipiente marretagem fui depressa à cidade grande me tratar da maleita em casa de minha tia quase mãe e, mais tarde, convalescer na casa de minha avó, no velho Itaguari de minha infância distante. Aí é que deu-se a coisa: após a sesta vovó tirou, com muito cuidado, do baú de seus guardados o romance "Marajó" escrito por tio Dalcídio... Eu era mesmo semi-analfabeto, um caboco ribeirinho completo. Aos trancos e barrancos, li o livro sagrado da vovó de cabo a rabo, mal e porcamente como pode ser a leitura por um pobre aluno primário do interior: mesmo assim não consegui parar de ler até a última linha. Cuja é o triste fim de Orminda, esquecida pelos homens e o mundo festeiro; na velha barraca de chão batido coberta de palhas onde a bela desejada nasceu, no bairro pobre do Campinho, em Ponta de Pedras, o mesmo onde premiado romancista da Amazônia veio ao mundo.

Já disse isto umas mil e tantas vezes: nas páginas do "Marajó" foi quando, pela primeira vez, eu vi a Criaturada grande sair do primeiro romance sociológico brasileiro pela porta afora para ir embora se confundir com a gente que passava todo dia pela rua da casa ou pelo rio do sítio onde eu parava naquele tempo desde o bairrozinho o Fim do Mundo, no qual dei os primeiros passos desta minha já longa vida... 

Caíram-me, então, as escamas dos olhos. E nunca mais tive sossego, pois isto é um fado tal qual a sina do tio chamado "índio sutil" por Jorge Amado, embora Dalcídio fosse visivelmente mulato, filho de branco com preta. Logo me dei conta de ser eu um caboco com alma de preto, neto de índia com cara de branco. Esta mistura fina tem diversos inconvenientes numa sociedade racista e profundamente desigual, masporém também tem lá suas vantagens...

Por isto, mais uma vez, estou a escrever sobre reservas da biosfera na espera do programa mundial 'O Homem e a Biosfera', querendo ver logo a Criaturada grande de Dalcídio amparada dentro desta rede. Reservas da vida, áreas protegidas onde homens, plantas e bichos possam se entender e "conversar" melhor uns com os outros. Ora, não foi por acaso no "Grande Sertão:Veredas" que Guimarães Rosa ouviu buritizeiro dizer "mestre não é quem ensina, mas quem de repente aprende"?  Mestre de seu ofício, Dalcidio então pelos olhos acesos de Alfredo seguiu os passos do avô Bibiano, em "Passagem dos Inocentes", na trilha do igarapé a contemplar o preto velho entre palmeiras de miriti, homem e troncos tão iguais pelas mãos do destino da terra... 


Não mexa com quem está quieto

A primeira vez que ouvi falar em " reserva da biosfera" foi em meio a uma inesperada e ardida polêmica... Todo mundo deve saber que a ilha do Marajó, embora fazendo parte de um feudo enorme da elite de Belém do Pará, é unha e carne com o pessoalzinho de Macapá... Então, um migrante paraibano como tantos outros nordestinos que vem tentar a sorte no Norte, masporém este um como poucos havia ele paresque se dado bem com o bom povo do Amapá, calhou de prosperar na política e ser eleito deputado federal. Ele conseguiu a par de outros mais as boas graças
do então diligente presidente e depois senador José Sarney, a fim de estender benefícios da Zona Franca de Manaus a Macapá e Santana. 

Ora, quando o Amapá melhora Marajó festeja como coisa sua, devido o fato do antigo parentesco entre estas gentes pertencentes à área cultural guianense; existente desde as ilhas do Pará até Trinidad e Tobago, no mar do Caribe. Por isto, antes de virar território federal e depois estado, o Amapá e ilha do Marajó eram uma coisa só pertencente à província e depois estado do Pará. De modo e maneira que, se o estado vizinho piora; a gente marajoara vai embora buscar emprego lá nas Guianas, no outro lado da fronteira do Oiapoque... "Outro problema interessante da área geocultural guianense, da qual o Marajó faz parte; reside na palavra-chave Parigoto. Fontes dos séculos XVII e XVIII registram esta palavra nas línguas veiculares desde a foz do Amazonas até o rio Suriname. Aqui se acha uma província ou distrito de nome Pará. Povo Palikur possui clã de nome Parauyune. Em caribe do litoral do litoral, parigoto ou em Palikur parauyune, tem a mesma significação: "gente do mar". No Brasil, Pará, em Nheengatu, quer dizer "mar" (cf. José Marajó Varela, "Breve História da Amazônia Marajoara").

Masporém nas cortes de Paris e Brasília dizer estas coisas é meio complicado de entender que esta gente do extremo-norte brasileiro, descendente de pretos de mocambo e índios misturados com brancos indesejados na Europa, não cuida de saber nadinha de tratados de fronteira, demarcações de limites, leis e regulamentos de comércio, alfândegas, vistos e passaportes etecetera e tal.

Garimpeiros e imigrantes clandestinos não sabem dos feitos históricos de Cabralzinho, nunca ouviram falar do cacique Guamá dos Aruã e Mexiana, tampouco da tropa de guarda-costa do sargento-mor da Vigia Francisco de Melo Palheta ou do furto do café de Caiena, nada da ocupação de Caiena por tropas paraenses a mando do regente do reino de Portugal, no reinado de dona Maria I, a louca; com a Família Real portuguesa refugiada no Rio de Janeiro debaixo das asas protetoras do império britânico... 

Povão desnorteado, sem passado e sem futuro; tirador de zero na prova de culturas amazônicas sobre a lenda, por exemplo, do casamento do príncipe Caiena, filho do rei galibi Ceperu; com a princesa Belém, filha do rei mameluco Brasil: refugiados econômicos só sabem buscar fortuna na rota do El-Dorado como fado e nada mais. O deputado novo amapaense preocupava-se, sinceramente paresque, com que a novidade levasse a milhares de cabocos marajoaras a 'invadir' Macapá atraídos pelos supostos ganhos da Zona de Processamento de Exportação Macapá-Santana ( ZPE Macapá-Santana). Então, o deputado pensou em algo que incentivasse a caboclada a ficar em sossego pelas ilhas do Pará: foi assim que a gente soube pela imprensa que iam criar uma tal 'reserva da biosfera' na ilha do Marajó. Diz-que, pra caboco ficar quieto e não ir perturbar a felicidade dos vizinhos. 

"Como é que é, seu Zé?"... Reserva da Biosfera, diz-que... A gente ficou foi em pé de guerra, o Marajó velho não pode escutar nenhuma novidade sem ficar desconfiado de que os "brancos" de costume estão a tramar ainda mais 'seis Marias' (sesmarias)... Pronto, acabou! Nunca mais se falou em "biosfera" e reserva de fera nenhuma. Já bastavam aqueles índios "ferozes" de antigamente, que felizmente todos viraram portugueses bem batizados, graças a Deus.


memória da Carta do Marajó-Açu: criação do GDM

Eu não gosto de ser contra uma coisa só para ser do contra. Comecei a procurar que diabo é Biosfera e o que seria uma reserva dessas. Por feliz oportunidade voltei, em 1994, a trabalhar na Prefeitura de Ponta de Pedras onde outrora fui secretário municipal entre 1966 até 1968... A primeira coisa que o prefeito me encarregou foi ser interlocutor do professor Camilo Viana, pro-reitor de Extensão da UFPA, meu velho mestre; na organização do décimo Encontro em Defesa do Marajó (28-30/04/1995), quando foi assinada em Ponta de Pedras a Carta do Marajó-Açu, resumo dos encontros anteriores e roteiro para o vir a ser. Na Pro-Reitoria de Extensão da UFPA nasceu, na preparação daquele encontro, o GRUPO EM DEFESA DO MARAJÓ (GDM), no dia 20/12/1994 e ele se dissolveu vinte anos depois, em 2014, para embarcar no Movimento Marajó Forte

Quem aprende na universidade da maré, sabe que no vertiginoso rio de Heráclito nada é fixo, nada é permanente, nada fica para sempre... "Na Amazônia a única coisa certa é que tudo é incerto", dizia o francês Paul le Cointe, que foi cônsul da França em Belém, pertenceu ao Instituto Histórico e Geográfico do Pará (IHGP), estudou a flora amazônica e enterrou seus ossos no país que se chama Pará.

Eu quando era gente não cheguei a tanto, mas também fui vice-cônsul do Brasil no consulado em Caiena com jurisdição consular nas dependências francesas das ilhas da Martinica e Guadalupe; fui membro do IGHP na cadeira do dito Paul le Cointe, aprendi coisas interessantes nas fronteiras das Amazônias, sobretudo a respeito dos povos indígenas. São diversas as regiões amazônicas, delas a Amazônia Marajoara é minha mátria ancestral, para mim o centro do mundo... 

Meu ativismo no GDM foi credencial para receber honroso convite de Adenauer Góes, em 1999, a fim de assumir a chefia de gabinete da PARATUR, em 2001 passei a desempenhar funções de assessor institucional da mesma empresa de turismo estadual, onde permaneci até 2007. Com apoio do amigo Adenauer publiquei os ensaios diletantes Novíssima Viagem Filosófica (1999) e Amazônia Latina e a Terra sem mal (2002); viajamos juntos a Holanda e França (2004) arquitetando a primeira Feira Internacional de Turismo da Amazônia (FITA), fomos a Brasília a procura de patrocínio oficial junto à Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que não regateou apoio.

Entrei na PARATUR 'pra passar uma chuva' a pedido do amigo do GDM Adenauer Góes, acabei passando lá oito anos da minha vida, finalmente aposentado me fiz blogueiro da rede social, ativista do Twitter e do Facebook onde posso ser encontrado quase todos os dias... A PARATUR foi uma escola para mim: quando entrei na empresa estatal de turismo nada eu tinha a ver com a chamada "indústria sem chaminés' e quando de lá saí continuei ignorante do assunto: todavia, aprendi que o Turismo é instrumento sócio-econômico de mudança política de maior relevância. E, portanto, entrei para o partido do turismo (ecoturismo de base na comunidade, melhor dizendo).


brevíssima história da Reserva da Biosfera Marajó

Foi na PARATUR, portanto, que a história da Reserva da Biosfera Marajó voltou a me perturbar. Eu gostaria de fazer algo pela Criaturada grande durante minha participação no órgão oficial de turismo onde cheguei graças ao GDM: eis a questão...  Adenauer contratou Francisco Lacerda, do Mato Grosso, para consultor de projeto de ecoturismo ele que já tinha experiência na EMBRATUR. Eu e Lacerda ficamos amigos. Sabendo eu que a Reserva da Biosfera do Pantanal vinha de ser implantada perguntei a ele como a coisa estava indo lá. O termo "biosfera" foi exposto a primeira vez pelo geólogo austríaco Eduard Suess, em 1875, significando o habitat de todos seres vivos. Mais tarde, em 1926, o conceito estendeu-se para o seu atual significado pelo geoquímico russo Vladimir Vernadskyque reconhecendo a biosfera como um sistema integrado de processos bióticos e abióticos. 

Em 1971, foi lançado o Programa Homem e a Biosfera da UNESCO (MAB), um programa científico de cooperação internacional para melhoria das relações humanas com seu meio ambiente. O MAB combina ciência naturais e sociais, economia e educação a fim de desenvolver a qualidade de vida humana e a partilha equitativa de benefícios visando a harmonia entre desenvolvimento econômico, social e cultural de modo sustentável. 

Quando da criação legal da APA - Marajó, em 1989, supostamente para desestimular construção de um presídio federal de segurança máxima na ilha do Marajó; se as autoridades do Estado do Pará estivessem sintonizadas com o movimento ecológico a fim de preservar o maior arquipélago fluviomarinho do Planeta, poderiam imediatamente candidatar a recém-criada área de proteção ambiental a ser reconhecida pelo MAB como reserva da biosfera. Porém, isto não sucedeu e até hoje a APA - Marajó padece de insuficiência em sua efetiva implantação. Enquanto solicitação da sociedade civil marajoara espera, desde 2003, a candidatura oficial do arquipélago ao MAB. É justo reconhecer o governo Ana Júlia Carepa (2007-2010) como honrosa exceção no assunto, embora ela também não tenha dada a prioridade que precisava para hoje o Pará contar com uma Reserva da Biosfera em seu território fluvial e marítimo com destaque à proteção da faixa de mangues.

Existem atualmente 701 unidades de conservação ambiental em 124 países em todo mundo, incluindo 21 reservas transfronteiriças; formando a Rede Mundial de Reservas da Biosfera. Sete delas no Brasil Mata Atlântica criada somente em 1992, Cinturão Verde da Cidade de São Paulo integrado à RB Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal, Caatinga criada em 2001, Amazônia Central ou Floresta Amazônica e Serra do Espinhaço: o esquema brasileiro ao contrário da maioria de reservas da biosfera, contempla os biomas de maneira que apenas as sete reservas brasileiras cobrem a maior parte de áreas protegidas da Biosfera planetária como um todo.  Caso ainda venha a ser reconhecida pelo MAB a Reserva da Biosfera Marajó-Amazônia (RBMAZ) a rede brasileira passaria a contar com oito unidade, duas na Amazônia Brasileira dentre onze, então, localizadas no Brasil, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia.

Antes da Reserva da Biosfera do Pantanal, não havia dia que a TV não mostrasse repressão à caça e pesca ilegal no Pantanal. Aí eu perguntei ao Lacerda, como os fazendeiros estavam vendo a novidade. Fui informado que, no município de Bonito (MS), por exemplo, o ecoturismo havia transformado aquilo que parecia já não tomar jeito... Adenauer na presidência da PARATUR deu-nos carta branca para iniciar articulações com a Associação dos Municípios do Arquipélago do Marajó (AMAM) sobre formação de um grupo de fazendeiros interessados a visitar o município de Bonito a fim de trocar informações diretas com seus homólogos pantaneiros a respeito da evolução da Reserva da Biosfera do Pantanal. Uma parceria foi firmada entre AMAM e PARATUR na qual o ecoturismo era a parte de estudo para projeto de reserva da biosfera na ilha do Marajó. 

Em março de 2003, faleceu o padre Giovanni Gallo, fundador do Museu do Marajó. Este fato veio a ter importantes consequências. Em minha cabeça este museu comunitário deveria ter papel central na coordenação e mobilização das comunidades marajoara no processo de uma possível Reserva da Biosfera, atuando como braço sócio-educativo e cultural da Associação de Municípios do Arquipélago do Marajó (AMAM). Na realidade, apesar de toda gente idolatrar o padre Gallo e colocar nos píncaros da lua o museu por ele inventado; nunca os poderes político e econômico da região prestou a atenção que criador e criatura merecem.

Quando eu servi no então Consulado do Brasil em Caiena (hoje Consulado-Geral atuando como mini-embaixada na Guiana francesa, subordinado diretamente a Brasília) um dos objetivos da missão consular era melhorar a imagem brasileira no outro lado da fronteira atingida pela imigração dita "clandestina" de brasileiros oriundos em maior parte de nossas regiões Norte e Nordeste: verdadeiros refugiados econômicos... Desta maneira, realizamos trocas de visitas de caráter esportivo e cultural, um protocolo de intenções foi assinado entre a AMAM e sua homóloga Associação de Prefeitos Municipais da Guiana: uma delegação de autoridades municipais guianenses visitou Marajó, recebida em Soure, Salvaterra e Cachoeira do Arari onde o Museu do Marajó foi alvo de admiração dos visitantes. Na ocasião, durante reunião no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA) em Soure, o coordenador do mesmo, professor Ricardo Barros se esforçou por sensibilizar o chefe da delegação guianense, deputado Elie Castor; sobre oportunidade de projeto em cooperação para construção de barco-escola. Em sua fala, o coordenador do campus acentuou a notável pobreza da gente marajoara. Em resposta, o deputado e prefeito municipal guianense sublinhou a oportunidade de parcerias em diferentes setores, todavia discordou do discurso da pobreza dizendo ele ver tantas riquezas nesta famosa ilha que ele com seus colegas vinham de conhecer.

Reciprocamente, uma delegação de prefeitos e vereadores marajoaras foi organizada pela AMAM em visita a Guiana francesa. Esta histórica visita se tornou de fato em semana brasileira, conduzida oficialmente pelo presidente da associação, Fernando Lobato, prefeito de Santa Cruz do Arari, recepcionado pelo prefeito municipal de Sinnamary e deputado francês à Assembleia Nacional de Paris, senhor Elie Castor; que fora o principal articulador pelo lado francês naquele pioneiro intercâmbio de vizinhança transfronteiriça entre o Norte brasileiro e a Guiana francesa. 

No peculiar sistema político da França, autoridades eleitas podem eventualmente acumular cargos de níveis municipal, regional e nacional. Deste modo, o deputado do Partido Socialista Guianense (PSG) também pôde exercer a presidência do Conselho de Administração (governo executivo) a par do Conselho Regional (de natureza legislativa), ambos eletivos e que na atualidade não existem mais depois da última reforma das dependências ultramarinas da França. Herança do império napoleônico. 

O intercâmbio interregional franco-brasileiro àquela altura, última década do século XX; deveras não foi apenas um passeio entre vizinhos: com reflexo na famosa ponte franco-brasileira sobre o rio Oiapoque as respectivas delegações flanaram sobre décadas de história e conflitos coloniais por vezes sangrentos... A verdade é que poucos ali presentes, de parte a parte, compreenderam o motivo daquela inovadora experiência que viria a ser interrompida por processo contra a administração do senhor Elie Castor, no Conselho administrativo da Guiana; e sua súbita morte na prisão na metrópole francesa. Da parte brasileira, a dolorosa doença e morte do padre Giovanni Gallo (Turim, 1927 - Belém-PA, 2003), guindado naturalmente à condição de "embaixador" da Cultura Marajoara; representou a pá de cal daquele intercâmbio fronteiriço no qual, com certeza, a proposta de Reserva da Biosfera Marajó-Amazônia seria elemento de integração de maior relevo, chancelado pelo programa O Homem e a Biosfera (MaB), da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura  (UNESCO), pertencente ao sistema da ONU, com sede em Paris. 

Como sabem, o Museu do Marajó nasceu em Santa Cruz do Arari no ano de 1973. Infelizmente, longe disto fomentar a paz social e o desenvolvimento local deu margem a desentendimentos abordados na obra autobiográfica do padre, O homem que implodiu... Na dita obra o leitor fica sabendo da partida dolorosa e chegada de Giovanni recebido de braços abertos pelas autoridades e o povo de Cachoeira do Arari, ano de 1983, e reabertura do museu ao público no Sesquicentenário do município, em 1984. Foi então que morto e enterrado o padre, o município de Santa Cruz se reconciliou com a sua memória patrocinando Exposição Itinerante do Museu do Marajó, com abertura no dia 7 de Setembro de 2003. Convidado, fiz palestra em nome da Companhia Paraense de Turismo (PARATUR) sobre a Cultura Marajoara na Câmara Municipal, terminando pelos presentes em assinar a Carta do Lago Arari ao Presidente da República.

Uma leitura destas não se fazia naquelas datas e ainda hoje acredito que raros pesquisadores se interessariam pelo assunto, naturalmente no capítulo da decolonização das periferias dos países americanos. Sabemos que a Amazônia é periferia da Periferia. O que ainda não percebemos é que das diversas regiões amazônicas, a Amazônia Marajoara - primeira cultura complexa da Amazônia -, apesar da riqueza natural e cultural apresenta ainda vergonhoso subdesenvolvimento humano. 

O Museu do Marajó nascido por necessidade e acaso em forma de ecomuseu e em sua evolução transformado em museu comunitário, indubitavelmente, deveria ser estrela de maior grandeza do MaB na Reserva da Biosfera no bioma fluvial e marinho da Amazônia. A morte física do padre Gallo, enterrado na imitação de teso ao lado do museu que ele mesmo inventou a partir de "cacos de índio" e da transformação da ruína de uma fábrica falida, em indústria cultural e turística "sem chaminés"; longe de constituir um término de história, poderá ainda ser a semente que há de ser árvore frondosa com sombra e frutos consagrados ao desenvolvimento humano da Criaturada grande de Dalcídio.

Com tamanhas esperanças tive eu elevada honra de representar o Museu do Marajó na I Reunião Regional Preparatória à primeira Conferência Estadual e Nacional de Meio Ambiente, realizada na histórica cidade de Muaná, na Ilha do Marajó, no dia 8 de outubro de 2003. Foi no lugar de memória da Adesão do Pará à Independência do Brasil na data maior de 28 de Maio de 1823, que foi assinada a Carta de Muaná solicitando providências para candidatura da Reserva da Biosfera do Marajó. Assinaram o documento, salvo engano, a prefeita de Muaná Ortensia Guimarães, o bispo diocesano de Ponta de Pedras, dom Alessio Sacardo; o secretário-executivo da AMAM, Leonardo Lobato; professor Vivaldo Reis, do Grupo de Estudos do Baixo Amazonas (GEBAM), Edna Marajoara, da Cooperativa de Mulheres Extrativistas do Marajó (CEMEM), Francisco de Paula Lucena, da ONG Campa, Sergio Prates, do Fórum De Desenvolvimento Local (DELIS), José Varella Pereira, pelo Museu do Marajó e outros presente.

A Carta de Muaná, ao contrário do esperado, não teve boa recepção pelo Governo do Estado do Pará: entre a Ilha e a Cidade grande parecia que a petição fora engolida pela cobra grande... O longo braço do latifúndio havia carimbado o indeferimento sumário de tal ideia... No Centro Turístico e Culturar Tancredo Neves (CENTUR) onde se realizou a I Conferência Estadual de Meio Ambiente precisou reação exaltada para a moção de Muaná prosseguir rumo a Brasília, logo uma nova petição agora com milhares de assinaturas, obrigou o pedido de Reserva da Biosfera do Marajó entrar em pauta e ser aprovada para seguir à discussão na I Conferência de Meio Ambiente, em Brasília. 

Na capital federal o pedido dos marajoaras não teve melhor recepção do que na capital estadual. Mas, o espirito de luta cabano se fez presente na pequena mas atrevida militância e foi assim, finalmente, que a proposta de Muaná foi debativa e aprovada no sentido de providência para candidatura, pelo Governo do Pará, do arquipélago do Marajó como reserva da biosfera. O governo paraense, entretanto, não moveu uma palha... 

Somente, no bojo do Plano de Desenvolvimento Territorial Sustentável do Arquipélago do Marajó, vulgo PLANO MARAJÓ, em 2007; a Reserva da Biosfera Marajó foi incluída no planejamento de ações do plano. Porém, enquanto era manifesta má vontade das autoridades e líderes empresariais paraenses, com raras exceções; sob equivocado juízo de que conservação ambiental "engessa o progresso"; responsáveis do MaB emitiam interesse pelo sucesso da proposta da Carta de Muaná. 

Para estes, a Reserva da biosfera marajoara deve visar sobretudo a faixa litorânea de mangues: deste modo, um primeiro passo deve ser iniciar o processo pela APA-MARAJÓ e continuar num segundo passo incluindo a faixa contínua de mangues do Amapá e Maranhão; para prosseguir pelas Guianas numa terceira fase. Masporém, a Criaturada sempre por fora dos debates...




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dormência do bioma do delta-estuário do Amazonas.

Se acaso o bioma do golfão marajoara, que nem o caroço lendário da primeira noite do mundo escondido dentro de uma semente de tucumã (Astrocaryum vulgare); carecia quebrar a dormência a fim do mito germinar do chão encharcado dos manguezais, campos alagados e varjas de maré nos embates titânicos do rio gigantesco e o mar profundo, pelas ilhargas do maior arquipélago fluviomarinho do planeta Terra. 

O interminável dia sem descanso dos negros da terra, sem lua, sem estrelas no céu, sem sonhos num mundo de dor e sofrimentos infinitos dominado pela cobra grande Boiuna, mãe dos peixes e dos homens. Sem quebrar o caroço do tucumã mágico não se poderia jamais quebrar o encantamento e quebrar a dormência pré-histórica. Na lenda amazônica, foram três escravos da mãe d'água mandados buscar a primeira noite escondida dentro de um caroço de tucumã no fundo do rio. 

Desta maneira inusitada, a humanidade filha da animalidade (cf. Edgar Morin) fica bem retratada na mitologia marajoara. Os escravos desobedeceram a matriarca opressora, que queria dar a sua filha a noite mítica como presente de casamento. Pobres homens transformados em macacos da noite por quebrar o segredo imemorial. 

Assim surgiu a primeira noite do mundo, com suas criaturas noturnas e a expectativa da primeira manhã da Criaturada depois da grande noite dos tempos míticos. Seria interessante estas cogitações despertar o empolgante programa da UNESCO para vir se revitalizar abeberando-se das grandes águas da Amazônia Marajoara nestas horas de crise Climática e queimadas assustadoras da Floresta Amazônica. 

"Deus criou o homem para dormir e sonhar", disse o índio herege ao inquisidor da primeira Visitação do Santo Ofício na Bahia (cf. "A heresia dos índios", de Ronaldo Vainfas). Deus ou Natura, penso eu com o filósofo Espinosa, deve ter criado o homem para sonhar com a Terra sem Males. A gente precisa saber. 



Foto de Palmira de Nazaré registrando entrega do primeiro exemplar da obra "Ato dos Ribeiros" ao seu autor Carlos Eduardo Ramos e o blogueiro da Criaturada José Marajó Varela, com 'boneca" do terceiro ensaio de sua autoria "Breve História da Amazônia Marajoara", na toca do caboco marajoara (Marambaia, Belém-PA, 23/08/2019). 


domingo, 18 de agosto de 2019

A Terra sem males existe, todavia encontrar o paraíso terreno depende de nós.

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Hoje eu acordei com espírito de Betinho depois de entrar madrugada a dentro sem dormir devido a preocupação com filho que ainda não havia chegado de fora de casa e imagens da monstruosidade das queimadas da Floresta Amazônica. Sei que tudo isto não de repente, mas foi causada desde muito tempo a partir do "descobrimento" do Novo Mundo por nossa ganância, ódio e ignorância herdada de nossos antepassados. O Betinho a quem me refiro foi Herbert José de Sousa (Bocaiúva-MG, 03/11/1935 - Rio de Janeiro-RJ, 09/08/1997). Betinho foi sociólogo e ativista dos Direitos Humanos e dedicou-se ao projeto Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. 

Uma enorme camada de fumaça cobre o espaço por onde costumam circular nuvens de chuva entre o norte e o sul de nossa América do Sul e tira o sono dos poucos que tem consciência. Os muitos que não tem dormem ignorantes e sosseGados... Sem nem querer saber que da sua atitude e também da "escolha" política que lhes induzem nasce a Crise que aí está sobre a face da Terra.



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Que podemos fazer para apagar este incêndio planetário? Lembrei Betinho com a lição do passarinho a voar sobre a queimada da floresta para aspergir gotículas de água, que a pequena ave carregava do rio em suas penas. Alguém dizia-lhe deixe disso! Não vê que isto não pode apagar um incêndio desses? E Betinho passarinho respondia: sim, é verdade... Mas, se numa revoada de passarinhos todos fizerem o mesmo a floresta será salva. 

Aí, então, eu me levantei pronto para fazer a minha parte de passarinho Betinho, lembrando do menino ianomami e o beija flor cuja imagem corre pelo céu dos satélites da internet. Conexões de saberes. Inteligência coletiva. O que fazemos das comunicações além de propaganda, mercado, massificação de mentiras e lavagem cerebral para incendiar a política? 

Mas, a internet é uma maravilha filha da Ciência e da Tecnologia! Graças a ela eu posso em um segundo compartilhar meu pensamento com milhares de semelhantes a mim prontos a prosseguir na utopia de nossos antepassados tupi-guaranis na busca do paraíso na Terra. Lugar mágico onde não existe Fome, Trabalho escravo, Doença, Velhice e Morte.

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sábado, 17 de agosto de 2019

Analau Yohynkaku: a Amazônia Marajoara.

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no dia de aniversário de minha mana Maria do Socorro,
lembrança dos sobreviventes da geografia da mortalidade
infantil na ilha do Marajó.




Cinco mil anos de nomadismo paleo-índio nas terras baixas da América tropical nos assistem até invenção da primeira cultura complexa da Amazônia, na ilha do Marajó, cerca do ano 400 depois de Cristo. Todavia, a história das regiões amazônicas é feita de fragmentos descosidos como "cacos de índio" à imagem e semelhança do finado ecomuseu que um dia foi chamado O Nosso Museu de Santa Cruz do Arari (1973-1981) filho do feliz casamento entre a necessidade e o acaso: o tal ecomuseu do padre Gallo foi inventado no berço mesmo onde nasceu a Cultura Marajoara (ver Giovanni Gallo, Motivos Ornamentais da Cerâmica Marajoara, edição de 2005 com prefácio de Denise Schaan).

Giovanni Gallo (Turim, 1927 - Belém do Pará, 2003) morreu sem saber que ele havia criado - "sem querer querendo" -. o primeiro ecomuseu da Amazônia. Este inusitado museu no fim do mundo logo se transformou em museu comunitário e o padre teimoso, em meio a conflito com o prefeito municipal e o bispo diocesano, mudou-se de mala e cuia levando o museu rio abaixo dez anos depois de invenção na margem do lago Arari para ir se albergar em Cachoeira situada no médio curso do rio, onde ocupou uma fábrica falida e abandonada dos chamados "incentivos fiscais" do Plano de Desenvolvimento da Amazônia.

Um verdadeiro mutirão foi necessário para transformar as ruínas da fábrica Oleica no atual Museu do Marajó reaberto ao público no ano do Sesquicentenário daquele município, em 1984. Um museu fora de série iniciado onde, há mais de mil e quinhentos anos, a Cultura Marajoara pré-colombiana nasceu. Refeito no chão do "índio sutil" Dalcídio Jurandir (Ponta de Pedras, 1909 - Rio de Janeiro, 1979) onde em 1680 se levantou o primeiro curral de gado na ilha do Marajó, no rio Mauá, tributário da margem esquerda do rio Arari: aí nessa paragem da sesmaria do capitão-mor da capitania da Ilha Grande de Joanes (1665-1757), André Gavinho; surdiu-se a fazenda Ananatuba dando lugar, mais tarde, à freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Cachoeira do rio Arari (1747), origem do município de Cachoeira do Arari. 

Vale lembrar que até então, apesar da tomada de Gurupá aos holandeses e consequente expulsão dos mesmos acompanhados de ingleses e irlandeses (entre 1623 a 1647); apesar da suposta da paz entre portugueses e seus "índios cristãos/' (tupinambás) com os rebeldes Nheengaíbas (1659) e, finalmente, apesar da capitania hereditária da Ilha Grande de Joanes (1665); nenhuma sesmaria dada foi ocupada no Marajó antes de 1680. Os 'índios bravios, desertores e escravos refugiados nos centros da ilha' - mocambos! -, não deixaram colonos se apossar da ilha invencível. Belém do Pará havia 64 anos desde a sua fundação por soldados portugueses e guerreiros tupinambás que receberam o capitão-mor Castelo Branco, ajudado pelo francês Charles des Vaux, de braços abertos e prontos para ir a guerra contra os inimigos hereditários Nheengaíbas.

Só o carpinteiro português Francisco Rodrigues Pereira, teve coragem bastante para sair de sua rocinha na periferia de Belém e se meter numa canoa com algumas cabeças de gado e cavalos cabo-verdianos para atravessar a baía do Marajó rumo ao rio Arari a ser lá o que Deus quisesse... O pioneiro da pecuária marajoara contrariou conselhos de amigos dizendo eles do perigo dos índios existentes naquela ilha grande onde o sol se põe... Eram os belicosos Aruã supostos exterminadores da "fase" ceramista Marajoara; a causa do medo dos colonos, índios pintados como canibais selvagens dentre todos os mais "ferozes" falantes da "língua ruim" (línguas aruaques). Embora não se ache claramente escrito com todas as letras, na crônica da época colonial, a fonte de tais notícias depreciativas do inimigo "nheengaíba" só poderia ser do valente tupinambá, conquistador da terras dos Tapuias; sem o qual não se fazia nada no Grão-Pará inteiro. Inclusive, sem índio tupinambá branco não ia sozinho na selva caçar tapuia para "negro da terra" (escravo indígena). A Casa das Canoas foi um cativeiro tremendo que não se poderia fazer sem arqueiros e remadores tupinambás. Português dependia de índios para um tudo...

A dialética da guerra no maior rio da Terra estava posta. O "marayu" (malvado, na tradução do tupi) - provável origem do nome étnico Marajó -, este "nheengaíba" tremendo guerrilheiro de emboscada, matador de guerreiros da nação Tupinambá, armado de zarabatana feita de raiz de paxiúba (Socratea exorrhiza) e dardos de tala de patauá (Oenocarpus bataua) envenenados de curare, estancou a invasão das ilhas pelos tupi e retardou a colonização de Analau Yohynkaku pelos cariwa (ibéricos). 

Como se sabe, o governador da ilha Hispaniola ('Ayti" dos Tainos, atual Haiti e República Dominicana) Gonzalo Fernandes Oviedo aventou a provável hipótese dos índios da foz do rio das Amazonas terem se vingado do ataque a Marinatambalo (Marajó) e captura de seus parentes como escravos em Hispaniola cometido por Pinzon, em 1500, atacando a expedição de Orellana (1542), desde que os dois bergantins espanhóis se aproximaram das ilhas do delta-estuário. Os descobridores do rio das Amazonas passaram debaixo de uma nuvem de flechas até varar para o Oceano; uma destes flechas arrancou um olho a frei Gaspar de Carvajal, então escrivão da aventura e futuro bispo de Lima (Peru).

Havia guerra antiga entre índios do Marajó de um lado e da outra margem do Rio Pará há muito tempo antes da passagem do navegador Vicente Pinzón (janeiro de 1500), quando o piloto de Cristóvão Colombo assaltou a ilha Marinatambalo (Marajó) donde foram levados os primeiros 36 "negros da terra" (escravos indígenas) da América do Sul. Com a chegada de mercadores holandeses e franceses a velha guerra entre índios se alastrou misturada ao conflito exportado da Europa por motivo do "testamento de Adão" (tratado de Tordesilhas de 1494). Holandeses protestantes (evangélicos) em fins do século XVI, praticando escambo fizeram-se amigos dos Nheengaíbas, enquanto que na ilha de Upaon-Açu (São Luís do Maranhão) Tupinambás, nos inícios do século XVII, convidaram corsários franceses que os visitavam a vir morar junto às suas aldeias: era. sem dúvida, a guerra contra o invencível Marajó que motivava pajés tupinambás aconselhados pelo espírito Jurupari a se aliar aos Mayr (louros, franceses) na ambição de conquistar a Terra sem males em direção agora do Araquiçaua (lugar onde o sol adormece) ... Prova disto é que, sem perda de tempo, os ditos tupinambás deixaram de lado amigos franceses e passaram para o lado dos odiados Peró (papagaio, portugueses), quando da tomada do Maranhão (1615) ajudando sem pestanejar o capitão-mor do Rio Grande do Norte, Francisco Caldeira de Castelo Branco a levantar o forte Presépio (1616), núcleo fundador de Belém do Pará, de olho já na ilha grande dos Nheengaíbas: pedra no caminho, evidentemente. Sem adivinhação não se vai a lugar nenhum na invenção da Amazônia...

Poucos sabem que o povo de Analau Yohynkaku , dentre outros "nheengaíbas" da Babel de línguas "dificultosas" saídas do bucho da Cobragrande na lenda da primeira noite do mundo; começou a chegar nas ilhas do delta-estuário do Amazonas por voltas 1300, segundo o esquema de fases da arqueologia marajoara. De todos os indígenas do Marajó, os belicosos Aruã foram os piores (aos olhos de tupinambás conquistadores e de colonos portugueses, naturalmente); logo após vinham os Anayá [senhores do rio Anajás, que se devia chamar rio dos Anajás]... A ilha outrora dos Nheengaíbas, logo passou a ser chamada dos Aruans, antes de ser Ilha Grande de Joanes e, finalmente, ilha do Marajó. Ilha-mundo, ilhas e terra-firme... O problema para as gentes das ilhas é que a "boa língua" Nheengatu era fruto do olhar de seus inimigos e hoje das muitas línguas e da diversidade de culturas da "língua ruim" Nheengaíba só restaram "cacos" (fragmentos) da babel perdida...

Quando os famigerados aruans chegaram ao Marajó de minha avó tapuia - na altura de 1300 -, os sítios arqueológicos de cerâmica marajoara já existiam qualquer coisa como há mil anos passados! Desde que eles puseram os pés na tal Analau Yohynkaku chamada pelo velho Anselmo José, os rixentos Aruã quebraram pau contra os habitantes das ilhas. E, pouco a pouco, lhes empurraram desde a costa Norte e da Contracosta para a beira da baía do Marajó, na costa-fronteira do Pará segundo a "linha" de Tordesilhas, onde as mais velhas etnias resistiram e hoje seus descendentes resistem sem mais entender "nheengaíba" ou "nheengatu" e nunca ouvir falar do célebre testamento de Adão entre hispânicos e lusitanos repartindo o mundo entre si... 

Nós, os cabocos saídos do mato, aprendemos a falar português ditado pela "Santa Férula" (palmatória). Era o terror civilizador no Diretório dos Índios (1757-1798)... "Você fala Tupi?" - pergunta o padre Gallo pela voz muda do mural no Museu do Marajó. Nós todos falamos Tupi a par de Grego e Latim sem saber, talvez um pouco da língua "morta" dos antigos nheengaíbas infiltrada e misturada ao esperanto amazônico que um dia se chamou a Língua-Geral... 

A história da Amazônia Marajoara não se pode escrever igual a outras histórias das regiões amazônicas, pois além da extraordinária complexidade e da grande carência de fontes confiáveis; o viajante não deve temer suposições, lendas e imaginações... Do contrário não sobra nada, ou quase nada. Não se tem lá muita coisa para contar. Imagina o drama do padre Antônio Vieira para mandar dizer ao rei dom Afonso VI o que disse e do jeito barroco como escreveu, el-rei ainda na menoridade, um menino deficiente pelas sequelas da provável meningite; feito rei sem que ele quisesse; por um fado terrível. Pobre menino rico que gostava de brincar na rua com meninos de rua e lhe não deixavam livre. Seguido dia e noite por amos, pajens e serventes... Que amava um íntimo amigo italiano de má fama e não queria deitar com a rainha consorte: mentecapto feito rei contra vontade pela morte do príncipe herdeiro, seu irmão de sangue, dom Teodoro... Então, este infeliz monarca em plena infância roubada pela realeza lá iria querer saber da carta "inverossímil" do padre grande dos índios do Maranhão e Grão-Pará? Tenha dó!

O que se passava de fato nas aldeias da missão do Maranhão e Grão-Pará, na segunda metade do século XVII, na verdade é mistério... No século XVIII não se adiantou lá muita coisa na Ilha Grande de Joanes: tudo eram ainda muitas suposições e o naturalista de Coimbra Alexandre Rodrigues Ferreira deixou a famosa Notícia Histórica da Ilha Grande de Joanes, ou Marajó (separata da famosa Viagem Philosophica, de 1783 a 1702), que não se lê porque antes vivia trancada a sete chaves e agora que está digitalizada e franqueada ao público, a gente marajoara é analfabeta a 50% da população ou não tem acesso à internet... Quem tem não se interessa.

Nós somos agora os nheengaíbas do século XXI... Por isto não sabemos que sabemos falar Tupi-Guarani. Ainda acreditamos nas patranhas de nossos avoengos tupinambás comedores de gente, que jogaram nas costas dos inimigos aruãs o costume de comer carne humana. Estes uns, depois de ser falsamente acusados de devorar o primeiro jesuíta que desembarcou na dita ilha, o padre Luiz Figueira e seus 11 companheiros do naufrágio da Baía do Sol, e o mesmo padre Vieira deu curso à infâmia para enfim se render ao suposto cacique Piyé dos Mapuá (talvez personagem inventado pelo padre grande para dar voz a todos Nheengaíbas perseguidos e escravizados no cativeiro da Babilônia amazônica).

No prefácio escrito à edição póstuma da obra do padre Giovanni Gallo, Motivos Ornamentais, em 2005, a arqueóloga Denise Schaan, demonstrou sobejamente a importância dos "cacos de índio" para ressignificar a antiga Cultura Marajoara. Ou seja, adotar método da neurolinguística a fim de atribuir novo significado a acontecimentos através de mudança de certa visão de mundo. Pois foi isto que o daltônico padre Gallo fez com o seu estúrdio museu...E nós, depois de 360 anos de pazes com os índios do Marajó, ignoramos ainda como os próprios marajoaras chamavam à sua ilha ancestral, exceto um fragmento da extinta língua Aruã coletado por Domingos Soares Ferreira Penna ao ouvir da boca de um velho aruã chamado pelo nome de batismo cristão Anselmo José, em fins do século XIX, na vila de Chaves (outrora aldeia dos Aruans), que teria respondido ao fundador do Museu Paraense Emílio Goeldi que a ilha em tela era chamada por aquele povo como Analau Yohankaku. O que significa este nome não se sabe: poderia ser qualquer coisa em memória dos velhos donos da ilha quando os Aruã a conquistaram, os Yona (Joanes, na corruptela em português) ou Sacacas... Quem sabe?


A mensagem de Piyé Mapuá não chegou a Lisboa.

Poderá a mensagem tardia do cacique dos Mapuá, em nome da confederação nheengaíba, em resposta à carta do Padre Vieira aos Nheengaíbas; chegar no Sínodo da Amazônia no estado do Vaticano? Vamos admitir, a suposta carta-patente enviada aos caciques em mãos de dois "embaixadores" (cativos do seminário de Santo Alexandre) da mesma nação indígena é um completo artifício. Todavia, o que nos importa saber agora é que a cidade de Belém do Pará queria a "guerra justa" (extermínio e cativeiro) contra supostos índios piratas chamados "nheengaíbas" que, supostamente afundavam canoas de "drogas do sertão" (coleta de cacau, castanha do Pará, urucu, pimenta, etc. na floresta) e "tropas de resgate" (eufemismo para caçadores de escravos)... Isto porque, neste momento, a polícia fluvial tem base em Breves para combater novos nheengaíbas, ou seja, piratas de rio...

Um requerimento da Câmara de Belém do Pará chegou ao rei e este despachou favoravelmente, mandando ao governador do estado do Maranhão e Grão-Pará, André Vidal de Negreiros; levar a tal guerra à ilha dos Nheengaíbas... Vidal de Negreiros era mameluco pernambucano como muitos "portugueses" da época, filho de pai português e mãe tupinambá. Tencionava, mudar a capital do Pará para Joanes (isto é, a ilha do Marajó). Porém, os vereadores de Belém não aceitaram... Vieira era amigo de Andre de Negreiros e conseguiu adiar o começo da guerra aos Nheengaíbas: foi dado a Vieira curto prazo para tentar a paz. Esta parte da história é longa e eu já escrevi um ensaio chamado Novíssima Viagem Filosófica (1999) contando o que acho a respeito.

Muitos acham que a suposta Paz de Mapuá (Breves), de 27 de agosto de 1659 não tem interesse acadêmico. Eu, entretanto, acho que esses deveriam estudar a história da missão do padre Antônio Vieira na Amazônia por completo, evitando "cacos" e omissões. Se disserem que realmente não houve pazes, carece compreender que também a "guerra justa" não prosperou, fulminada logo pelo parecer do Padre grande que declarou ser "uma guerra impossível de vencer"... Prova-se que Vieira saiu vencedor do Pará, apesar de expulso violentamente (1661) e entregue a seus inimigos no tribunal da Inquisição (cf. sua defesa inicial, a História do Futuro e a inacabada obra ecumênica A Chave dos Profetas). A este propósito, ler Silvano Peloso em "Antônio Vieira e o Império Universal", "A Clavis Prophetarum e os documentos inquisitoriais". Quando mais não seja, a existência atual de Melgaço (aldeia de Aricará) - o pior IDH dos 5.570 municípios brasileiros -, e de Portel (aldeia de Arucará); duas antigas aldeias missionárias fundadas pelo padre Antônio Vieira com índios nheengaíbas vindos do rio Mapuá, conforme a carta a el-rei; nos mostra que se a história claudica, a geografia repõe acontecimentos embora ela esconda as consequências. E, ainda, Aricará e Arucará podem ser nomes dos respectivos tuxauas fundadores, conforme costume daquela época amanhecente da invenção da Amazônia Marajoara.

Então, o Sínodo Para a Amazônia terá notícia da Amazônia Marajoara desde suas origens até a crise mundial atual? É certo que, entre os dias 6 e 27 de outubro vindouro, os dois bispos marajoaras, dom Teodoro Mendes, da Diocese de Ponta de Pedras e dom Evaristo Splenger, da Prelazia do Marajó, deverão se encontrar no estado do Vaticano, em Roma, em atendimento à convocação feita pelo Papa Francisco para ouvir os bispos católicos do mundo a respeito desta região planetária em crise, que guarda a mais importante floresta tropical da Terra, seguida da bacia do Congo. Os oponentes do Papa e dos defensores das florestas e dos povos da floresta são bem conhecidos nas Américas, África, Ásia e na Europa.   





Não era só uma ilha grande atravessada na boca do imenso rio das Amazonas habitada por muitas gentes de línguas 'dificultosas', chamadas geralmente Nheengaíbas (falantes da "língua ruim", no dizer preconceituoso de seus inimigos tupis informantes dos colonizadores)... Esta brava gente nuaruaque havia por inimigos hereditários os Galibis (Caribes) pelo Norte e os guerreiros Tupinambás pelo Sul: ambos, diga-se de passagem, praticantes da Antropofagia da qual Aruaques em geral, como os tais 'nheengaíbas", eram vítimas preferenciais invejados pela bravura de seus guerreiros e o conhecimento das mulheres na fabricação do cassave (beju) de mandioca brava, do curare (veneno para flechas) e a arte cerâmica, notadamente dos camotis (urnas funerárias), base da antiga religião dos ancestrais e origem da Pajelança marajoara.

Na verdade, se trata do maior arquipélago fluviomarinho do planeta Terra, somando mais que duas mil e tantas ilhas, grandes e pequenas, ilhas de Fora (marítimas) e de Dentro (fluviais); o Marajó velho de guerra com 500 comunidades locais e meio milhão de habitantes levanta-se no Golfão Marajoara (cf. Aziz Ab'Saber) e entra pela Terra-Firme (continente) adentro, empurrando-se na Floresta Amazônica através do rio dos Pacajás e do Anapu até as ilhargas dos grandes rios Tocantins e Xingu perfazendo território equatorial maior que o estado do Rio de Janeiro, por exemplo. Ou que o "reino de Portugal", no dizer barroco do padre Antônio Vieira na carta "inverossímil" a El-Rei datada do Pará em 29/11/1659 e publicada em 11/02/1660 em Lisboa.

Em primeiro lugar, o leitor deve estar atento à famosa "lábia" do padre; ter em mente que ele praticamente não havia ninguém com quem trocar ideias no labirinto amazônico, há 360 anos passados... Em segundo lugar, Vieira carecia impressionar a Corte distante, ele endereçou a missiva (de fato, um relatório sobre o estado da Missão jesuíta, provavelmente a preparar seu retorno a Europa) ao rei menino sob regência de sua mãe, viúva de dom João IV, dona Luísa de Gusmão). Em abril daquele ano, Vieira em viagem a Cametá sob impacto da morte do rei amigo e protetor decide correr o formidável risco de se inspirar no poeta profeta da vila de Trancoso, o sapateiro Bandarra; a fim de promover a "ressurreição" de dom João IV, que nem o trovador ressuscitou a dom Sebastião em trovas imortais escritas na memória viva do povo português... Foi assim que, o relutante Conde de Bragança incorporou a profecia do sapateiro e se tornou rei dom João IV de Portugal. Um pajé talvez na mesma canoa a caminho de Camutá (Cametá) diria que um caruana 'assoprou' o payaçu. O dito padre, certamente, lembraria o famoso 'estalo' aos pés da Virgem no seminário dos jesuítas da Bahia de Todos os Santos, sentindo-se ele bafejado pelo divino Espírito Santo.

Vieira, então, escreveu a famosa carta secreta ao bispo do Japão, seu confidente, cinco meses apenas antes das pazes com os rebeldes Nheengaíbas! De modo, que a carta secreta onde ele brada "Bandarra é verdadeiro profeta!" e anuncia o Quinto Império do mundo, pela qual seus inimigos o levaram ao cárcere e condenação pelo tribunal da Inquisição por heresia judaizante; a carta de novembro de 1659 serviu para enfurecer colonos do Pará, desenganados da "guerra justa". Esta exasperação colonial é prova da cegueira que o padre dos índios denunciou em São Luís do Maranhão, no Sermão aos Peixes (1654), a caminho de Lisboa onde foi pedir e trouxe a lei real de 1655 para abolição dos cativeiros indígenas. Nas entrelinhas de ambas cartas ainda se pode observar sutil influência das Esperanças de Israel, do rabino português de Amsterdã, Menassé ben Israel (nascido cristão-novo Manoel Soeiro, na ilha da Madeira), com a tese de que os índios americanos seriam descendentes das tribos perdidas do cativeiro da Babilônia. Motivo pelo qual Vieira que advoga a liberdade dos índios defendeu a escravidão dos pretos, sendo ele neto de uma escrava em Portugal.

Na verdade, a Carta do padre grande dando notícia da ilha dos Nheengaíbas (marajoaras) é fantástica! Apesar de menosprezada pela colonialidade dos nossos historiadores, deve ser considerada no campo da literatura e da antropologia pelo menos. Ela, sem dúvida, está no contexto das consequências históricas da morte do rei dom João IV para a missão da Companhia de Jesus no estado colonial do Maranhão e Grão-Pará (Amazônia portuguesa). 

A dita Carta fala principalmente das dificílimas negociações de paz entre a cidade de Belém do Grão-Pará e a tal Ilha dos Nheengaíbas (Marajó), consumadas enfim no rio dos 'Mapuaises' [Mapuá], no dia 27 de agosto de 1659. Lá se foram 360 anos! E pouca gente ainda se interessa por estes fatos, dizendo alguns estudiosos que tiveram a notícia de Mapuá que a mesma não tem interesse acadêmico... Na realidade, os acadêmicos não se interessam pelo protagonismo histórico dos "índios". 



Imagem relacionada

gravura sobre a expulsão do padre Antônio Vieira e dos jesuítas do Pará (1661).

E por que não? Porque o "payaçu dos índios" pinta os supostos Nheengaíbas (indígenas marajoaras) na qualidade de senhores de sua própria história e senhores de seu território. Melhor tratar a utopia evangelizadora do padre da heresia judaizante - autor da História do Futuro - a fim da Criaturada grande de Dalcidio ainda ter futuro na terra de seus antepassados.